segunda-feira, setembro 24, 2007

BEM-VINDO A SÃO PAULO (Welcome to São Paulo)



Diferente de PARIS, TE AMO, que é um filme mais caprichado e com dinheiro envolvido, com segmentos de ficção e uma homenagem de fato à cidade em questão, BEM-VINDO A SÃO PAULO, o projeto idealizado por Leon Cakoff, tem mais a intenção de fazer uma reflexão crítica sobre a terceira maior cidade do mundo. Cakoff convidou diversos cineastas presentes em algumas das edições da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo para apresentar a sua visão da metrópole de maneira rápida e barata. Alguns episódios resultaram um pouco desleixados, como se pudessem ter sido filmados por qualquer pessoa, como os de Philip Noyce e Mika Kaurismäki. Interessante como praticamente todos os episódios flagaram uma cidade feia e suja. Não que a cidade não seja, mas tenho certeza de que há muitas zonas bonitas em São Paulo. Provavelmente os cineastas se interessaram mais pelo aspecto "exótico" da cidade.

O segmento que eu mais gostei foi, de longe, "Aquário", de Tsai Ming-Liang, o único que apresentou uma característica forte da cidade, que é a chuva. Ming-Liang aponta sua câmera para um edifício decadente e vemos várias pessoas nas janelas de seus apartamentos. Ficou parecendo a visão de um presídio. O som da chuva, as pessoas com seus guarda-chuvas nas ruas, o céu cinzento, tudo é visto com uma certa poesia, ausente da maior parte dos outros segmentos. Falando em poesia, o grande homenageado do filme é Caetano Veloso, que, além de ser o narrador, tem a sua canção "Sampa" aparecendo em dois dos segmentos. Na primeira vez, vemos a letra da canção sendo recitada por Maria de Medeiros no segmento assinado por ela; e na segunda vez, no segmento de Wolfgang Becker.

Como a cultura nipônica é muito importante para a construção de São Paulo, ficamos sabendo um pouco sobre a chegada dos japoneses no início do século XX para trabalhar na cultura do café, substituindo a mão-de-obra escrava e, por isso mesmo tendo sofrido bastante no início. Em seu segmento, o diretor Kiju Yoshida nos apresenta uma entrevista de uma garçonete descente de japoneses. É o segmento que mais destoa dos demais, tanto pela duração, quanto pelo ritmo. Já a cultura negra é apresentada no fraco "Ensaio Geral", do palestino Hanna Elias.

O segmento "Esperança", de Ash, não diz muito a que veio. Aliás, até diz, mas me pareceu incompleto, como se fosse um trecho de uma reportagem televisiva ou um documentário interrompido. Em compensação, Daniela Thomas foi muito mais feliz, ao mostrar o Minhocão em diversos momentos do dia e da noite. Eu gosto muito de ver a câmera do ponto de vista de um motorista. Dá a sensação de que eu estou passeando. "Esperando Abbas" é outro episódio memorável. Dirigido por Cakoff e sua esposa, Renata de Almeida, o segmento emula e cita o cineasta iraniano Abbas Kiarostami, a quem o projeto é dedicado. Kiarostami, inclusive, deu sugestões a Cakoff no que diz respeito à ordem dos segmentos, que foi mudada no lançamento comercial.

P.S.: Gostei da iniciativa dos organizadores do Espaço Unibanco Dragão do Mar de trazerem para Fortaleza um projetor digital. Desse modo, Fortaleza entrou no circuito de exibição dos filmes digitais.

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