terça-feira, outubro 27, 2015
TRÊS FILMES DIRIGIDOS POR MULHERES
Bom perceber que num espaço tão machista quanto o cinema a mulher esteja lutando e conseguindo espaço na posição de diretora. E curiosamente os três filmes abaixo são brasileiros, o que passa uma impressão – será só impressão? – de que estamos mais à frente nisso do que os americanos, que têm pouca representatividade feminina atrás das câmeras (na posição de cineasta, digo). Nos três filmes abaixo, temos dois exemplos de alto talento: uma veterana, Ana Carolina, que se esforçou e fez um ótimo filme para ninguém ver (uma pena), e Juliana Rojas, um novo talento que ainda vai nos trazer muitas alegrias. Eu acredito nisso. Um pouco sobre os filmes, então.
A PRIMEIRA MISSA OU TRISTES TROPEÇOS, ENGANOS E URUCUM
Quem acompanhou o cinema brasileiro dos anos 1980 sabe o quanto o nome de Ana Carolina é importante. MAR DE ROSAS (1978), DAS TRIPAS CORAÇÃO (1982) e SONHO DE VALSA (1987) compõe uma das trilogias mais adoráveis de nossa cinematografia. Pena que ela tenha passado tanto tempo para voltar à direção depois disso, além de ser pouco reconhecida pelas novas gerações, ainda que continue fazendo um bom trabalho. A partir de AMÉLIA (2001) ela passou a voltar os olhos para o passado, ousando fazer filme de época no Brasil. A PRIMEIRA MISSA OU TRISTES TROPEÇOS, ENGANOS E URUCUM (2013) é um caso especial. Começa parecendo filme de época, mas logo vemos se tratar de uma filmagem, de uma comédia um tanto amarga sobre a dificuldade de fazer cinema no Brasil. E ela faz isso com inteligência, brincando com a metalinguagem e abusando do sarcasmo. Quando nada (ou quase nada) mais nos resta neste circuito de filmes invisíveis, o humor ainda pode ser uma arma. Ou um alento.
SINFONIA DA NECRÓPOLE
Quase entraria também na classificação de “filme invisível” brasileiro, SINFONIA DA NECRÓPOLE (2014, foto) nem chegou a ser lançado comercialmente aqui, embora tenha sido exibido em duas mostras: uma no Cinema do Dragão e outra no Cinema de Arte. O que já é alguma coisa. Sem falar que o nome de Juliana Rojas é um nome quente desde os tempos em que ela fazia apenas curtas-metragens (geniais) com seu amigo Marco Dutra. Aqui ela não deixa completamente de lado o gosto pelo cinema de horror, já que há elementos fantásticos na trama que se passa em um cemitério, mas seu filme é uma comédia musical, e com um repertório bem interessante. Trata-se de um objeto estranho em nossa cinematografia e talvez por isso não tenha sido tão bem recebido, embora eu conheça muitos fãs deste filme, que narra a história de um coveiro sensível (Eduardo Gomes) que se apaixona por uma especialista em reforma de cemitérios (Luciana Paes). Eles começam a trabalhar juntos, mas estranhos eventos os fazem acreditar que mexer com ossos dos mortos pode não ser uma boa ideia. De todo modo, eu torço pela volta de Rojas ao terror puro e dramático.
PEQUENO DICIONÁRIO AMOROSO 2
Sandra Werneck pode até não ter o mesmo prestígio das duas citadas diretoras, mas certamente tem filmes mais populares no currículo. Além do primeiro PEQUENO DICIONÁRIO AMOROSO (1997), Werneck ainda dirigiu AMORES POSSÍVEIS (2001) e CAZUZA – O TEMPO NÃO PARA (2004). Uma trinca de filmes que fez bastante sucesso comercial e que também não devem ser vistos como obras ruins ou coisa do tipo. São filmes mais acessíveis e clássico-narrativos, mas todos têm o seu grau de sensibilidade. Talvez o exemplar mais fraco dela seja justamente este PEQUENO DICIONÁRIO AMOROSO 2 (2015), em que assina uma codireção com Mauro Farias. O filme traz de volta os personagens Gabriel (Daniel Dantas) e Luiza (Andrea Beltrão) cerca de 20 anos depois. O reencontro dos dois faz reacender a chama da paixão, ainda mais agora que Luiza está com o casamento em crise e Gabriel está desanimado com a atual namorada. Pena que falte cor nesta sequência do sucesso noventista, mas há algo que certamente vai ficar como uma boa lembrança na mente deste que vos escreve: a cena de nudez de Fernanda Vasconcellos, que aqui interpreta uma jovem bissexual. A imagem que fica gravada na memória é uma das mais sublimes de 2015.
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