ANYTHING ELSE
Graças à junção camaradagem + comunicação, consegui ver hoje em divx, o novo e ainda inédito no Brasil ANYTHING ELSE (2003), de Woody Allen. Eu achei uma delícia o filme. Muito melhor que DIRIGINDO NO ESCURO (2002), que realmente decepciona um pouco. Allen pode não estar tão genial quanto em DESCONSTRUINDO HARRY (1997), mas nesse caso a intenção é fazer mesmo um filme despretensioso, como tem sido a marca desses filmes produzidos pela Dreamworks de Steven Spielberg. Parece que esse é o último filme dessa parceria e Allen deve voltar para a produção independente.
O mais gostoso de ANYTHING ELSE é ver uma renovação, um rejuvenescimento nos filmes de Woody. Refiro-me principalmente ao elenco jovem e à bela história de amor e separação dos jovens Jason Biggs e Christina Ricci. (Ah, a juventude!) De certa forma, alguns dos diálogos soaram meio deslocados, afinal, ver uma jovem de vinte e poucos anos que admira Humphrey Bogart e Cole Porter não é muito comum (ainda que não seja impossível). Mas é que fica claro que é Allen mais uma vez prestando homenagem aos seus ídolos. Em se tratando de diálogos esse filme é maravilhoso. Quem é fã do homem sabe que ele é brilhante nesse quesito. E como o filme não tenta forçar risadas como no caso do anterior, acaba fluindo muito melhor.
A história do filme mostra Biggs como um aspirante a comediante que é apaixonado pela complicada Christina Ricci, tem um mentor espiritual (Woody Allen), um empresário pouco confiável (Danny DeVito) e que freqüenta um consultório de psicanálise regularmente para exorcizar suas neuras. Esse é o mais romântico filme de Allen desde TODOS DIZEM EU TE AMO (1996), ainda que o romantismo seja sempre associado ao desencanto, à dificuldade de manter um relacionamento, mesmo quando se dá tudo de si.
Uma das cenas mais bonitas está no começo do filme, quando Biggs espera por Ricci na chuva, para comemorarem o seu aniversário com um jantar. Ela se atrasa e ele fica ensopado e ainda tem de pagar o taxi. Ele fala que ela está linda e ela diz: “não, eu estou gorda.” Christina Ricci está bem bonita no filme, ainda que seja uma beleza fora dos padrões. Eu particularmente gosto daquela rosto redondo e daqueles olhos grandes que parecem saídos de uma animação japonesa. E ela tem uma sensualidade natural, que pode ser conferida no filme.
O personagem de Allen apesar de secundário é muito interessante. Eu adoraria ter um mentor daqueles, passear no parque com o Woody Allen conversando sobre assuntos diversos seria um barato. No elenco também está Stockard Channing, como a mãe de Christina Ricci. Ela faz uma bela cena cantando e tocando uma canção de jazz no piano. Também há uma cena com Diana Krall num bar. Mas as melhores canções do filme são mesmo as cantadas por Billie Holiday. Em especial “Easy to Love” de Cole Porter. Uma das mais belas canções de abertura e encerramento dos filmes de Allen.
Aliás, quem curte Allen já fica com um sorriso todo estampado no rosto sempre que vai começar um filme dele. Mesmo os menos brilhantes. Aquela tela preta apenas com os créditos iniciais e o jazz ao fundo é uma marca do cineasta, que ele não abre mão de jeito nenhum.
Entre as auto-citações, há uma espécie de homenagem à ANNIE HALL (1977), já que Jason Biggs fala freqüentemente para a câmera sempre que se sente frustrado e quer dividir com a gente esse sentimento. Quem viu esse clássico, não esquece da famosa cena da fila do cinema.
O diretor de fotografia do filme é o iraniano Darius Khondji, que fez a fotografia de DELICATESSEN, BELEZA ROUBADA, ALIEN: RESSURREIÇÃO, SEVEN, O ÚLTIMO PORTAL, O QUARTO DO PÂNICO, entre outros. Confirma mais uma vez a preferência de Allen em trabalhar com fotógrafos não-americanos.
O próximo projeto de Woody Allen, ainda sem título, tem no elenco as beldades Amanda Peet e Radha Mitchel, além da garota-polêmica Chlöe Sevigny. É esperar pra ver.
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