quinta-feira, dezembro 04, 2008
REDE DE MENTIRAS (Body of Lies)
Dia desses estava revendo um trecho na televisão de OS VIGARISTAS (2003), um dos filmes que mais gosto de Ridley Scott, e percebi o quanto eu havia me esquecido de aspectos interessantes do filme, em especial os problemas de saúde do personagem de Nicolas Cage. Por isso, ainda acredito numa revisão de CRUZADA (2005), filme que, aliás, tem tudo a ver com este novo REDE DE MENTIRAS (2008). A vantagem desse novo trabalho é que aqui não há uma montagem frenética ou uma câmera incômoda. Portanto, há mais chances de se apreciar o trabalho, que lida com uma situação "complicada" dos dias de hoje: a chamada "guerra contra o terror", para usar a terminologia adotada por Bush. E REDE DE MENTIRAS é mais um a engrossar a lista dos vários filmes políticos ou com fundo político que abordam o assunto e fazem perceber o quanto Hollywood, ou pelo menos os roteiristas e diretores, as mentes pensantes, não estão assim tão alheios ao que está acontecendo além de suas fronteiras.
O fato de o filme se passar em diferentes países do Oriente Médio (Iraque, Jordânia, Emirados Árabes Unidos, Turquia), além de países europeus que são vítimas de ataques terroristas - Inglaterra e Holanda -, dá a REDE DE MENTIRAS um aspecto global bem mais efetivo do que em BABEL, do Iñarritú. Como nos últimos dias tenho lido textos sobre a forte influência árabe na cultura ocidental, que durante os anos foi propositalmente apagada pelos cristãos europeus, tenho passado a me interessar por temas concernentes ao Oriente Médio e a teorias de conspiração ligadas às Cruzadas ou aos jogos de poder envolvendo os americanos e seus novos inimigos.
A questão da desvantagem dos mais fracos em relação aos povos de superioridade bélica maior já havia sido abordada na obra de Scott desde 1492: A CONQUISTA DO PARAÍSO (1992), passando por FALCÃO NEGRO EM PERIGO (2001) e o já citado CRUZADA. Independente de se gostar ou não desses filmes, não há como negar que há aí um interesse por parte do diretor nesse tema. E por mais que o ponto de vista seja sempre do dominador, o incômodo de fazer parte daquilo está sempre presente na psicologia dos personagens, como se, independente de credo ou religião, o sentimento de culpa estivesse sempre lá. É assim que o personagem de Leonardo Di Caprio se sente, ao trabalhar como um agente infiltrado da CIA no Iraque e ter que executar missões nem sempre nobres em nome de seu país. Russell Crowe, como seu superior imediato, para confortá-lo, vem com a máxima de que "ninguém é inocente nesta guerra". Ele não deixa de ter razão, mas se ninguém é mesmo inocente, existe algo chamado grau de culpabilidade, que com certeza deve recair bem mais sobre os americanos. E é interessante notar que, apesar de mostrar um personagem inescrupuloso como o de Crowe de modo até um pouco simpático e um agente em estado de confusão por estar mais presente, adquirindo, portanto, um maior envolvimento pessoal com as pessoas do Oriente Médio, tendo, inclusive, um interesse amoroso, na pessoa de uma enfermeira jordaniana, o filme deixa para o espectador a missão de tomar partido ou de refletir sobre a situação política.
As cenas de ação são poucas, mas vigorosas, em especial a seqüência em que Di Caprio tem o seu informante morto numa missão e quase morre também. Como se trata mais de um filme de espionagem que um filme de ação, as conversas, a expectativa em torno do que aconterá e as surpresas diante dos ataques-surpresa são mais importantes e interessantes do que as cenas de ação em si. Aliás, acho bom que sejam poucas as cenas de ação, pois não sei se agüentaria um filme tão barulhento e picotado como FALCÃO NEGRO EM PERIGO outra vez. Agora, vamos ver o quanto REDE DE MENTIRAS vai ficar em nossa memória afetiva ou se vai se apagando aos poucos, como parece estar acontecendo com O GÂNGSTER (2007), o trabalho imediatamente anterior de Scott, que eu a princípio gostei. E falando nos dois filmes, adivinhem quem estará no próximo trabalho de Scott? Sim, novamente Russell Crowe, pela quarta vez seguida sob sua direção. Ele interpretará Robin Wood em NOTTINGHAM, previsto para o ano que vem. Só acho que ele precisa emagrecer um pouquinho para o papel.
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