sábado, maio 27, 2017

NÃO MATARÁS (Broken Lullaby)























A cinefilia, como, aliás, qualquer forma de arte ou conhecimento, acaba abrindo portas para novas e novas portas. Soube que o novo e elogiado trabalho de François Ozon, FRANTZ, é remake de um filme de Ernst Lubitsch que recebeu o título no Brasil de NÃO MATARÁS (1932). Fiquei imediatamente curioso e um título que nem estava nos planos de ser visto, de uma hora pra outra, acaba furando essa fila infindável e caótica que é a de ver filmes em casa.

NÃO MATARÁS, mesmo tendo os mesmos problemas da grande maioria das obras do início dos anos 1930, quando o cinema falado estava se instalando, ou seja, ainda um pouco engessado, há uma fluidez narrativa muito boa, que nos fisga desde o começo, mas que é preciso esperar até perto de sua meia hora de duração inicial para finalmente ficar encantado com a história e seus personagens.

No começo, somos apresentados a um homem atormentado, o francês Paul (Phillips Holmes), que está em uma igreja para se confessar para um padre sobre algo que o incomoda bastante: o fato de ter matado um homem durante a Primeira Guerra Mundial, um alemão, a quem ele chega, inclusive, a ler a última carta endereçada à noiva. Por mais que o padre lhe diga que ele estava apenas cumprindo seu dever e lhe dê absolvição do seu pecado, o inconformado homem resolve viajar e conhecer a família do homem que teima em aparecer em seus sonhos.

Assim, o filme se transfere de Paris para uma pequena cidade da Alemanha, onde mora um simpático e atencioso médico, o Dr. Holderlin, vivido pelo amável Lionel Barrymore. Aliás, o que seria do filme se não fosse Barrymore, este homem que parece transferir o sentimento de amor para a tela e para o espectador? Ele é o pai do rapaz morto na guerra por Paul. E, assim como todos em sua vila, nutre um ódio enorme pelos franceses, que venceram a guerra e tiraram as vidas dos jovens habitantes.

Na mesma casa também vive Elsa (Nancy Carroll), a jovem ex-noiva de Walter, o soldado falecido, que trata o sogro como pai. E já se imagina que o destino vai colocar Paul e Elsa juntos, tendo este segredo tão difícil de ser contado pelo rapaz francês no meio do caminho. Afinal, quem em sã consciência chegaria à casa de um soldado morto para dizer que ele mesmo fora responsável pela morte de um membro querido de uma família? Por mais que a história seja envolvente, acredito que falta ao filme um pouco mais de interesse em ingressar nas profundezas das dores de seus personagens. Tudo parece até leve para as circunstâncias, e depende um bocado da colaboração do próprio espectador para ligar os pontos que parecem faltar.

Mas há o mérito da economia narrativa. É tudo contado de maneira muito rápida e simples, com uma elegância na condução da câmera que não deixa de ser admirável para aqueles tempos de equipamentos pesados e de retrocesso na arte de contar histórias por meio de filmes. Quando percebemos já estamos no belo final. Além do mais, NÃO MATARÁS é um filme que levanta uma mais do que justa bandeira antibelicista. Ninguém sabia que aquele momento de paz era só uma trégua para algo pior que viria.

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