sexta-feira, janeiro 14, 2005
ALI
Nunca tinha dado muito bola pra Michael Mann, mesmo com tanta gente boa - inclusive Martin Scorsese e Olivier Assayas - elogiando o trabalho do homem. Na verdade, tinha achado FOGO CONTRA FOGO (1995) meio chato e O INFORMANTE (1999) apenas um bom filme. Só agora, depois de COLATERAL (2004), que eu me rendi ao seu trabalho. Naturalmente, COLATERAL é o meu preferido de Mann até agora. Ainda não vi DRAGÃO VERMELHO (1986), nem O ÚLTIMO DOS MOICANOS (1992). Mas vi ALI (2001).
ALI foi o primeiro filme que eu vi em 2005. É um filme irregular e um pouco cansativo por causa de sua longa duração, mas é cheio de momentos brilhantes e uma belíssima utilização do scope, algo que eu já tinha notado em COLATERAL. O ponto alto do filme está no prólogo, ao som de Sam Cooke cantando "Bring It on Home to Me". É uma das melhores cenas de introdução que eu já vi. Mann coloca o público negro dos anos 60 se deliciando com a música de Cooke (nem parece hoje em dia, com esse hip hop sem graça), enquanto vemos também cenas de Muhammad Ali (Will Smith) treinando e um pouco do que era o rascismo nos EUA naquela época - coisas como assentos específicos para negros em ônibus ou policiais vendo Ali correndo na rua e achando que é um assaltante. Depois de um prólogo desses, é natural o filme cair um pouco.
Algo que me deixou um pouco desapontado foi a escolha de Mann em abordar apenas dez anos da vida do boxeador, não mostrando sua decadência e seu problema de saúde atual (sou mórbido, hein). Eu tinha visto um pouco de Ali doente no filme DON KING (1997), de John Herzfeld. Inclusive, o filme de Herzfeld tinha me deixado com uma má impressão de Ali. Já o via apenas como um tagarela meio idiota. Mann trata de mostrá-lo como um homem muito inteligente e com uma grande habilidade nas palavras.
Jamie Foxx, que agora está fazendo o maior sucesso, com três indicações ao Globo de Ouro e já considerado favorito ao Oscar 2005, aparece no filme como o amigo e empresário de Ali. Outra pessoa que apareceu também tanto em COLATERAL quanto em ALI foi Jada Pinket Smith, fazendo o papel de uma das três esposas de Ali. Aliás, a vida amorosa do boxeador não é aprofundada, dando a impressão que ele não era apaixonado por nenhuma de suas esposas. Sempre que elas bobeavam, ele arranjava outra mulher.
Interessante também todo o contexto político da época. Ali era amigo de Malcom X e o filme até mostra cena do assassinato do líder negro. Michael Mann valoriza tanto a luta de Ali no Zaire, que dedica 45 minutos de filme só pra essas cenas na África. As cenas de luta são muito boas. Mann usou câmeras amarradas nas cabeças dos atores para que a gente se sinta como se estivesse no ringue.
Lendo o dossiê de Michael Mann no site Senses of Cinema, soube que FOGO CONTRA FOGO era na verdade uma versão estendida do piloto da série OS TIRAS DE LOS ANGELES (1989). Também através desse dossiê, fiquei curioso pra ver A FORTALEZA INFERNAL (1983), que parece ser o único filme de terror de Mann. Isto é, se não considerarmos DRAGÃO VERMELHO como sendo terror.
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