quarta-feira, setembro 13, 2006
O PODEROSO CHEFÃO (The Godfather)
Uma das poucas unanimidades que eu conheço entre cinéfilos e críticos é O PODEROSO CHEFÃO (1972). Quer dizer, pode até ter quem não goste do filme, mas até hoje eu não vi se pronunciar. O filme é uma das obras mais respeitadas e cultuadas da história do cinema. E não é pra menos. Em que outro filme podemos ver Al Pacino, Marlon Brando, Robert Duvall e James Caan juntos e dirigidos por Francis Ford Coppola? E ainda por cima, com aquela música maravilhosa de Nino Rota e a fotografia esplêndida de Gordon Willis? E pensar que Coppola quase foi demitido, que os produtores não gostaram da música de Rota, que ninguém acreditava que Marlon Brando seria o intérprete perfeito para Don Corleone, entre outras coisas difíceis de acreditar.
Interessante que Coppola, de início, não se interessou pelo projeto e só aceitou fazer porque estava muito endividado e a Paramount fez um acordo com ele que anistiava uma dívida que ele havia contraído em sua atividade como produtor independente. Ao contrário do que muita gente imagina, O PODEROSO CHEFÃO não é uma super-produção. O maior salário do filme era mesmo de Marlon Brando e se economizou bastante nas filmagens.
Pra um filme cheio de momentos gloriosos, fica até difícil selecionar uma seqüência favorita, mas se eu fosse escolher uma eu escolheria aquela em que contracenam juntos Al Pacino, James Caan e Robert Duvall no momento em que Michael Corleone (Pacino) mostra que não é mais o caçula que não suja as mãos com os negócios da família e que pretende, ele mesmo, matar o policial corrupto McCluskey. Quando a câmera se aproxima lentamente de Michael, machucado pelo soco que recebeu do policial, aquilo é um dos momentos mais mágicos da história do cinema. Meio como o despertar da besta. A cena da morte do McCluskey é outro primor, com aquele detalhe genial do som do trem passando segundos antes de Michael criar coragem e atirar nos seus dois inimigos.
O filme é tão repleto de momentos excepcionais que quando Coppola cortou boa parte da metragem com medo de que seu filme fosse levado para a edição em Los Angeles, Robert Evans, o produtor, pediu para que ele colocasse tudo de volta. Imagina só o filme com quarenta minutos a menos. Seria um desperdício. Um dos méritos de O PODEROSO CHEFÃO é o de justamente não se tratar apenas de um filme convencional de gângster e de ser muito sombrio e cheio de conversas em salas escuras. Falando em iluminação, o único momento que destoa do tom do filme é a parte em que Michael vai para a Sicília.
Vendo o filme com o comentário em áudio (legendado em português) de Coppola, soube de muitas curiosidades das filmagens. Algumas delas eu anotei:
- A primeira cena do filme começa com um close e segue com um lento recuo de câmera. Na época esse recurso foi bastante inovador.
- Coppola tirou proveito de um ator que estava muito nervoso porque iria contracenar com Marlon Brando e fez uma cena em que esse sujeito ensaia o que vai falar para o padrinho.
- O filme é cheio de familiares de Coppola. Além de Talia Shire, que faz a filha feia de Don Vito, o pai de Coppola compôs uma das tarantellas (música tradicional da Sicília), a moça que canta uma ária é prima do diretor, a mãe de Coppola aparece como figurante e a hoje cineasta Sofia Coppola, na época recém-nascida, aparece na cena do batismo no final do filme. Inclusive, Coppola mostra o quanto ainda é pai coruja. Não para de falar o quanto a Sofia era linda quando bebê.
- A cabeça de cavalo usada numa cena era de verdade. (Ok, essa todo mundo sabia.)
- A primeira tomada do filme foi a da cena de Al Pacino e Diane Keaton fazendo compras.
- George Lucas foi um dos assistentes de Coppola, tendo dirigido algumas cenas.
- Coppola foi uma espécie de cupido para Pacino e Diane Keaton. Os dois se apaixonaram durante as filmagens e ficaram juntos por um bom tempo.
- Coppola conta que uma vez quando estava num banheiro do estúdio ouviu dois caras conversando sobre ele: "Você viu esse novo diretor? O cara não sabe de nada, tem péssimas idéias." Dá pra acreditar?
- A cena da morte de Sonny (James Caan) foi inspirada em BONNIE & CLYDE - UMA RAJADA DE BALAS.
Agora eu estou querendo comprar o DVD de O PODEROSO CHEFÃO - PARTE II (1974) para dar continuidade à revisão obrigatória dessa obra fantástica. Ah, como era bom quando Coppola fazia grandes filmes. O que diabos aconteceu com ele, hein? Acabou a inspiração? Ela foi embora com a sua juventude? De todo modo, ele pode se dar ao luxo de fazer qualquer besteira, já que o que ele fez na década de 70 o redime de qualquer JACK (1996) da vida.
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