sexta-feira, setembro 14, 2007

MARCHA DE HERÓIS (The Horse Soldiers)



Mais um John Ford dos bons. Mas também um Ford considerado complicado. MARCHA DOS HERÓIS (1959) é um filme amaldiçoado em diversos aspectos. A começar pela morte acidental de um dos dublês favoritos do diretor, que caiu do cavalo numa seqüência agitada. Ford ficou tão devastado com o ocorrido que abandonou as filmagens em Louisiana e o filme foi completado depois na California. Ford também não se deu muito bem com William Holden, o que acabou deixando as filmagens um pouco complicadas. MARCHA DE HERÓIS marcou também o primeiro grande acordo de astros de Hollywood. Além de receberem uma quantia bastante generosa, John Wayne e William Holden ainda fizeram uma negociação para receber um percentual de 20% dos lucros. O problema é que o filme foi um fracasso retumbante nas bilheterias e não houve lucro algum para os dois.

Apesar dos pesares, MARCHA DE HERÓIS é ótimo. Trata-se do único fime de Ford que aborda diretamente a Guerra Civil americana. E, diferente dos filmes de guerra do diretor, que acabam sendo excessivamente patrióticos e que valorizam demais o sacrifício, MARCHA DE HERÓIS tem algo de amargo em relação à guerra que dividiu os Estados Unidos e que trouxe a morte de muitos inocentes. E como o filme se passa quase que inteiramente no Sul, é possível ver um pouco dos efeitos da guerra na vida daquelas pessoas menos favorecidas. O título brasileiro, inclusive, soa até um pouco irônico, já que, do ponto de vista dos sulistas, os ianques são mais vistos como homens perversos, como invasores, do que propriamente como heróis.

Na trama, John Wayne é um Coronel da União que é enviado ao sul para destruir uma ferrovia, de maneira que os Confederados da região ficassem impossibilitados de se movimentar. O coronel é um sujeito que não gosta muito de médicos - lá pelo final do filme ficamos sabendo porquê - mas tem que aturar a presença de um major médico, interpretado pelo William Holden. A relação dos dois é um pouco conflituosa. O caldo engrossa com a presença da personagem de Constance Towers, atriz conhecida dos filmes de Samuel Fuller, uma sulista que tem sua casa invadida pelos ianques e que é levada prisioneira por eles por razões de segurança.

Há momentos tão tipicamente fordianos que a sensação de familiaridade me fazia sorrir. Tem a relação de Wayne com Constance e a dolorosa cena da amputação de uma perna, que remete a tantos outros filmes do diretor, mas há também a beleza das imagens, da paisagem que passeia pela tela como uma pintura. Gosto da cena em que John Wayne é visto por detrás da vegetação. Há outra cena que remete ao final de RASTROS DE ÓDIO (1956), com a câmera visualizando a paisagem através de uma porta. Muito bonito.

Estou tentando baixar um dvd de AUDAZES E MALDITOS (1960), mas deve demorar de uma a duas semanas para acabar. Como nunca baixei um dvd completo, não sei se vai dar certo. Espero que dê.

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