Um de meus filmes favoritos deste ano é TODOS JÁ SABEM (2018), de Asghar Farhadi. Foi dessas obras que eu vi com mais prazer e interesse. Para minha surpresa, a repercussão entre a crítica, especialmente a brasileira, não foi tão favorável. Meus amigos do excelente podcast Cinema na Varanda também foram unânimes: não gostaram do filme.
Como eu coleciono cartazes dos filmes que vejo em minha página do Facebook e coloco cotação e um breve comentário do que acabei de ver, dei cinco estrelas para o filme de Farhadi, o que foi motivo de surpresa para muitos. E isso foi uma das razões de eu ter preparado uma defesa em áudio para TODOS JÁ SABEM, a pedido, inclusive, do Tiago, que me pediu para encaminhar o áudio quando comentei algo a respeito do filme e do veredito dos varandeiros.
Enfim, depois de várias semanas que vi o filme, fica cada vez mais difícil escrever a respeito, a não ser que através de uma revisão. Então, achei por bem transcrever a minha cola para o áudio enviado ao Cinema na Varanda, desde já os agradecendo por fazer com que eu pensasse o filme e os aspectos que me fizeram gostar tanto dele. Segue abaixo o texto que serviu de base para o áudio.
"Sabe quando você ouve alguém xingando aquela banda de que você gosta muito e você fica vermelho de raiva? Pois é. Ultimamente isso não tem acontecido muito com os filmes, mas isso depende muito do grau de pedradas que ele recebe. Pois é. Ouvindo o podcast sobre TODOS JÁ SABEM senti mais ou menos isso, embora entenda o quanto é individual a nossa apreciação de cada obra de arte.
Curiosamente, os filmes de Asghar Farhadi que eu mais gosto são justamente os trabalhos dele fora do Irã, O PASSADO (2013) e este novo, feito na Espanha. Embora goste bastante também de PROCURANDO ELLY (2009), que guarda muitas similaridades com a trama do novo filme.
TODOS JÁ SABEM me conquistou desde o início e me manteve interessado na trama e nos dramas de seus personagens até o final. Vi tudo com muito entusiasmo mesmo. O começo, com Penélope Cruz e Carla Compra, a jovem que interpreta sua filha mais velha, sorrindo, representando uma alegria de estar vivo naquele ambiente rural e lindo da Espanha. Senti-me como que levado para aquele vilarejo. E muito feliz por isso.
E esses momentos felizes são fundamentais para que se faça um contraste com o momento sombrio que acerca o filme logo após a notícia do sequestro da garota.
Se Farhadi não deixa um toque latino no filme, o que acho questionável, não vejo isso como um problema. É um filme de um cineasta estrangeiro, um dos grandes cineastas da atualidade, que tem uma habilidade em tratar de suspenses e dramas familiares como poucos de sua geração. De todo modo, Farhadi é iraniano, de um país que não tem as mesmas liberdades da Espanha, por exemplo, muito por causa da religião imposta e dos costumes de muitos anos. Assim, ele dá o que ele tem de melhor.
Além do mais, a fotografia de José Luis Alcaine, grande mestre, tendo vários trabalhos com Pedro Almodóvar, também confere à obra uma beleza toda própria.
O aspecto de novela do drama, envolvendo revelações de paternidade e dinheiro, pode mesmo incomodar a alguns, mas eu abracei com muito amor, junto com a trama de whodunit, que ganha força justamente por ser emoldurada pelos dramas individuais de cada personagem, seja o trio principal (Penélope, Bardem, Darín), sejam os coadjuvantes, cada um importante, já que qualquer um poderia estar envolvido no sequestro da garota.
E não, de jeito nenhum, eu vejo o filme como uma obra em que o roteiro é a mola principal. O comentário que eu fiz quando saí da sessão foi justamente esse: 'que diferença faz um grande diretor, não é?' Mas, claro, eu tinha adorado cada minuto do filme. Então, puxei sardinha para o nosso querido Farhadi. Enfim, não sei se defendi o filme como gostaria (sou péssimo debatedor, eu sei), mas acredito que falei o principal.
Abraços a todos!"
E foi essa a minha defesa do filme. Espero que alguns leitores concordem comigo. Há muitos aspectos que eu poderia ter enfatizado, modificando o texto, mas preferi não mexer.
+ TRÊS FILMES
ENTARDECER (Napszállta)
Achei muito difícil entrar neste filme. Ele demora demais a nos deixar a par da situação da protagonista e apresenta personagens masculinos demais, confundido muito. A certa altura não sabia mais quem era o tal irmão dela. O recurso de usar a câmera muito próxima à protagonista, como em O FILHO DE SAUL (2015), é repetido aqui, mas perdendo o frescor (se bem que já não era novidade no filme anterior, os Dardenne já haviam usado isso de forma parecida). O final traz algo que ajuda a dar um pouco de sentido à trama do filme, conectando-o com um evento histórico importante, mas acho que naquele momento já estava tarde demais para mim. As 2 horas e 20 demoram a passar. Direção: László Nemes. Ano: 2018.
BORDER (Gräns)
Um filme que me intrigou bastante no começo, mas que depois foi fazendo perder o meu interesse. E nem é pela forma como ele vai se mostrando o que de fato é, mas é como a conclusão me pareceu insatisfatória, principalmente por dar muito peso à questão criminal e um pouco menos à relação entre os dois personagens peculiares e no sentimento de autodescoberta da protagonista. Ainda assim é um filme bonito plasticamente. Direção: Ali Abbasi. Ano: 2018.
CAFARNAUM (Capharnaüm)
Acho que estou meio insensível ultimamente. Já vi alguns melodramas dignos de pessoas sensíveis e não chorei. (Quer dizer, acho que chorei um pouco no melodrama A CINCO PASSOS DE VOCÊ.) Enfim, CAFARNAUM pega pesado na exposição da miséria humana e na descida aos infernos de um garoto de cerca de 12 anos em uma cidade do Líbano. Há situações tão pesadas que a gente fica um tanto ressabiado com a diretora, pensando no quanto ela pode ter exagerado. Além do mais, fica difícil não fazer comparações com PIXOTE - A LEI DO MAIS FRACO, que é um filme tão mais cru e tão sem filtros, coisa que não falta neste filme da Nadine Labaki. De todo modo, o garotinho Zain Al Rafeea é fantástico. Ano: 2018.
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