sexta-feira, novembro 04, 2005

A JANELA DA FRENTE (La Finestra di Fronte)

 

Tenho mania de me apaixonar por atrizes de cinema. Bom, confesso que já me apaixonei até por estrelas pornô, mas garanto que não sou o único. Mas, com Giovanna Mezzogiorno, sinto que a paixão é maior. Essa linda escorpiana nascida em Roma me conquistou desde que vi O ÚLTIMO BEIJO (2001), de Gabriele Muccino, filme que guarda um parentesco com os filmes de François Truffaut, especialmente os do ciclo de Antoine Doinel. 

Se O ÚLTIMO BEIJO está para Truffaut, A JANELA DA FRENTE (2003), de Ferzan Ozpetek, está para Pedro Almodóvar. Mas o Almódovar mais maduro, pós-A FLOR DO MEU SEGREDO. As comparações com o estilo do cineasta espanhol foram uma constante na imprensa internacional. O filme não existiria, ou ao menos não teria o mesmo brilho, sem a presença deslumbrante de Giovanna. A câmera - e, conseqüentemente, o espectador - namora a atriz do primeiro ao último instante. O close final é o mais belo do ano, auxiliado pela belíssima canção-tema "Gocce Di Memoria", da cantora italiana Giorgia. Fui pra casa com essa música na cabeça, em estado de graça, olhando para o mundo com outros olhos, sentindo uma agradável estranheza no ar, um misto de melancolia e prazer. 

A trama de A JANELA DA FRENTE é intrigante: jovem casal (Giovanna e Filippo Nigro) encontra na rua um senhor idoso (Massimo Girotti), vestido de forma elegante, que perdeu a memória. Não conseguindo deixar o pobre velho largado no meio da rua, os dois acabam por levá-lo pra casa para depois passarem numa delegacia de polícia e resolverem o problema. A relação com esse senhor vai fazer com que Giovanna tenha a oportunidade de se aproximar de Lorenzo (Raoul Bova), um rapaz por quem ela tem uma paixão platônica. Ela sempre olhava para ele da janela de sua casa. 

A JANELA DA FRENTE recebeu os prêmios David di Donatello de melhor filme, ator e atriz e é um bom sinal de um possível retorno à vitalidade do cinema italiano, que já foi um dos melhores do mundo. Ao lado de BOM DIA, NOITE, de Marco Bellocchio, o filme encabeça a lista de melhores da ilha da bota a serem lançados este ano. 

Mas não quero terminar esse texto sem elogiar novamente a beleza de Giovanna. Trata-se de uma beleza um pouco triste: quando ela sorri, seu sorriso parece tímido; seus olhos parecem olhar sempre para o infinito, além de ter aquelas olheiras que lembram a Capitu de Machado de Assis. Maravilhosa. Alguns momentos especiais de Giovanna que ficarão gravados em minha memória fotográfica: quando ela atende uma ligação de Lorenzo do celular e solta o seu cabelo, que estava preso; o primeiro beijo com Lorenzo na praça; quando o rapaz diz que não consegue deixá-la; quando ela corre desesperadamente pelas escadas do prédio; quando ela passeia solitária pela cidade; quando ela olha para a câmera no instante final e a gente fica hipnotizado por alguns segundos.

Nenhum comentário: