Walter Hugo Khouri, o maior de nossos cineastas, depois de um flerte com o film noir americano no excelente ESTRANHO ENCONTRO (1958), conseguiu financiamento e apoio para uma produção com dinheiro estrangeiro, rodado, tanto em inglês como em português. Infelizmente a versão em português está dada como perdida, mas podemos comemorar o fato de que existe a versão em inglês, que pode não ser exatamente o FRONTEIRAS DO INFERNO (1959), mas sua versão irmã gêmea, LONESOME WOMEN. De todo modo, ter acesso a uma obra como essas já é uma bênção para quem é fã da obra do mestre.
Assim como a obra anterior, FRONTEIRAS DO INFERNO lembra mais cinema americano do que cinema europeu. A partir de NOITE VAZIA (1964), ele faria um cinema que lembraria tanto Ingmar Bergman quanto Michelangelo Antonioni. Aqui o que temos é uma espécie de western passado numa cidade pequena cujo principal motor econômico é o garimpo. Trata-se de uma cidade amaldiçoada, com as pessoas (principalmente as mulheres), sentindo-se como se estivessem vivendo numa espécie de inferno.
O filme começa com a presença de um homem idoso que encontra um diamante de tamanho generoso. Como é garimpeiro há anos, sabe que o dono das terras lhe pagaria apenas uma pequena quantia por aquela preciosa pedra, que poderia ser sua chance de sair daquele lugar com sua filha (Aurora Duarte). A chance de fugir dali vem quando surge na cidade um homem estrangeiro (Hélio Souto), cujo carro é capaz de passar por terras acidentadas. Logo aquele homem também será alvo da agressão e opressão do líder dos garimpeiros, que suspeita que ele está com a pedra, depois que o pobre velho morre, em seus braços.
Por mais que possa parecer um filme à moda antiga sobre um herói que vem de longe para salvar a mocinha, FRONTEIRAS DO INFERNO traz algo que seria uma das marcas do cinema de Khouri: a importância das personagens femininas. Aqui elas são várias e vivendo em diferentes realidades. Todas elas possuem motivos mais do que suficientes para fugirem daquele lugar e encontram na figura do forasteiro a chance. Como um filme sobre a cobiça, porém, já não é tão marcante. O cinema americano já fez exemplares tão melhores a respeito. Por isso, o que marca mesmo nesta produção de encomenda é o quanto de atmosfera khouriana já é possível perceber.
A cópia que chegou em minhas mãos é ripada de um VHS da Something Weird Video nos anos 1990. Está com as cores esmaecidas, mas já é uma surpresa ser um filme em cores. Com dinheiro brasileiro, Khouri só faria um filme em cores em 1970, com O PALÁCIO DOS ANJOS.
+ TRÊS FILMES
MINHA FAMA DE MAU
A gente torce para que o filme encontre o seu prumo, mas infelizmente há muita coisa sem tesão ou apresentada de maneira tão ruim que seria melhor que tivesse sido deletada, como a cena da apresentação da canção "Amigo", por exemplo. O filme ficaria menos falho sem essa parte. Aliás, o ator que faz o Roberto não convence (e canta mal, ainda por cima). Já o Chay Suede está bem como o Erasmo. Ele já havia se mostrado muito bem em RASGA CORAÇÃO. Falta também força nas canções, principalmente nas melhores dessa primeira fase da dupla Roberto-Erasmo. Direção: Lui Farias. Ano: 2019.
INTIMIDADE ENTRE ESTRANHOS
Antes de entrar para a sessão deste filme eu já estava pensando: antes ver um filme brasileiro fraco do que um americano fraco. E é assim mesmo que eu penso. No caso deste aqui, que conta com roteiro de Matheus Souza, é possível ver com algum prazer até o final, principalmente por causa da personagem de Rafaela Mandelli. Os dois homens da história são dois bocós, embora a gente se solidarize um pouco com o jovem que se apaixona pela mulher mais velha que ele, mas bastante atraente. O final é meio constrangedor e podia ser evitado, a partir do roteiro. Direção: José Alvarenga Jr. Ano: 2018.
DIAMANTINO
Uma coisa não dá para negar de DIAMANTINO: sua singularidade. E é um filme que abraça o seu protagonista a ponto de se tornar um com ele. Ou algo próximo disso, já que há vários momentos em que apenas o espectador ri das situações. Diamantino não tem consciência do que está acontecendo, embora como narrador onisciente ele passe a ter. Há também as boas alfinetadas na extrema direita e no que o mundo vem se tornando. Direção: Gabriel Abrantes e Daniel Schmidt. Ano: 2018.
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