sexta-feira, setembro 29, 2006

À BEIRA DO ABISMO (The Big Sleep)























Mais um filme de Howard Hawks que eu tive o privilégio de assistir. Mas esse deu um trabalhão pra conseguir. Depois de tentar baixar o filme através de dois links que sempre estacionavam nos 52%, consegui um outro link que baixou rapidinho. Em menos de um dia.

À BEIRA DO ABISMO (1946) é a segunda parceria de Hawks com Humphrey Bogart e Lauren Bacall, depois do sucesso de UMA AVENTURA NA MARTINICA (1944). Não gostei tanto quanto o filme anterior. Principalmente porque a estória não faz o menor sentido, uma confusão sem tamanho. Parece que Hawks fez o filme mesmo pra confundir. Em entrevista para Peter Bogdanovich, o cineasta afirmou que nem ele nem os roteiristas conseguiram decidir quem havia matado determinado personagem. Hawks orgulhava-se de ter feito um filme que desarmou os críticos, "porque eles tentavam ser tão espertos quanto o sujeito do filme, e fracassavam." Fico imaginando a expressão de confuso do público ao sair do cinema na época. O roteiro do filme é de autoria de William Faukner, a partir do romance de Raymond Chandler. Será que o livro do Chandler é tão complicado e insolúvel quanto o filme? Suspeito que não.

Hawks leva às últimas conseqüências o fato de que em seus filmes as mulheres são atiradas. Eu adoro as mulheres hawksianas. Talvez por querer que todas as mulheres sejam um pouco assim. No filme, todas as mulheres dão em cima do detetive Philip Marlowe (Bogart), desde as taxistas até as vendedoras de livros. Eu me amarrei na Dorothy Malone, que aparece linda e sensual no papel de uma atendente de livraria. Em questão de minutos, Marlowe encanta a mulher e eles dão umazinha enquanto a chuva passa. Claro que isso não é mostrado, é substituído por uma elipse, mas não deixa de ser bastante excitante. Aliás, gostei mais da Dorothy do que da própria Bacall, que tem uma beleza um tanto estranha pra mim. Vai ver porque eu me lembro dela já velha.

Um detalhe que me chamou a atenção foi os maneirismos de Humphrey Bogart. O jeito como ele mexe com a boca, coça o queixo ou reage a algum flerte me lembrou o Jerry Seinfeld. Será que mais alguém reparou nisso também? O fato de o filme mostrar personagens o tempo todo fumando, dos créditos iniciais até os finais, causa uma certa estranheza nos dias de hoje, em que o tabagismo é quase um crime. O bom é que dá pra ignorar a estória e ver outros detalhes como: a fotografia e o clima noir, os diálogos rápidos característicos de Hawks, o humor, como na cena em que Bacall coça a perna, a trilha sonora de Max Steiner, a sucessão de novos nomes e rostos que aparecem para complicar ainda mais a trama, e, claro, as grandes caracterizações de Bogart, Bacall, Martha Vickers e Dorothy Malone. Não entra no meu top 10 do Hawks, mas ainda assim é imperdível.

Para os fãs de Bogart, uma boa notícia: vi no blog do Sergio Andrade que está saindo nos Estados Unidos uma edição especial tripla de O FALCÃO MALTÊS / RELÍQUIA MACABRA, de John Huston, filme que quase foi dirigido pelo Hawks.

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