sexta-feira, outubro 16, 2020

METRÓPOLIS (Metropolis)



Ando bastante cansado ultimamente. Nesta semana principalmente. Os textos que escrevi sobre os filmes da Mostra vistos em cabine foram escritos com uma dificuldade imensa por causa do cansaço mental. Não sei o quanto isso se apresenta claro nas linhas. De todo modo, não deixa de ser uma alegria poder estar iniciando uma Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, ainda que de forma remota, ainda que não nas melhores condições.

De todo modo, como eu estava me habituando a ver mais ou menos um Fritz Lang a cada dois dias, essa nova rotina atrapalhou um pouco minha peregrinação pela obra do cineasta austríaco. E até já faz alguns dias que vi METRÓPOLIS (1927), que é um filme que, confesso, não está entre os meus clássicos mais queridos. Nesta segunda vez, consegui gostar mais um pouco, principalmente porque a nova cópia remasterizada e com duração ampliada está de dar gosto, mas também porque passei a conhecer melhor a poética do cineasta.

Por outro lado, continuam me incomodando algumas coisas no filme, como o seu final, por exemplo. Para minha surpresa, o próprio diretor também acha o final ruim. Ele disse que na época não tinha a mesma consciência política que foi adquirindo aos poucos. Achei curioso, pois é um final que parece agradar mais a empresários. Não à toa, Adolf Hitler adorou e quis trazer Lang para ser o seu cineasta-nazi mestre. No tal final, há uma confraternização entre o capital e o trabalho.

Na trama, a jovem Maria é uma espécie de mediadora e pacificadora para os trabalhadores escravizados, os que ficam no subsolo. Ela acredita em uma visão um tanto religiosa de uma figura que virá para os salvar ou encontrar o caminho. Há um irritante subtexto de aceitação que essa Maria boa traz. Tanto que quando a Maria má surge e fala para os trabalhadores quebrarem tudo, até achei que eles estavam fazendo o certo sim. Talvez fazer um épico de rebeldia contra o sistema fosse demais até para Lang, que dirá para os nazistas que já estavam a postos àquela altura na Alemanha.

Porém, não há como negar a influência de METRÓPOLIS principalmente nos filmes de ficção científica, como GUERRA NAS ESTRELAS, de George Lucas; BLADE RUNNER - O CAÇADOR DE ANDRÓIDES, de Ridley Scott; BATMAN, de Tim Burton; o videoclipe de Madonna "Express yourself", dirigido por David Fincher, e até na criação de um certo super-herói que mora em uma cidade chamada Metrópolis. Ou seja, o que há de mais valoroso no filme não são as ideias políticas da roteirista Thea von Harbou, mas a genialidade de Lang na inovação visual, algo já bastante presente em obras anteriores, mas aqui mostrado explícito devido à produção muito mais cara. E acabou por render prejuízos financeiros.

Fracasso comercial, o filme levou quinze meses para ser rodado, empregou 36.000 extras e 200.000 figurinos, Lang passou oito dias filmando dez segundos de stop-motion da visão da cidade, foi o filme mais caro da UFA na era do cinema mudo. A rejeição do público fez com que os produtores cortassem o filme bastante e muito se perdeu. Encontraram uma versão integral na Argentina em 2008.

Outra coisa que me incomoda no filme são os personagens, fracos, unidimensionais. O mais interessante é o quanto se pode tirar deles do ponto de vista visual, como o aspecto vilanesco languiano do inventor maluco vivido por Rudolf Klein-Rogge, ou a exagerada performance de Brigitte Helm, especialmente quando ela aparece como o duplo malvado. Certamente, ela é, de longe, a melhor intérprete do filme. O que é aquela cena dela sendo queimada na fogueira, hein?! Outras estranhezas visuais fazem parte do charme do filme: o cientista louco com mão de ferro ou os trabalhadores que se arrastam em direção às mandíbulas de uma máquina que é também o antigo deus Moloch.

A excelente direção de fotografia é de Karl Freund, que havia trabalhado com Lang em AS ARANHAS (1919-1920). Ele, assim como Lang, passaria a morar nos Estados Unidos. Chegou a dirigir alguns filmes lá também, entre eles A MÚMIA (1932), para a Universal.

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