domingo, outubro 08, 2006

DÁLIA NEGRA (The Black Dhalia)



Ainda bem que eu havia assistido À BEIRA DO ABISMO, do Hawks, poucos dias antes de ver DÁLIA NEGRA (2006). O mais novo filme de Brian De Palma bebe bastante na fonte desse clássico do cinema noir, principalmente no quesito estória complicada. Eu diria que, assim como acontece com o filme de Hawks, a trama de DÁLIA NEGRA não tem mesmo muito sentido. Ou então tem uma lógica interna meio bizarra. Assim como OLHOS DE SERPENTE (1998) e SÍNDROME DE CAIM (1992), o filme pertence a essa leva de obras depalmianas que necessitam de revisão para melhor assimilação. Conseqüentemente, é um filme que deve ser mais respeitado com o passar dos anos. Isso costuma acontecer com freqüência com De Palma. A crítica desce o cacete no filme e depois de algum tempo fala que é obra-prima.

DÁLIA NEGRA não está entre os meus dez De Palmas favoritos, mas é com certeza mais um de seus grandes trabalhos e a prova de que sua maestria continua intacta. Algumas coisas, porém, me incomodaram. A começar pela presença de Hilary Swank como uma femme fatale. Nem com muita maquiagem isso é possível. E outra coisa ainda pior é nos fazer acreditar que ela é uma sósia da Mia Kirshner, que interpreta a Dália do título, a moça que é brutalmente asassinada. Inclusive, essa história é baseada num caso real, quando nos anos 40, uma aspirante a atriz foi assassinada e uma investigação revelou que havia uma conspiração na própria polícia de Los Angeles. Se na vida real, o crime não foi solucionado, no filme tudo parece ainda mais confuso.

A obsessão pelo duplo, presente em praticamente todos os filmes de Brian De Palma, aparece explicitamente tanto na parceria dos dois amigos policiais (Josh Hartnett e Aaron Heckart), quanto nas já citadas atrizes (Hilary Swank e Mia Kirshner). O jogo de espelhos também aparece, mas em menor grau. A citação a filmes de Hitchcock já começa pelo próprio nome "Madeleine", a personagem de Hilary Swank - não acho que isso seja coincidência. Porém, não se trata aqui de um filme cheio de auto-referências, como o anterior FEMME FATALE (2002). DÁLIA NEGRA até poderia ser dirigido por outro cineasta, já que foi baseado num romance policial de James Ellroy. Claro que um outro diretor faria um filme completamente diferente. E para maravilhamento dos fãs, o talento de De Palma para realizar grandes seqüências rende momentos impressionantes. Como na cena em que o corpo de Dália é encontrado na estrada. Aquela cena é uma festa para os olhos.

Ainda não falei de Scarlett Johansson. Bom, pra começo de conversa, ela não está tão bela quanto poderia estar. Não gosto daquele corte de cabelo da década de 40, prefiro os cabelos curtinhos dos anos 20 ou o jeitão mais desleixado dos anos 70. Mas tenho certeza que outra atriz poderia ficar bonita com o mesmo visual de Scarlett. Além do mais, ela não está tão expressiva. E também não sei porque cargas d'água De Palma foi escalar a Hilary Swank, pelo amor de Deus. Ao menos, os dois marmanjos - Josh Hartnett e Aaron Eckhart - estão bem no filme. Hartnett não é um grande ator, mas tem presença de cena e combina com o estilo do filme. Já Eckhart, é um grande intérprete, como pode-se notar recentemente em OBRIGADO POR FUMAR. A violenta luta de boxe dos dois no começo do filme é um dos pontos altos. Ainda no que se refere ao elenco, impressionante a personagem de Fiona Shaw, que está assustadora. Parecendo até que acabou de sair de um pesadelo de David Lynch.

De Palma aproveita a maior liberdade que se tem hoje (em comparação com os anos 40 ou 50) para apimentar mais o seu filme com sexo e violência gráfica. Um dos momentos memoráveis do filme é quando Josh Hartnett adentra um bar de lésbicas e De Palma usa uma grua para mostrar k.d.lang interpretando "Love for Sale", de Cole Porter, e um monte de dançarinas seminuas dançando e beijando-se na boca. Lindamente bizarro. Por outro lado, De Palma prefere mostrar o triângulo amoroso Hartnett-Johansson-Eckart de forma bastante sutil. Ou então, a intenção do cineasta era fornecer algo mais que pudesse ser escondido, já que DÁLIA NEGRA é basicamente sobre coisas ocultas.

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