segunda-feira, abril 24, 2017

PAIXÃO OBSESSIVA (Unforgettable)























Impressionante como há obras que conseguem entrar numa categoria ímpar dentro do que costumamos chamar de filme ruim. PAIXÃO OBSESSIVA (2017), estreia na direção de longas da produtora Denise Di Novi, parece ter sido feito a partir da seguinte ideia: "ei, por que não fazemos um filme totalmente ruim, desses bem vagabundos mesmo, para lançar no mercado internacional? E aí a gente convida um par de atrizes mais ou menos do primeiro time de Hollywood, que dá tudo certo." Lembrando que Denise tem no currículo outro notável filme ruim, ainda que como produtora, MULHER-GATO (2004), que também conta com duas atrizes respeitadas em papéis constrangedores.

O grande trunfo de PAIXÃO OBSESSIVA é Katherine Heigl no papel de Tessa, uma “Barbie psicopata” (termo usado no próprio filme por uma das personagens) que faz de tudo para destruir o casamento do ex-marido (o apagado e inexpressivo Geoff Stults) com a sua nova noiva, Julia, vivida por Rosario Dawson. No começo do filme Tessa ainda não sabe que o relacionamento do ex está prestes a chegar a um casamento e logo que descobre passa a fazer coisas inimagináveis, como trazer de volta o grande pesadelo da vida de Julia, um homem que a espancou e que está sob uma ordem judicial para se manter distante.

A semelhança de PAIXÃO OBSESSIVA com alguns thrillers da década de 1990 é evidente, tanto que o gosto de café requentado e que desce mal permanece na boca o tempo inteiro, até o fim, horrível como tem que ser. Afinal, se é para ser ruim, que seja até o fim. A grande desvantagem deste longa em comparação com os demais thrillers que ganharam força naquela década – inclusive numa época em que fazer filmes direto para o mercado de vídeo não era tão ruim – era que naquele momento havia um apelo erótico muito maior e que hoje é minimizado devido aos novos tempos, embora de vez em quando seja possível ver um ou outro filme que aposte na sensualidade, como é o caso de outro suspense que também mostra casamento por um fio e um psicopata, O GAROTO DA CASA AO LADO, que explora bastante o sex appeal de J.Lo.

PAIXÃO OBSESSIVA não tem coragem e nem vontade de fazer o mesmo com Rosario e Katherine, ainda que insinue uma cena sensual muito sutil em determinado momento: a cena do banheiro do casal de noivos entrecortada com a conversa apimentada via Messenger dos dois psicopatas. Não há, claramente, a intenção de fazer uma cena erótica dali. Aquele momento é para ser psicologicamente perturbador para Julia e por isso a diretora usa uma montagem picotada que tenta trazer à tona o estado de espírito fora de controle da personagem. Na verdade, o filme até poderia ser acusado de ainda mais vagabundo se usasse esse momento para explorar a nudez ou a sensualidade de uma das atrizes.

No fim das contas, é possível se divertir com PAIXÃO OBSESSIVA. Não é o tipo ruim e chato, sendo possível funcionar como uma comédia involuntária. Se o espírito era talvez criar um filme deliberadamente ruim, é possível também sair de casa para ir ao cinema e ver um filme ruim para se divertir um pouco. Nos Estados Unidos, as poucas críticas positivas a esse trabalho se referem a ele como um "good trash". Ou seja, é filme com roteiro estúpido e manjado, intriga de telenovela barata, mas que ao menos sabe investir na briga entre as duas protagonistas, com a vantagem ainda de trazer Katherine Heigl para o lado negro da força, quase redimindo o resultado final e fazendo valer a espiada.

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