Quando Stephen Chbosky ficou famoso com seu emocionante retrato de jovens com sentimento de inadequação, AS VANTAGENS DE SER INVISÍVEL (2012), causou surpresa com o fato de ele ser ao mesmo tempo o autor do romance e o roteirista e diretor. Revelou-se, então, um novo e sensível talento. EXTRAORDINÁRIO (2017) chega para confirmar que Chbosky sabe também pegar a obra de outra pessoa, no caso o romance homônimo de R.J. Palacio, e transformar em um filme que transborda amor.
EXTRAORDINÁRIO é capaz de deixar o espectador com vontade de abraçar os amigos, os familiares. É um tipo de cinema que pode ser visto como ultrapassado, mas que na verdade é um tipo de cinema arriscado, já que para perder a mão em um melodrama é muito fácil. Como o diretor já havia se mostrado um artista extremamente sensível no trato com as pessoas que se sentem excluídas ou diferentes, não foi tão difícil assim a tarefa de contar a história de um garotinho que nasceu com o rosto deformado e que encara pela primeira vez uma escola.
A estrutura do romance está bastante presente no modo como o filme apresenta carinhosamente os personagens e os aprofunda. Isso é tanto encantador quanto revelador. No começo, quando pensamos que é o filme é só sobre Auggie (Jacob Trembley), o garotinho, até podemos pensar que o filme é muito quadrado, mas a apresentação do ponto de vista da irmã do Auggie já mostra que há mais camadas, há mais a oferecer.
Claro que o sofrer de Auggie é diferente, ninguém quer estar na pele dele, mas ao mesmo tempo é muito bom a gente chegar até o final e ver o seu sentimento de gratidão, depois de ter passado por uma trajetória muito difícil numa escola que o recebeu principalmente com bullyings, mas depois com as amizades e as conquistas.
Podemos dizer, então, que EXTRAORDINÁRIO é um filme sobre conquistas. A cena final de Auggie, seu agradecimento, por mais que aquilo ali fuja de algo realista - na verdade, a melhor descrição é mesmo a de Mark Cousins, autor de História do Cinema, chamando o cinema hollywoodiano tradicional de "realismo romântico fechado", e não cinema clássico, como alguns preferem. Nesse realismo romântico fechado, há enfeites de maneira que tudo pareça mais bonito, para poder chegar a um fim, no caso, mostrar uma espécie de lição.
E isso não é nenhum demérito. Há quem esteja, inclusive, lembrando de clássicos como A FELICIDADE NÃO SE COMPRA, de Frank Capra, e O SOL É PARA TODOS, de Robert Mulligan, em resenhas. De todo modo, sempre bom lembrar que uma das referências plasticamente mais associadas a EXTRAORDINÁRIO é MARCAS DO DESTINO, de Peter Bogdanovich, que trata de um adolescente que tem um rosto deformado, inclusive muito parecido com o rosto de Auggie.
Uma coisa que EXTRAORDINÁRIO nos faz lembrar é o quanto as amizades nos deixam mais fortes, o quanto estar sozinho ainda é muito difícil, principalmente para quem é jovem, para quem é criança ou adolescente. Você se sente mais forte quando você sabe que tem um amigo (ou amigos). E o filme trabalha de maneira muito pungente essa questão da amizade. Ou o quanto é doloroso se sentir traído por um amigo ou uma amiga.
O cinema, assim como a arte como um todo, é um instrumento que nos ajuda a nos tornamos pessoas melhores. Então, um filme como EXTRAORDINÁRIO talvez seja um dos exemplos mais explícitos desse tipo de obra que nos coloca no lugar do outro, traz o necessário sentimento de empatia, de compreensão do outro. E vale lembrar também que, antes de mais nada que estamos diante de um filme sobre vitórias. Não só a vitória do Auggie, mas também a vitória da mãe dele (Julia Roberts), da irmã (Izabela Vidovic), da amiga da irmã, e do quanto tudo isso é comovente e enriquecedor para a alma. Há uma cena em especial quando Auggie descobre que tem amigos. Não apenas um amigo ou dois, mas um grupo de amigos. Tratar essa história com tal sensibilidade é uma tarefa louvável.
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