segunda-feira, agosto 13, 2012
360
Já estava com saudade de escrever para o blog. E o número de filmes para escrever a respeito - além do próprio relato da viagem a Gramado que pretendo fazer só quando retornar - só aumenta a cada dia. Mas isso não é motivo para entrar em pânico. Estar no Festival de Gramado é um sonho que há muito tempo eu tinha. E que finalmente estou realizando, e ainda por cima fazendo cobertura do festival para o Blog de Cinema do Diário do Nordeste. Comecemos, então, com 360 (2012), de Fernando Meirelles, que abriu o festival.
Embora tenha conversado com Meirelles e Maria Flor numa mesa redonda formada por uma meia dúzia de jornalistas e que foi se transformando aos poucos num bom bate-papo, graças à simpatia do diretor e da atriz, não dá para deixar passar em branco certas impressões negativas que eu senti em relação ao filme. A impressão que eu tenho continua a mesma das outras duas produções internacionais de Meirelles, ou seja, são todos filmes muito frios.
Em 360, em particular, ele está mais elegante na construção da maioria das cenas, na passagem de um núcleo de personagens para outro, de uma cidade para a outra. Mas aí entra o problema de que são personagens demais para pouco tempo e que em nenhum momento os personagens são realmente envolventes. Como eu falei para ele na mesa redonda, o filme ficou parecendo um piloto de uma série.
Fiz questão de elogiar o trabalho de Maria Flor a ela mesmo, que ficou feliz com os elogios; considero as cenas dela contracenando com Anthony Hopkins e Ben Foster as melhores do filme. Já a cena de Rachel Weisz com Juliano Cazarré, o outro brasileiro do elenco, é contrastante: ela muito boa e ele apenas razoável. Só não fica ruim porque há pouco diálogo e uma câmera que se aproxima muito de seus corpos, talvez até para evitar uma cena de sexo mais gráfica. Meirelles tem essa coisa, que ele admitiu, de que não gosta de filmes com sexo e violência fortes. No mais, os demais personagens parecem todos um tanto perdidos na ciranda de poucos minutos que o filme lhes oferece. Isso vale inclusive para os atores russos e eslovacos, que são muito bons.
Curiosamente, o drama do personagem de Jamel Debbouze é mostrado, em seu início, quando ele persegue uma mulher por quem está apaixonado, de maneira bem diferente. Como se trata de uma perseguição, a trilha sonora poderia ser mais de filme de suspense, mas a Ciça Meirelles preferiu uma música mais classuda, o que não deixa de ser interessante, mas essa interferência compromete um pouco o possível envolvimento que o espectador poderia ter com o personagem.
Como mérito, além da elegância, há o fato de que o filme tem 110 minutos e parece ter menos. Sinal de que a montagem de Daniel Rezende funcionou. Também não deixa de ser louvável o esforço de conseguir juntar as peças, tendo que trabalhar com diferentes diretores de produção de diferentes países.
360 apresenta uma série de episódios que repercutem ao redor do globo, a partir das decisões dos personagens.