sábado, março 14, 2020

QUATRO SÉRIES E UMA MINISSÉRIE

Dias perturbadores esses. O mundo parece estar vivendo uma espécie de apocalipse, com essa história do Corona Vírus, cancelamento de estreias em todo o mundo, várias escolas e universidades fechando as portas sem tempo definido, um prejuízo de bilhões em todo o mundo, e talvez uma festa, pelo menos por enquanto, para o mercado de streaming, já que as pessoas tenderão a ficar em suas casas, em isolamento. E dentro desse mercado boa parte das séries mais badaladas estão presentes. Todas essas mereceriam um destaque especial, mas infelizmente tem me faltado ânimo e energia. Aproveitemos este momento para comentar um pouco sobre essas produções.

LOCKE & KEY - PRIMEIRA TEMPORADA (Locke & Key - Season One)

A Netflix conseguiu trazer um projeto que estava com muita dificuldade de ver a luz. Há muitas histórias sobre o quanto a adaptação do pequeno clássico de Joe Hill e do desenhista Gabriel Rodríguez teve problemas em encontrar a TV (e no cinema). Primeiro com a Fox, que conseguiu fazer um piloto dirigido por Mark Romanek, mas que não conseguiu passar disso. Até se pensou em fazer uma trilogia de filmes, mas não vingou. Depois a Hulu tentou decolar o piloto, trazendo Carlton Cuse para a produção e Andy Muschietti para a direção, mas também não vingou. A Netflix apareceu e salvou a pátria, com Cuse se juntando a Meredith Averill como showrunners. E o resultado foi muito bom. LOCKE & KEY (2020) ganhou um apelo juvenil considerável, mas sem perder a beleza, o horror e o encanto que são características da obra original. Ainda que cheia de elementos de fantasia, e apresentando várias chaves mágicas com um forte teor de fábula, é o horror que predomina nesta história envolvendo uma família que volta para uma mansão deixada pelo pai, depois que ele é assassinado. É lá que eles descobrem chaves mágicas e também uma entidade maligna disposta a tudo para ter essas chaves. Pode parecer bobagem, mas é fácil se envolver com os personagens, que ganham muita força quando mostrados em suas fraquezas, como é o caso de Kinsey (Emilia Jones), a minha personagem favorita. E não só por ser linda. Mas aquela história de entrar na cabeça para se livrar do medo me deixou fascinado. A série sofre um pouco de uma barriga lá pelo meio, mas os dois últimos episódios são tão empolgantes, que fica difícil não ficar com uma ótima impressão. Que bom que no final tudo deu certo para a adaptação complicada deste trabalho de Joe Hill. Agora eu quero ler todas as HQs. Aliás, já estou com todos aqui do lado, esperando o momento certo, graças à generosidade de meu amigo Zezão.

INACREDITÁVEL (Unbelievable)

O que me deixou mais impactado emocionalmente em INACREDITÁVEL (2019) foi a solidão imensa da personagem da jovem Marie, vivida com brilhantismo por Kaitlyn Dever (a mesma do querido FORA DE SÉRIE, de Olivia Wilde). É uma menina que é estuprada e depois meio que forçam-na a dizer que mentiu sobre o ocorrido. Então, por mais que a partir do segundo episódio tenhamos uma ótima trama policial em busca do serial rapist, as vezes em que Kaitlyn aparece continuam pesando muito para a força da minissérie. Mas nada pode tirar o mérito das duas investigadoras, vividas pelas carismáticas Merrit Wever e Toni Collette. É muito bonita a relação que se estabelece entre elas diante de algo terrível. Não consegui deixar de chorar no final. Uma pedrada bem dada. Ainda bem que o Globo de Ouro deu destaque. Não fosse por isso, não teria chamado minha atenção. Mais um acerto da Netflix, que tem o hábito de apresentar muita coisa descartável, e por isso é preciso ficar de olho nos ótimos projetos que surgem.

SERVANT - PRIMEIRA TEMPORADA (Servant - Season One)

A trama de SERVANT (2019-2020) parte de algo que já foi visto em um terror B recente, BONECO DO MAL. Mas aí depois se revela algo muito mais sofisticado e interessante. Na trama, casal usa um boneco depois do trágico falecimento de seu filho recém-nascido. A mulher sofre de trauma e essa parece ser uma solução para ela acreditar que aquilo é um bebê de carne e osso. Um dia eles resolvem contratar uma babá. E as coisas mudam demais para eles. A menina que faz a babá (Nell Tiger Free) é ótima, passando tanto algo de perturbador e também de inocência. E o casal também (a atriz é Lauren Ambrose, a caçula da família da excelente A SETE PALMOS, de Allan Ball). Coincidência ou não, os dois episódios melhores são os dirigidos por M. Night Shyamalan, o primeiro e o nono. São mais bonitos plasticamente e os mais importantes do ponto de vista da trama/revelações. Ainda são guardadas algumas revelações para a próxima temporada, e eu não sei o quanto isso é bom. Por mais que os episódios sejam de meia hora, estender demais o mistério é para poucos e bons. Lançamento da Apple TV+.

MR. ROBOT - TEMPORADA 4 (Mr. Robot - Season 4)

Uma pena não ter me forçado a escrever com mais profundidade sobre esta última temporada de MR. ROBOT (2019). Ao final da série, fiquei tão impressionado e com o cérebro fervilhando com tanta informação que o episódio duplo trouxe, que deveria ter escrito algo, nem que fosse no calor do momento, embora a série seja bastante racional e necessite de uma mente mais centrada em fatos complexos. Acredito que Sam Esmail, como diretor de quase todos os episódios de sua criação, fez aqui sua obra-prima. Não sei se ele conseguirá se superar, mesmo estando no começo da carreira, ou se se encaminhará para outros projetos no cinema. Afinal, seu estilo faz muito mais o gênero cinema do que televisão. É muito ousada para a TV. Gosto de como esta temporada entrou mais na cabeça de Elliot e menos nas disputas com o Dark Army, embora tenha sido lindo o momento da transferência. Há um episódio especialíssimo (além dos dois finais), que é o episódio todo centrado em uma revelação do passado traumático do personagem, cara a cara com sua psicoterapeuta. Até a janela de aspecto mudou neste episódio (ficou em scope). Mas não pude deixar de me entusiasmar com a loucura que foram os dois últimos (os três, na verdade). E o final foi fantástico! Obrigado, Sam Esmail, Rami Malek, Carly Chaikin e todos os envolvidos.

MODERN LOVE - PRIMEIRA TEMPORADA (Modern Love - Season One)

John Carney continua sua especialização em unir o doce das histórias de amor com o agridoce das situações da vida, dos relacionamentos complicados etc. Mas, curiosamente, o episódio que mais me tocou não foi dirigido por Carney, mas pela atriz Emmy Rossum, que é aquele da garota que se aproxima de um homem mais velho por carência que teve do pai, que morreu cedo. Achei uma pequena pedrada. Talvez por eu já sentir o peso da idade, apesar de não ter passado ainda para a casa dos 50. Outro que me emocionou, ainda que muito simples, é o estrelado por Dev Patel e Catherine Keener, em que eles contam suas histórias de amor um para o outro. Alguns episódios são bastante centrados em diálogos mais longos, o que também é ótimo, como o da Tina Fey ou o da Sofia Boutella. E é emocionante também a história do casal gay que quer adotar uma criança. Ah, não dá para esquecer o mais inventivo de todos os episódios, o estrelado por Anne Hathaway, que brinca com o musical para tratar de um assunto muito sério, o de alguém vivendo com transtorno bipolar. Lindo, lindo.

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