A trajetória de Karim Aïnouz, ao mesmo tempo que se mostra cada vez mais coerente com sua temática, aos poucos parece perder a força em construir uma atmosfera que propicie uma emoção genuína. Já em O ABISMO PRATEADO (2013), esse cansaço transparecia. Em PRAIA DO FUTURO (2014), isso se torna ainda mais evidente. Ambos são, de certa forma, trabalhos de encomenda. O primeiro foi para compor uma série de homenagens a Chico Buarque (no caso, ele usou como inspiração a canção "Olhos nos Olhos"). O segundo foi feito mediante pressão de Wagner Moura, que queria de qualquer jeito trabalhar com Karim, admirador que é de seu trabalho. Ambos os filmes, se por um lado tem a coragem de nadar contra a corrente da linguagem cinematográfica mais convencional, alargando a duração dos planos, por outro, sua tentativa de parecer tão vanguardista quanto os melhores autores da atualidade acaba resultando em uma obra vazia.
Há, claro, uma intenção de trabalhar com a beleza dos corpos masculinos e isso pode ser valorizado do ponto de vista visual por boa parte da plateia, mas o problema de PRAIA DO FUTURO está longe de ser esse. Entre os vários problemas estão: a falta de uma história substancial (o fiapo de enredo até serviria se a direção fosse bem-sucedida); de uma dramaturgia e um texto de diálogos que não funcionam; de uma tentativa de parecer poético com imagens bonitas de Fortaleza e Berlim.
A beleza melancólica tão certeira em obras como O CÉU DE SUELY (2006), a minissérie ALICE (2008) e o filme experimental em parceria com Marcelo Gomes VIAJO PORQUE PRECISO, VOLTO PORQUE TE AMO (2010) parece esgotada nos dois últimos longas, por mais que o cineasta tente. Aliás, diria até que dá pra sentir saudade de O ABISMO PRATEADO, que pelo menos contava com a beleza e a graça de Alessandra Negrini rodando pelo Rio de Janeiro o filme inteiro.
Além do mais, é possível notar uma irregularidade no ritmo do filme, que até começa interessante, com a tentativa de o personagem de Wagner Moura tentar salvar dois turistas alemães de um afogamento. O salva-vidas só consegue salvar um deles do mar bravio da Praia do Futuro. Mas o outro acaba se tornando seu amante. O segundo ato, com a presença do personagem de Moura em Berlim, já procurando morar com o amigo/amante, é o mais problemático e anticlimático do filme, que só vai se recuperar um pouco com a entrada em cena de Jesuíta Barbosa, o jovem que vai à procura daquele irmão ingrato que o abandonou sem nem mesmo mandar notícias durante vários anos. Mas aí já é tarde demais. A massa já havia desandado.
No entanto, há uma sequência perto do final, "a carta de Aquaman para Speed Racer", que mostra um pouco desse Aïnouz poeta das imagens e das palavras de seus melhores trabalhos. Por isso, é mais do que válido continuar acompanhando a carreira do cineasta.
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