segunda-feira, abril 12, 2004

ONDE ANDA VOCÊ



Estava sentindo falta de ver filme brasileiro no cinema. Os últimos exibidos por aqui não eram muito animadores. Os únicos nacionais que vi no cinema em 2004 foram NARRADORES DE JAVÉ e ÔNIBUS 174. E isso foi em janeiro. Aí, depois veio o Oscar e os filmes brasileiros ficaram esperando vaga nesse tão concorrido e injusto espaço no mercado.

Talvez por isso - pela falta que estava sentindo dos filmes - que curti tanto ver esse ONDE ANDA VOCÊ, do Sérgio Rezende. Depois que o diretor terminou a sua trilogia de filmes históricos, formada por LAMARCA (1994), GUERRA DE CANUDOS (1997) e MAUÁ: O IMPERADOR E O REI (1999), ele tem se voltado para filmes pequenos e mais intimistas. Mas, pelo visto, a receptividade do público e da crítica não tem sido das melhores. Não cheguei a ver QUASE NADA (2000), o filme anterior dele, mas soube que a obra foi esnobada e fizeram até trocadilho infame com o título.

ONDE ANDA VOCÊ é um filme cheio de problemas. Alguns diálogos ruins, interpretações equivocadas e situações pouco convincentes, pra dizer o mínimo. Mas o prazer que eu senti vendo esse filme supera todos os seus problemas. Boa parte desse prazer, eu sei, foi por ter visto a minha cidade, Fortaleza, na telona. Sorri ao ver a velha rodoviária, lugar onde eu costumava ir todas as sextas-feiras dar aula numa cidade do interior; ri de satisfação ao ver a Ponte dos Ingleses (ou Ponte Metálica, como é chamada aqui). Um detalhe: enquanto Fortaleza é mostrada como um lugar paradisíaco, Teresina só recebeu imagem ruim: chamaram o lugar de fim de mundo, mostraram só gente feia, lugar feio e um calor daqueles de rachar o chão.

O tom do filme é saudosista e melancólico, mas sem ter aquela amargura de O PRÍNCIPE, do Giorgetti. Nesse sentido, o filme se aproxima mais de COPACABANA, de Carla Camurati, por causa do carinho pela vida, que é sentido no ar. Há a dificuldade de se desapegar do mundo, mesmo com a morte sempre à espreita.

O personagem de Juca de Oliveira é um lutador. Ele se recusa a se entregar; quer voltar a ser um humorista popular e ter de novo a glória que teve no passado. Lembrei na hora da dupla Renato Aragão e Dedé Santana. O personagem de Juca era do tipo "escada", como o Dedé. E, no filme, ele está à procura de outro parceiro para reiniciar a sua carreira. Ele vai em busca de um tal de Boca Pura, que dizem ser um grande humorista e que mora em algum lugar do Nordeste do Brasil. É quando ele faz uma viagem à Teresina e, em seguida, Fortaleza.

Um dos destaques do filme é a presença de Regiane Alves, numa gloriosa cena de nudez nas dunas. Tem crítico por aí com viadagem, dizendo que a nudez é gratuita. E daí? Uma das razões de o cinema existir não é mostrar o belo? Logo, nada mais justo, não?

Também gostei de ver, no elenco, gente que já prestou muitos serviços ao nosso cinema e à televisão, como Paulo César Pereio, Castrinho, José Dumont, José Vasconcelos, José Wilker... Inclusive, José Wilker meio que repete um pouco o papel de Vadinho em DONA FLOR E SEUS DOIS MARIDOS, filme que é explicitamente homenageado em ONDE ANDA VOCÊ. Outras homenagens incluem os filmes de Fellini e CIDADÃO KANE.

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