quinta-feira, janeiro 18, 2024

DEZ CURTAS INDICADOS AO OSCAR 2023



No ano passado, acabei não conseguindo ver os 15 curtas indicados às três categorias (ficção, documentário e animação), e já desencanei e desisti, pois o tempo está escasso. Mas acredito que vale a pena deixar registrados meus breves escritos sobre cada um desses trabalhos vistos.

MY YEAR OF DICKS

Comecei minha jornada pelos curtas indicados ao Oscar pelo que tem o título mais atraente. Não sei se chega a ser um bom filme, mas gostei especialmente dos capítulos finais. A cena do pai conversando com a protagonista sobre sexo é impagável, assim como a última cena. Ou seja, na lembrança, é um bom filme sim. A cena no cinema é quase boa, assim como a do parque de diversões. A diretora usa diferentes estilos de animação e de estados de espírito para determinados capítulos e até brinca em algum momento com a animação estilo anime. MY YEAR OF DICKS (2022), de Sara Gunnarsdóttir, foi vencedor do festival de Annecy e talvez isso tenha trazido visibilidade para o prêmio da academia.

COMO CUIDAR DE UM BEBÊ ELEFANTE (The Elephant Whispers)

O vencedor do Oscar na categoria documentário em curta-metragem deste ano foi esta história sobre um casal que vive na região rural da Índia que cuida de dois bebês elefantes. O elefante que se destaca na história de COMO CUIDAR DE UM BEBÊ ELEFANTE (2022), de Kartiki Gonsalves, é o mais jovem, Raghu, que chega precisando de cuidado à aldeia. É um filme cheio de paisagens bonitas, de imagens ternas dos dois humanos com os elefantes, mas não vejo nada que chame tanto a atenção do ponto de vista formal. O fato de estar na Netflix faz com que ele esteja mais à disposição e não deixa de ser uma boa oportunidade de um público maior ter acesso a alguns dos curtas competidores. A vitória deste filme faz lembrar a vitória de PROFESSOR POLVO, outro curta sobre relações de afeto entre pessoas e animais, vencedor do prêmio de melhor documentário no Oscar 2021. Talvez seja uma tendência, talvez seja uma maneira de conquistar a academia pelo amor. No caso do filme dos elefantes, isso me incomodou um pouco mais, pois a trilha sonora triste e insistente é bem irritante.

THE FLYING SAILOR

É engraçado que as animações mais adultas costumam me deixar mais confuso do que documentários ou curtas em live action. Principalmente essas que têm a intenção de evitar totalmente os diálogos e contar sua "história" apenas com imagens. Em THE FLYING SAILOR (2022), de Amanda Forbis e Wendy Tilby, o que temos é basicamente um marinheiro que recorda toda sua vida em poucos instantes, após a explosão de um navio arremessá-lo aos céus. Sinceramente, não vi muita coisa, por mais que se compreenda alguns simbolismos de destaque, como o fato de ele ser visto completamente nu após a explosão, remetendo à infância, nu como veio ao mundo, sem o abrigo da superficialidade que o mundo proporciona. A explosão especificamente remete a Halifax, cidade no Canadá, em 1917.

AN OSTRICH TOLD ME THE WORLD IS FAKE AND I THINK I BELIEVE IT

Curta-animação divertidíssimo sobre um vendedor que não está conseguindo uma meta mínima e recebe uma visita muito estranha de um avestruz, que diz que toda sua vida é uma farsa. AN OSTRICH TOLD ME THE WORLD IS FAKE AND I THINK I BELIEVE IT (2022), de Lachlan Pendragon, é mais ou menos como MATRIX, das Wachowski, e a ideia não é muito nova, mas o jeito como o diretor conta a história faz toda a diferença, principalmente por causa do uso da metalinguagem, que funciona de maneira ainda mais divertida com a animação em stop-motion. São 11 minutinhos que passam tão rapidamente que até poderiam render um longa.

LE PUPILLE

A diretora de AS MARAVILHAS (2014), Alice Rohrwacher, conserva seu interesse em trabalhar com crianças dentro de um cenário bucólico, embora aqui se explore as meninas estudantes de uma escola de freiras em um espaço mais fechado. Tão fechado que a religião surge para condenar uma delas, depois que a garotinha coloca uma canção na vitrola e faz as demais dançarem e cantarem. A madre superiora (Alba Rohrwacher) acha aquilo um absurdo e lava a língua das meninas com sabão. A revanche se dá no momento do bolo doado. Acho uma graça o canto das crianças ao final, tentando buscar uma lição da história contada. Em LE PUPILLE (2022, foto), podemos destacar a bela fotografia de Hélène Louvart, a mesma de A VIDA INVISÍVEL, de Karim Aïnouz.

AN IRISH GOODBYE

Vi este curta no bolão de alguns amigos e até achei que fosse mais interessante do que realmente é. Talvez o que traga mais chances para ele seja apresentar um ator com Síndrome de Down como um dos protagonistas e isso fazer do filme o melhor exemplar para a representatividade dos cinco indicados da categoria live action. Na trama de AN IRISH GOODBYE (2022), de Tom Berkeley e Ross White, dois irmãos discutem após a morte da mãe, enquanto carregam suas cinzas, sobre seus futuros rumos. Um quer partir; outro quer ficar. E no meio de tudo a uma lista com cem coisas para fazer antes de partirem. Se a intenção é emocionar, acho que os diretores passaram longe disso, hein.

THE RED SUITCASE (La Valise Rouge)

Um dos grandes méritos de THE RED SUITCASE (2022), de Cyrus Neshvad, é nos pegar tanto pela empatia diante da garota iraniana que está prometida a um casamento encomendado entre o pai e o noivo, quanto pelo suspense, num jogo tenso de gato e rato da tentativa da menina de fugir, de se livrar daquele homem, disfarçada de alguém do ocidente. Como recentemente o caso das iranianas que fizeram um levante contra o "véu" islâmico causou muito clamor, já torcemos de cara pela garota. Que ela seja muito feliz longe de sua família e de seu país, infelizmente, totalitário.

O EFEITO MARTHA MITCHELL (The Martha Mitchell Effect)

Caso óbvio de filme escolhido para ser destaque nas indicações do Oscar (na categoria curta-documentário) mais pelo tema do que pela qualidade na forma e na criatividade de se contar a história. O filme de cerca de 40 minutos nos apresenta a uma das figuras mais importantes da política americana dos anos 1970, atuando principalmente nos bastidores, mas também dando entrevistas na imprensa, sendo uma figura muito importante para a renúncia do presidente Richard Nixon em 1974, pelo seu (suposto?) envolvimento com o que ficou conhecido como escândalo watergate. Mas talvez as diretoras de O EFEITO MARTHA MITCHELL (2022), Anne Alvergue e Debra McClutchy, tenham um interesse maior em trazer à tona a figura da mulher que tentava dizer a verdade, mesmo sendo silenciada violentamente pelo partido republicano, e que na época era vista por muitos como pouco confiável ou até louca. Típico caso de desconsiderar uma mulher pelo que ela diz chamando-a de louca ou descompensada. Uma pena que o documentário seja tão insosso a ponto de não sentirmos absolutamente nada pela personagem, talvez pela opção por um estilo de reportagem tradicional.

HOW DO YOU MEASURE A YEAR?

A ideia nem é tão original assim. De cabeça lembrei de ANNA DOS 6 AOS 18, de Nikita Mikhalkov, que também acompanha, mas em longa-metragem, o passar do tempo de uma criança até chegar perto de atingir a idade adulta. Em HOW DO YOU MEASURE A YEAR? (2022), o diretor Jay Rosenblatt fez o mesmo com sua filha, mas com perguntas mais rápidas e a partir dos dois anos de idade. Num momento fiquei um pouco tenso, quando ele pergunta do que ela tem mais medo e a criança diz: "de você". De todo modo, apesar da simplicidade no projeto, não deixa de ser fascinante ver o passar do tempo no aspecto físico, e também no quanto Ella vai amadurecendo psicologicamente e percebendo mais coisas em seu universo fora da família.

HAULOUT

Quando comecei a ver HAULOUT (2022), de Maxim Arbugaev e Evgenia Arbugaeva, achei se tratar apenas de mais um filme de observação do mundo animal, em especial do mundo gelado do Ártico. Mas eis que as imagens poderosas que surgem na tela das morsas próximas ao biólogo marinho (único personagem em cena além dos animais) me deixaram muito impressionado. O melhor é não contar muita coisa, sob o risco de estragar as surpresas de quem ainda não viu o filme, mas vale dizer está bem longe do que se espera de um documentário mais tradicional. Há pouquíssimas falas e há imagens do horizonte (com as morsas) que até me fizeram lembrar John Ford - mas pode ter a ver apenas com a iluminação natural que surge de fora para dentro da pequena casa de madeira onde o cientista se instala.

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