segunda-feira, outubro 19, 2015

A COLINA ESCARLATE (Crimson Peak)



Um sopro de beleza, de amor, de violência e de intensidade este A COLINA ESCARLATE (2015), uma das melhores surpresas que o gênero trouxe neste ano tão escasso de obras de grande importância. E ainda assim tem dividido bastante as opiniões de público e crítica. Mas isso é natural e fico à vontade em tentar mais do que defendê-lo: louvá-lo. Afinal, quando é que temos a oportunidade de ir ao cinema e nos depararmos com algo tão belo em tela gigante IMAX?

O que Guillermo del Toro faz é presentear os fãs do horror gótico de Roger Corman (as adaptações de contos de Edgar Allan Poe), bem como dos filmes da Hammer (o sobrenome Cushing não foi escolhido à toa) e de outros grandes nomes do cinema de horror europeu, como Mario Bava. Trata-se de uma homenagem, portanto, explícita, inclusive no modo como ele constrói seus personagens, que às vezes parecem um tanto exagerados em suas intenções, mas isso faz parte do charme de A COLINA ESCARLATE.

A direção de arte e da fotografia são impressionantemente estupendos em sua elegância, e por isso o local onde acontece a maior parte da trama é fundamental: um castelo decadente na Inglaterra. O castelo está sendo afundado por uma espécie de lama vermelha, que é a matéria-prima da obsessão de Thomas, o personagem de Tom Hiddleston, que planeja, junto com sua irmã Lucille (Jessica Chastain), conseguir dinheiro através de uma família rica de Nova York, casando-se com a jovem Edith (Mia Wasikowska). Na verdade, a ideia dos dois é ainda mais criminosa do que aparenta.

Uma das coisas que chama logo a atenção no filme é o modo como os monstros e os fantasmas são ao mesmo tempo horríveis e aterrorizantes, mas não tão aterrorizantes quanto os vivos, esses sim capazes de causar dor e morte. Edith é assombrada pelo fantasma de sua mãe, que surge parecida com a mãe de MAMA, não por acaso produzido por del Toro e com o toque a mais de sentimentalidade, algo que o cineasta mexicano parece não conseguir fazer. Suas mãos são tão rudes quanto a do pai de Edith, nesse sentido.

Mas o que del Toro carece em saber lidar com aspectos sentimentais, sobra em saber construir um conto macabro pontuado com uma violência gráfica que mancha a tela de vermelho. O vermelho, aliás, já se pronuncia desde o início do filme, quando vemos o logo da Universal todo em escarlate, apontando para a cor que seria a mais desejada por seu realizador, a mais valorizada.

A beleza das cenas sangrentas e violentas não encontra paralelos com o que é filmado no horror contemporâneo. Se quisermos estabelecer comparações nesse sentido teremos que buscar mesmo na Hammer, em Bava ou em Argento. E lembrando de Bava e de Argento, lembramos também da personagem de Jessica Chastain, a irmã fria e malévola que rouba a cena a cada instante em que aparece. Para muitos, Chastain faz uma composição exagerada, para outros, como eu, trata-se da melhor personagem do filme, a que mais se aproxima de um mal equiparado ao de bruxas de contos de fadas clássicos ou de filmes de horror góticos. Como não amar a sequência final de Chastain enfrentando a heroína num duelo mortal?

Del Toro também impõe sua autoralidade em todos os espaços, seja na sua obsessão por insetos, que se insinua desde seu longa-metragem de estreia, CRONOS (1993), passando por MUTAÇÃO (1997), A ESPINHA DO DIABO (2001) e O LABIRINTO DO FAUNO (2006), seja no cuidado com os detalhes e o cenário. E falando em labirinto, a mansão não seria também um, contando até mesmo com um elevador, além de outros segredos escondidos? Quem se permitir se entregar à beleza de A COLINA ESCARLATE certamente vai se sentir arrebatado e agradecido com tanto encantamento.

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