segunda-feira, setembro 21, 2015

A VÊNUS LOURA (Blonde Venus)



Talvez seja o menos barroco dos filmes de Josef von Sternberg estrelado por Marlene Dietrich. Até por se passar nos Estados Unidos e não em nenhum lugar distante ou exótico, há uma economia na direção de arte que é compensada com um sentimentalismo que não foge exatamente ao que é mostrado em filmes como MARROCOS (1930), DESONRADA (1931) e O EXPRESSO DE SHANGAI (1932). Marlene tenta parecer mais cínica e amarga do que a doce mãe de família que pretende salvar o marido de um câncer, voltando a cantar em um cabaré e, com isso, acaba se apaixonando por outro homem.

Sternberg entra aí numa linha perigosa do melodrama, que para muitos pode incomodar, mas que para mim ganha pontos. Pode até ser que em alguns momentos essas emoções passem do ponto, como acontece provavelmente perto da cena final, mas mesmo assim é até difícil não cair um cisco no olho, depois de vermos a nossa heroína passando por tantas tribulações, fugindo com o filho nos lugares mais ermos dos Estados Unidos.

A VÊNUS LOURA (1932) não deixa de também apresentar a Dietrich cantora, a Dietrich capaz de encantar dezenas de homens, seja no palco, seja em meio a outras mulheres. Há uma cena particularmente marcante, que até quem não gosta do filme deve achar curiosa, que é quando ela se apresenta vestida de gorila. A fantasia é tão realista que a princípio parece mesmo um gorila de verdade. Então, presenciamos uma espécie de strip-tease daquela roupa.

Aliás, como o filme foi feito antes do Código Hays, podia ter algumas ousadias, como a cena inicial das moças tomando banho nuas num lago, enquanto o personagem de Herbert Marshall teima em não sair de perto da moita. Somos transpostos então para o futuro, quando os dois estão casados, têm um filho pequeno e o marido agora enfrenta um caso raro de câncer, que até tem uma chance de cura, mas que é um tratamento experimental e que necessita de dinheiro. É quando a doce mãe e esposa resolve voltar aos cabarés, fazendo aquilo que sempre fez tão bem.

Infelizmente as canções não são o forte dessa vez. Mas, como são poucas, não há muito problema. Afinal, A VÊNUS LOURA também conta com o jovem Cary Grant no papel do milionário que banca a cirurgia do marido da cantora e ainda oferece uma vida de luxo e amor, o que faz com que isso balance o coração dela. Como o personagem de Grant é tão generoso e cheio de amor, acabamos por torcer por ele, o que não deixa de ser também algo curioso, levando em consideração que estamos optando aqui pela infidelidade, pelo adultério, ao invés do sagrado matrimônio.

Não fosse o filho, seria tão mais fácil jogar tudo para o alto, mesmo havendo toda uma história pregressa com o marido, que é romantizada quando os dois contam para o filho sobre a noite em que se conheceram, e o garoto acha a história mais bela de todas, gosta de ouvir antes de dormir. Acaba sendo uma estratégia um tanto estranha para uma história para fazer dormir, especialmente para um menino, mas funciona para os propósitos do filme.

Considerado por alguns como um Sternberg menor, A VÊNUS LOURA me encantou de tal maneira que, ao final da metragem, considerei-o o meu Sternberg favorito, embora agora fique balançado entre ele e MARROCOS, com aquele final tão poderoso. Aliás, como é interessante acompanhar a trajetória de Dietrich nesses filmes: apesar de ser uma mulher, digamos, pecadora, sua trajetória se aproxima da santidade, ao abraçar uma espécie de calvário de dor, de amor intenso e de negação – pelo menos até certo ponto, dependendo do filme – da felicidade.

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