sábado, fevereiro 07, 2009

MARGOT E O CASAMENTO (Margot at the Wedding)























Quando escrevi sobre AUSTRÁLIA e comentei que Nicole Kidman não havia feito nada de realmente bom desde REENCARNAÇÃO, algumas vozes se levantaram e falaram de MARGOT E O CASAMENTO (2007), que eu havia baixado há algum tempo e não tinha visto por causa da enorme quantidade de filmes e séries e o pouco tempo disponível que tenho para vê-los. Aproveitei-me, então, dessa renovação do interesse pelo filme para conferir esse belo e estranho trabalho de Noah Baumbach, diretor de A LULA E A BALEIA (2005) e roteirista de dois filmes de Wes Anderson. Só por esse currículo, já podemos ver Baumbach como um dos nomes mais representativos do atual cinema indie americano.

Já vi alguém comentando num dos blogs amigos aí ao lado que MARGOT E O CASAMENTO pode ser visto como um filme de horror. Talvez seja um pouco exagerada a afirmação, mas talvez nem tanto. O fato é que o filme causa uma sensação de desconforto constante, mesmo lidando com questões aparentemente normais, como conflitos familiares e de natureza sexual. O filme ganha pontos em não entregar logo de cara o passado ou mesmo o presente de seus personagens. Caímos de pára-quedas num ônibus onde se encontram os personagens de Nicole Kidman e seu filho adolescente, a caminho da casa da irmã (Jennifer Jason Leigh), que está prestes a casar com um sujeito pessimista e meio loser (Jack Black). Margot (Kidman) não se conforma com a "escolha" do futuro cunhado, que não considera à altura da irmã. A personagem de Kidman também tem uma maneira bastante singular de lidar com as pessoas, às vezes magoando-as com a franqueza, às vezes com mentiras. Fica no ar que existe um segredo ainda a ser desvendado.

MARGOT E O CASAMENTO se beneficia de um andamento narrativo pouco comum - pelo menos dentro do cinema mainstream -, embora seja até uma evolução do que se vem fazendo no cinema independente dos últimos anos pra cá; e de uma fotografia que privilegia os tons de marrom, copiando um pouco A PELE, que também traz Kidman de cabelos castanhos. Mas o estranhamento maior é notado nos diálogos, no modo natural com que as duas irmãs tratam de assuntos bem adultos na frente de adolescentes recém-saídos da infância. Há também a cena em que o garoto fala para a mãe que havia se masturbado na noite anterior ou de detalhes até um pouco inconvenientes e incomuns, como na cena em que uma das personagens defeca nas calças. O filme, incomum, trata de uma família também pouco convencional, pelo menos dentro do que se está acostumado a ver no cinema americano. No final, na opção pelo abrupto, depois de elipses de momentos importantes e de questões familiares e afetivas que pareciam ainda indefinidas, ficam as reflexões.

Entre os diálogos, me chamou a atenção - pra não dizer que eu fiquei até um pouco aterrorizado - o debate sobre os lapsos de memória que surgem após os trinta anos de idade e que eu também sinto às vezes. Pelo menos, depois do filme, eu fico imaginando que isso é natural. Ou não?

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