sexta-feira, setembro 11, 2015

O AGENTE DA U.N.C.L.E. (The Man from U.N.C.L.E.)



Interessante quando alguns filmes se tornam melhores e maiores à medida que pensamos neles. É o caso de O AGENTE DA U.N.C.L.E. (2015), de Guy Ritchie, um cineasta que não é exatamente um exemplo de maestria, mas que aqui consegue obter um resultado tão elegante e bonito que não tem como não gostar, mesmo considerando que se trata de uma obra irregular em sua condução narrativa. Ou talvez o problema seja mesmo entrar em sintonia com aquele estilo peculiar de aventura de espionagem bem humorada.

Por isso acredito que o filme de Ritchie se beneficiaria de uma revisão, agora que já entendemos o flerte com o cinema de ação europeu, em contraste com o cinema de ação americano, que parece mais redondo e bem resolvido, mas também mais convencional em sua abordagem. E digo isso como um elogio ao charmoso O AGENTE DA U.N.C.L.E., adaptação de uma série de televisão que durou quatro temporadas nos anos 1960 e que teve alguns episódios duplos exibidos nos cinemas como longas-metragens.

O filme apresenta a união de dois agentes inimigos, o agente americano Solo, da CIA, vivido por Henry Cavill (de O HOMEM DE AÇO), e o agente soviético Ilya, da KGB, vivido por Armie Hammer (de O CAVALEIRO SOLITÁRIO). Depois de um interessante e divertido jogo de gato e rato inicial, os dois descobrem que precisam se aliar contra uma poderosa organização criminal de origens nazistas, que tem o interesse de obter armas nucleares.

No meio disso tudo há a presença crucial da alemã Gaby, vivida pela sueca Alicia Vikander (de O AMANTE DA RAINHA). Impressionante como Alicia consegue se sobressair em graça, simpatia, presença de cena, beleza e elegância naquelas roupas estilosas da primeira metade dos 60s. E isso a gente fala de um ponto de vista dos homens (ou de mulheres que gostam de mulheres), já que é perfeitamente natural boa parte do público se encantar por Cavill e Hammer, que estão, além de bonitos, muito à vontade nos papéis (Hammer, inclusive, convence muito bem como um russo).

A trama é um tanto confusa, mas isso é normal em se tratando de filmes de espionagem, ainda mais quando são filmes que não tentam se levar tão a sério no que se refere ao enredo – mais uma característica bem europeia, aliás. Nisso, o que temos é um conjunto de cenas memoráveis e saborosas, somadas a uma trilha sonora igualmente de dar água na boca.

O que dizer da cena em que a câmera se afasta do quarto de Gaby ao som de “Jimmy renda-se”, do Tom Zé? E que maravilha que é ouvir essa música dentro daquele contexto e em uma sala IMAX! E aí lembramos também da cena da perseguição em um lago enquanto o personagem de Cavill entra um caminhão, ao som de "Che vuole questa musica stasera", de Peppino Gagliardi. A cena é impressionante e a junção com esta bela canção é especialmente feliz. Outro momento feliz inclui “Cry to me”, de Solomon Burke, quando Gaby tenta seduzir, no quarto de hotel, o agente da KGB que está lá para fingir que é seu noivo.

Ah, e o filme ainda traz o querido e sumido Hugh Grant no papel de um homem que age nos bastidores, mas que é fundamental para a história. Enfim, O AGENTE DA U.N.C.L.E. acabou crescendo tanto em minha memória afetiva nesses últimos dias que, eu que tinha birra com o Guy Ritchie, vou passar a cogitar ver outros trabalhos dele que não vi, e talvez até perdoe um dia aquele seu SHERLOCK HOLMES (2009), cuja sequência de 2011 eu nem tive coragem de ver, na verdade. Pra que redenção melhor para um artista do que ganhar a simpatia dos desafetos?

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