sexta-feira, dezembro 05, 2008
LADRÕES DE BICICLETA (Ladri di Biciclette)
Interessante notar que, apesar de o cinema americano ter estado mais presente do que qualquer cinematografia do mundo nos anos 40, década que predominou o film noir, até mesmo o melodrama de Vittorio De Sicca, hoje enquadrado no neo-realismo italiano, e uma das principais obras do movimento, possui também características que lhe dá similaridades com os thrillers sombrios produzidos nos Estados Unidos. Falo isso principalmente por causa da busca do protagonista por sua bicicleta. Que algumas vezes parece uma investigação às escuras feita por algum protagonista de um film noir da época. Portanto, não é de se estranhar que, de alguma maneira, De Sicca tenha sido influenciado pelo cinema americano do período, apesar de o registro aqui ser bem mais melodramático.
Tanto que ao ver a cena mais triste de LADRÕES DE BICICLETA (1948), presente no documentário de Martin Scorsese sobre cinema italiano, eu não resisti e caí em prantos. E é principalmente nesse momento que a gente entende porque o melodrama de De Sicca é tão amado e aplaudido em todo o mundo. Scorsese entregou uma cena crucial e final do filme, mas mesmo em separado, essa cena tem uma força impressionante.
A trama simples e enfatizando a pobreza do povo italiano, arrasado depois da Segunda Guerra Mundial, e que influenciou o cinema iraniano dos anos 80-90, conta a estória de um pai de família que se encontra desempregado e que precisa conseguir uma bicicleta para o emprego de colar cartazes nas ruas que lhe é ofertado - os posters de Rita Hayworth na parede servem para mostrar a posição privilegiada dos americanos na época.
Depois de muito sacrifício, a mulher vende uns lençóis e consegue uns trocados para recuperar a bicicleta que estava há tempos no conserto, sem dinheiro para pagar. Recuperada a bicicleta, testemunhamos a felicidade efêmera do protagonista, de seu filho e de sua esposa, contentes por finalmente poderem contar com um dinheirinho fixo. Mas o próprio título do filme já entrega que essa felicidade é passageira e a cada momento que o personagem deixa a bicicleta no canto, ficamos logo esperando o pior. Alguns podem achar que uma bicicleta não vale muito, mas naquela situação, ela vale mais do que um carro importado e ao mesmo tempo tão importante quanto os sapatos ou o caderno escolar dos filmes iranianos que a obra de De Sicca inspirou (FILHOS DO PARAÍSO e ONDE FICA A CASA DE MEU AMIGO?). A busca do pai e do filho pela bicicleta mostra um cenário de desespero. E em momentos de desespero comete-se medidas desesperadas. E é nesse momento que o filme atinge o seu ápice e, ao mesmo tempo, atinge também, e em cheio, o coração do espectador.
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