Ao término de CORRESPONDENTE ESTRANGEIRO (1940), fiquei imaginando o impacto que esse filme deve ter causado para os americanos. Isso porque nessa época, estourava a Segunda Guerra Mundial e o final do filme é dramático e emocionante. O filme é dedicado aos correspondentes de guerra.
Alfred Hitchcock tinha profundo respeito por quem combatia na Grande Guerra. Tanto que em 1944, chegou a fazer dois curtas para o Ministério da Informação Britânico para compensar a sua impossibilidade de ir à guerra. Eram filmes que louvavam a Resistência Francesa. Será que esses curtas chegaram a serem lançados nos EUA? Os títulos são BON VOYAGE e AVENTURE MALGACHE.
Voltando a CORRESPONDENTE ESTRANGEIRO, o filme é uma típica aventura de perseguição hitchcockiana, da linha de OS 39 DEGRAUS (1935), SABOTADOR (1942) e INTRIGA INTERNACIONAL (1959), mas que também tem algo em comum com A DAMA OCULTA (1938), pelo uso do MacGuffin e de criativas retroprojeções.
Lendo a entrevista do livro Hitchcock/Truffaut, soube que nessa época a história de aventura era considerada pelos americanos um gênero inferior. Tanto que Hitchcock queria para esse filme um grande astro - até chamou Gary Cooper, que recusou -, mas teve que se contentar com Joel McCrea, um ator de segundo escalão. Engraçado como McCrea é fraco e perde espaço para um coadjuvante (George Sanders) que faz um papel bem menor que o dele.
Na história, McCrea é um jornalista americano que é enviado a Europa para cobrir uma grande história de guerra no início de 1939, momentos antes de a Inglaterra declarar guerra aos alemães. Ao chegar lá, apaixona-se pela filha do presidente de uma associação pacifista, que na verdade é um espião nazista. A trama esquenta quando McCrea testemunha um suposto atentado a um diplomata holandês.
Isso acontece numa seqüência memorável, numa praça cheia de pessoas com guarda-chuvas. Mas há outras seqüências melhores: a seqüência no moinho na Holanda e a incrível queda do avião no mar. Já tinha lido que a cena era caprichada, mas não esperava tanto. Principalmente para os padrões da época. Na entrevista para Truffaut, Hitchcock explica a maneira inventiva que ele usou para fazer essa seqüência. Quando o avião cai na água, fiquei imaginando o que teria saído se Hitchcock tivesse mesmo feito um filme sobre o Titanic. Uma pena que UM BARCO E NOVE DESTINOS (1943), um filme que se passa dentro d'água, não tenha sido lançado ainda aqui no Brasil.
Um detalhe que eu quase ia esquecendo de contar é que vi o filme num DVD que saiu nas bancas e que está com uma imagem horrível, bem pior que a cópia da Continental. Em certos momentos do filme, principalmente em cenas escuras, mal dá pra se ver alguma coisa, além das legendas. Mas o filme é tão bom que com o tempo eu quase esqueci desse empecilho.
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