segunda-feira, agosto 11, 2008

CINCO CURTAS



O final de semana teve algo de especial. Afinal, pude conhecer pessoalmente Carlos Primati, um jornalista cujo trabalho admiro desde os tempos do Guia do Vídeo Erótico. E o homem ainda foi responsável pela criação da saudosa Cine Monstro e é, muito provavelmente, o maior especialista em cinema de horror do Brasil. Ele está atualmente em Fortaleza ministrando dois cursos: um sobre cinema de horror e outro sobre Hitchcock. Pude comprovar que ele é gente fina. Curiosamente, o elo de ligação dessa vez foi a minha amiga Bia, daqui de Fortaleza mesmo. Quer dizer, graças à internet, a gente vai conhecendo pessoas que muito dificilmente teria a chance de conhecer quinze anos atrás, por exemplo.

No sábado, eu me incumbi de pegar o Primati, a Bia e o sobrinho dela em sua casa e de lá fomos para a sessão "Filmes Malditos da Meia-Noite", organizada pelo Alex, um cara corajoso que em pouco tempo em Fortaleza já movimentou a cidade com esse evento. Conheci-o de vista inicialmente no Cine Ceará desse ano, antes da sessão do doc do Waldick, quando ele veio falar com o Carlão, e depois pude conhecê-lo melhor durante o curso ministrado pelo Ruy Gardnier em julho. A Carol, outra amiga da gente e que também dá uma mãozinha na obtenção e exibição dos filmes para a noitada, aceitou dar uma escapulida com a gente para comermos uma pizza e batermos papo. Principalmente sobre cinema, naturalmente. Antes da pizza, passamos por uma situação um pouco incômoda numa blitz, com uma mulher do Detran abusando da autoridade, mas no final deu tudo certo.

Os filmes agendados para a noite foram os curtas BOO (1932), de Albert DeMond; THE SEPARATION (2003), de Robert Morgan; ADORATION (1996), de Olivier Smoulders, que infelizmente travou no meio, justo quando eu estava ansioso para ver o final; o longa UMA LAGARTIXA EM PELE DE MULHER (1971), de Lucio Fulci; o segmento "O Pasteleiro", do filme em episódios AQUI, TARADOS (1980), de David Cardoso e John Doo; o longa O DIA DA BESTA (1995), de Álex de la Iglesia; e, para encerrar a madrugada, o perturbador - pelo menos é o que todos dizem - AFTERMATH (1994), de Nacho Cerdà. Aproveitando que vi dois desses curtas, vi mais três em casa para compor mais um post dedicado ao cinema em curta-metragem. A foto acima é de WE FUCK ALONE, de Gaspar Noé.

BOO

Já tinha visto BOO nos extras do dvd de FRANKENSTEIN (1931), mas é sempre bom rever. Trata-se de uma brincadeira de colagem em cima do cinema de horror da época, em especial NOSFERATU, THE CAT CREEPS e FRANKENSTEIN. Foi um acerto a Universal não usar cenas de DRÁCULA, de Tod Browning. Com o bicho mais feio do filme do Murnau no lugar do Drácula metido a classudo de Bela Lugosi, a montagem ficou muito mais engraçada. E a narração torna tudo hilariante. Interessante como o tempo não envelheceu no aspecto da graça esse belo trabalho, que ainda serve como documento de uma época.

THE SEPARATION

Brilhante trabalho de animação em computação gráfica de Robert Morgan, THE SEPARATION, é ao mesmo tempo, grotesco e terno. O lado grotesco está na própria figura dos personagens, bem como nas cenas mais violentas e no sangue esguichando. Os personagens são dois bonecos gêmeos siameses que foram separados, mas que ainda sentem a falta do corpo do outro, mesmo trabalhando tão próximo. O aspecto de ternura, do amor que os dois personagens nutrem um pelo outro, misturado a um senso de humor negro e fora do comum, torna esse pequeno filme uma experiência única.

ATO FALHO

Foi parar em minhas mãos uma cópia do curta ATO FALHO (2007), trabalho de estréia na direção de Bruno Andrade e que conta com roteiro de Bruno e Daniel Caetano. O filme é uma diversão a mais para quem conhece alguns nomes da blogosfera e/ou das listas de discussão, participando seja dentro seja fora das câmeras (nome nos créditos), como Francisco Guarnieri, Guilherme Martins, José Roberto Rocha, Sérgio Alpendre e Vébis Jr. ATO FALHO pode ser visto como uma história de amor entre um cliente e uma linda atendente, interpretada por Fernanda Marcondes. É também uma história de amor pelos filmes em geral, mesmo os mais vagabundos, como K-9, aquele filme do cão policial, com o James Belushi, ou os do Charles Bronson dirigidos por J. Lee Thompson. O filme passa um certo saudosismo com o vhs, apesar de a fachada da locadora apresentar fimes recentes. ATO FALHO abre, inclusive, com o áudio de uma propaganda de apresentação da extinta distribuidora Poletel. Além do mais, o cliente sempre dá preferência às velhas fitas. Nunca se vê ele alugando um dvd. As cenas dele ao lado da moça vendo filmes "do catálogo" da locadora parecem fazer parte de seu sonho. Provavelmente ele vai ali principalmente para vê-la sempre. Com a crescente decadência das videolocadoras, ameaçadas pela facilidade de se baixar filmes na internet, o filme pode adquirir com o tempo um ar ainda mais saudosista e anacrônico.

WE FUCK ALONE

Depois de perturbar a cabeça de todo mundo com IRREVERSÍVEL (2002), o trabalho seguinte de Gaspar Noé foi um segmento para o coletivo DESCRICTED (2006), no qual também participou Larry Clark e nomes que desconheço como Marina Abramovic, Matthew Barney, Richard Prince e Sam Taylor Wood. Ao que parece, pelo que se conhece dos cineastas mais famosos, a pretensão do projeto era mesmo fazer filmes no mínimo apimentados. "We Fuck Alone" já começa com um aviso: não é recomendado para pessoas com problemas de epilepsia. Confesso que fiquei com medo de ver o filme, mas como se tratava de um curta, resolvi encarar. O que mais incomoda é que durante as cenas, a imagem fica o tempo todo piscando. E parece que Noé veio ao mundo com o objetivo de mostrar o sexo como uma coisa suja, incômoda, doentia. É filme pra se ver clicando no botão pause e com um tempinho para respirar. As cenas de sexo, dos homens e das meninas se masturbando ou os caras brincando com bonecas eróticas não incomodam. O que enche o saco é o pisca-pisca infernal e a trilha sonora com o som de algo parecido com batimentos cardíacos que faz toda a experiência insuportável. Há novamente o recurso da câmera rodopiante, que aparece no começo de IRREVERSÍVEL, e isso é outro elemento que contribui para a sensação de náusea que o filme produz. São 23 minutos que parecem uma eternidade.

WOODSHOCK

Richard Linklater tinha 25 anos quando dirigiu, junto com o amigo Lee Daniel, WOODSHOCK (1985), seu primeiro trabalho, ainda em curta-metragem. Trata-se de um pequeno documentário de 7 minutos sobre um festival de rock que acontece em Austin, Texas, e que Linklater filmou de modo que ficasse com um visual parecido com o do histórico documentário WOODSTOCK (1970). O filme também antecipa o interesse do cineasta pelo universo de farra dos jovens, que seria abordado nos filmes seguintes, principalmente em JOVENS, LOUCOS E REBELDES (1993), que foi o filme que o projetou para o mundo. WOODSHOCK não me disse muito, mas para quem conhece e curte o trabalho de Daniel Johnston (não é o meu caso), há uma cena curiosa do músico entregando uma fita sua para o câmera (provavelmente Linklater).

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