sexta-feira, outubro 15, 2021
COISAS VERDADEIRAS (True Things)
Filmes que tratam de relacionamentos tóxicos ou abusivos -, de homens sacanas, mais especificamente - tivemos dois excelentes nos últimos anos: a pedrada UM AMOR IMPOSSÍVEL, de Catherine Corsini, e o sofisticadíssimo THE SOUVENIR, de Joanna Hogg. Os dois dirigidos por cineastas mulheres. O último, inclusive, baseado em experiências reais da diretora. Coincidentemente (ou não) com o mesmo ator deste COISAS VERDADEIRAS (2021), Tom Burke.
Ao que parece, a escolha de casting também se aplica a Ruth Wilson, se lembrarmos de seu papel na série THE AFFAIR. Aqui ela é uma mulher que se vê apaixonada por um sujeito pouco confiável (uma das poucas coisas que ela sabe dele é que o homem passou um tempo preso), mas que a ganhou com os primeiros atos ousados, que de alguma maneira, provavelmente, já faziam parte do imaginário dela.
Um dos maiores méritos do filme da diretora Harry Wootliff é nos deixar interessados na trama do início ao fim. Ou seja, não é desses filmes que requerem tanta energia do espectador do ponto de vista narrativo. Talvez até haja algo de vulgar no filme. Em alguns momentos ele lembra uma daquelas obras estilo “Supercine”, com uma expectativa de que vá subir para um suspense típico dos anos 1980. Acaba enganando, felizmente, e enfatizando as questões psicológicas de Kate, a protagonista vivida por Wilson.
Há uma curiosidade no enredo, que não havia prestado atenção até ler uma crítica do Papo de Cinema, que é o fato de que Blond, o personagem de Burke, nunca aparece enquanto ela está com alguém do convívio de Kate. Ou seja, ele pode ser uma construção de sua imaginação. Nem mesmo um nome de verdade ele parece ter. E esse detalhe acabou tornando o filme ainda mais interessante para mim, na jornada de Kate em busca da própria libertação, após um tempo psicologicamente longo de sofrimento e abuso, de se sentir maltratada e desprezada.
O filme é uma adaptação do romance True Things about Me, de Deborah Kay Davies, e foi exibido nos festivais de Veneza e Toronto.
+ DOIS FILMES
A TAÇA PARTIDA (La Taza Rota)
Filmes sobre discussões e separações matrimoniais quase sempre trazem momentos de tensão. E esses momentos seguem presentes por boa parte da metragem deste drama chileno, que começa com a chegada de Rodrigo, um homem inconformado com a separação, que chega para ver o filho e encontra resistência da mãe da criança. Afinal, ele estaria agindo contra o combinado. Depois de muita discussão, ele consegue entrar na casa e a partir daí somos convidados a testemunhar, com certa desconfiança, suas ações e suas intenções. Gosto de como A TAÇA PARTIDA (2021) utiliza um tipo de close-up diferente, alterando a janela de aspecto, para enfatizar os rostos dos personagens. Funciona como um substituto do zoom ou de um corte mais habitual de um plano médio para um primeiro plano. Direção: Esteban Cabezas.
ARMUGAN
A jornada dos dois homens, o Armugan do título, que não consegue andar, e seu amigo ou servo Anchel, que o carrega nas costas pelos pirineus aragoneses, é quase tão dura para o espectador quanto é para essas duas pessoas. E também para aqueles a quem eles prestam seus serviços espirituais. De certa forma, poderíamos ver isto como um problema para ARMUGAN (2021), mas há tanta beleza nas imagens em preto e branco, e também tanta coragem em tratar a vida como uma imensa cruz que se carrega sem se poder reclamar e a morte como uma libertação, que é quase inevitável não se sentir um tanto triste diante de ambiente tão carregado. Direção: Jo Sol.
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