domingo, julho 15, 2007

TWIN PEAKS - OS ÚLTIMOS DIAS DE LAURA PALMER (Twin Peaks - Fire Walk with Me)



Bom demais rever esse longa pela quarta vez, depois de ter finalmente visto pela primeira vez a série completa. Muita coisa ficou mais clara agora pra mim. David Lynch gostava tanto do universo de Twin Peaks que resolveu dirigir esse excepcional prequel da série. E TWIN PEAKS - OS ÚLTIMOS DIAS DE LAURA PALMER (1992) é mais uma obra-prima desse que eu considero o maior cineasta vivo. Para os apreciadores da série, o filme é ainda mais excitante. Imagina só: ver aqueles personagens que a gente aprendeu a amar num filme sem censura, feito para o cinema e com direito a cenas de sexo pra lá de picantes. Tudo que Lynch tinha vontade de fazer na televisão e não podia. O único porém do filme é a ausência de Lara Flynn Boyle no papel de Donna Hayward. Parece que na época ela estava com a agenda bem ocupada, não podendo voltar ao fascinante universo de Twin Peaks. Uma pena. No lugar dela, entrou a jovem Moira Kelly. No começo eu achei estranho, mas depois me acostumei. E pensando bem até que a Moira tem mais cara de garota inocente, coisa que é bem mais difícil de imaginar de Lara.

Vi no IMDB que vários personagens da série estiveram presentes no primeiro corte, mas foram limados na edição final. Assim, ficaram de fora do filme depois do corte: o xerife Truman e seus dois ajudantes, Josy Packard, Big Ed, o Major Brigs, Pete Martell, o Dr. Jacoby, entre outros. Mas ainda tenho esperança de que apareça no futuro uma edição estendida do filme, que deve ter com certeza mais de três horas de duração. Do jeito que ficou, o filme é centrado principalmente no núcleo jovem da série. Aliás, o filme se foca exclusivamente em Laura Palmer e no drama de ela ser possuída por uma entidade maligna desde os doze anos de idade e de ter se transformado aos poucos em prostituta e viciada em drogas. Na verdade, essa entidade maligna, o BOB, e seu pai se confudem.

TWIN PEAKS - OS ÚLTIMOS DIAS DE LAURA PALMER já me empolgou desde os créditos iniciais, quando vi os nomes dos atores e atrizes tão familiares aparecendo um por um na tela, ao som da espetacular música de Angelo Badalamenti. Alguns nomes novos mas conhecidos aparecem, como os de David Bowie, Chris Isaak e Kiefer Sutherland. Ao fundo, a imagem de uma televisão fora de sintonia, que é quebrada por uma marreta depois que aperece o nome do diretor do filme. Uma provocação de Lynch, que na época já não estava mais se dando tão bem com os executivos das emissoras de tv.

A primeira meia-hora de filme é um exemplo de liberdade de criação. Lynch simplesmente não tem pressa. Só depois que o reloginho passa dos trintas minutos é que entraremos de verdade em Twin Peaks. A meia hora inicial é dedicada à investigação do assassinato de Teresa Banks por um agente do FBI interpretado por Chris Isaak. O crime aconteceu numa cidadezinha próxima de Twin Peaks. A brincadeira em torno dos códigos é muita engraçada e mostra o quanto Lynch tem um senso de humor apurado e único.

CIDADE DOS SONHOS (2001) é a obra-prima máxima do diretor, mas o filme deve muito a TWIN PEAKS, já que um é derivação do outro. A cena em que Laura Palmer adentra o inferninho, vê Julee Cruise cantando com aquele seu timbre angelical e se desmancha em lágrimas é uma dos melhores provas disso. Se bem que se voltarmos um pouco mais no tempo, podemos nos lembrar do psicopata interpretado por Dennis Hopper chorando, ao ouvir uma canção de Roy Orbison, em VELUDO AZUL (1986). A música tem um poder demolidor de aquebrantar os corações das almas perdidas.

Não posso deixar de dizer mais uma vez o quanto os filmes de Lynch me deixam aterrorizado. Talvez esse longa não chegue a me assustar tanto quanto A ESTRADA PERDIDA (1997) ou CIDADE DOS SONHOS ou até RABBITS (2002), mas dois momentos em especial são arrepiantes. A primeira delas é a seqüência em que Laura vai dormir depois de ter levado para casa um quadro onde se vê uma porta entreaberta. O clima de suspense que se cria com essa porta é impressionante. A impressão que se tem é que dessa porta virá alguma entidade sinistra ou algo do tipo. Outro momento perturbador é quando Laura vai até a sua casa à tarde e ao entrar no seu quarto lá está BOB no cantinho. Claro que a música, nessa cena, ajuda um bocado a assustar, mas não acho que isso seja um recurso desonesto. Poderia também lembrar dos momentos extremamente sensuais do filme, como quando Laura beija James e deixa seus seios à mostra, embora esse momento não seja nada em comparação com as cenas de Laura e Donna no bar, do outro lado da fronteira com o Canadá, onde tudo é permitido.

TWIN PEAKS - OS ÚLTIMOS DIAS DE LAURA PALMER é uma mistura de tragédia, horror, humor e sensualidade de um jeito que só Lynch é capaz de produzir.

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