quarta-feira, maio 31, 2017

MELHORES AMIGOS (Little Men)























Ira Sachs, que anda conquistando boa parte da crítica desde pelo menos DEIXE A LUZ ACESA (2012), anda trilhando um caminho curioso em sua busca por chamar um público cada vez maior aos seus filmes de temática homoafetiva. Do seu primeiro filme de grande repercussão ao seguinte, O AMOR É ESTRANHO (2014), já se notava uma tendência do cineasta a se aproximar do mainstream, embora isso não seja exatamente um problema se a intenção é contar uma história em que o sexo não é um elemento tão importante. No caso, o mais importante é o amor entre os dois protagonistas.

E o mesmo acontece em MELHORES AMIGOS (2016), embora aqui não haja efetivamente uma relação de contato físico entre os dois meninos de 13 anos. Quase pode ser visto como um filme sobre amizade na adolescência sem a intenção de ver a história como sendo a do surgimento do primeiro amor, ou algo do tipo. Até porque o filme é muito sutil ao abordar essa amizade dos dois garotos.

Assim como em O AMOR É ESTRANHO, são questões de ordem socioeconômicas que fazem com que os protagonistas tenham seu relacionamento afetado. A trama nos apresenta primeiramente a Jake (Thoe Taplitz), um garoto que está se mudando para o Brooklyn com seus pais, vividos por Greg Kinnear e Jennifer Ehle. Os pais mudaram-se para essa nova casa, que foi deixada pelo patriarca, recém-falecido.

O velho alugava a preço barato um pedaço do edifício para uma mulher chilena (Paulina García) e seu filho Tony (Michael Barbieri, ótimo) cuidarem de uma pequena loja de roupas. A chegada dos filhos, que querem aproveitar mais o espaço e o potencial de lucro daquele lugar, acaba prejudicando a vida daquela família simples.

Os dois meninos, porém, sem saber o que acontece e vivendo suas vidas como pessoas daquela idade, sem as preocupações de adultos, acabam por se tornarem melhores amigos. E é justamente o modo delicado como o filme trata essa amizade que está o grande desafio e o grande mérito de MELHORES AMIGOS. No fim das contas, por mais que a história seja importante, é o que acontece no meio dos espaços entre os diálogos que torna o filme um dos mais bonitos trabalhos sobre a amizade na adolescência, esse espaço difícil em que a vida adulta começa a bater à porta.

É trazendo essa questão, a da iminência do futuro, que a cena mais bonita do filme é a de um diálogo entre Jake e seu pai, lá perto do final. MELHORES AMIGOS já nos havia ganhado forte àquela altura. E é difícil não ficar com os olhos marejados e o coração triste naquele momento. Só por isso filmes assim já merecem o nosso respeito. E esse ainda ajuda a elevar e trazer mais luz e interesse na filmografia passada e futura de Ira Sachs.

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