Um dos filmes marcantes do início de minha cinefilia foi este A MENINA DO LADO (1987), de Alberto Salvá (embora só tenha visto na televisão). Hoje eu vejo que nem é a grande história de amor contada pelo diretor catalão naturalizado brasileiro. Sua obra-prima e seu filme-testamento, NA CARNE E NA ALMA (2012), tem muito mais impacto emocional, embora seja quase invisível para o grande público. Já A MENINA DO LADO, por outro lado, até por causa das polêmicas na época (se fossem nos dias de hoje o diretor seria apedrejado), ganhou uma fama enorme.
Vencedor de dois prêmios em Gramado, um para Reginaldo Faria e outro para a jovem atriz revelação Flávia Monteiro, o filme conta a história de amor entre uma adolescente que passa uns dias em uma casa de praia sozinha e um jornalista, um homem de meia-idade, que também passava os dias sozinho na casa ao lado, a fim de escrever um livro. A MENINA DO LADO trata de mostrar muito bem os contrastes entre a energia e o modo de ver a vida dos dois personagens.
Como se trata de um filme sem voice over, complementamos a interpretação de Faria com nosso próprio modo de ver aquela jovem doce que age com tanta naturalidade que parece impossível não se encantar, mesmo que de modo distante, ainda mais diante do aspecto proibido da relação. Assim, o personagem de Faria não é pintado como um tarado ou algo do tipo. Ao contrário, o sentimento que ele cria pela garota é de fato uma paixão intensa, paixão que pode ser muito bem compartilhada pelo espectador, causando alguma idenfiticação.
Em entrevista para o site Devo Tudo ao Cinema, a amiga e companheira de Salvá, Olga Pereira Costa, conta que o processo criativo do diretor era muito de cortar e colar experiências da vida dele e de seus amigos. Ele era um sujeito muito observador e a vida era a principal fonte de inspiração para a criação dessas obras. No caso de A MENINA DO LADO, trata-se da adaptação do conto "Alice", de sua própria autoria, que o cineasta escreveu para a revista Status, para a seção Contos Eróticos. O conto foi premiado, e ele resolveu transformar em roteiro e filme.
Flávia Monteiro nunca tinha feito cinema na vida e foi escolhida logo no teste, que consistia apenas em passar batom em frente ao espelho. Assim que a viu, Salvá logo disse para a equipe: "temos a nossa Alice!". E de fato Flávia se materializou em Alice. O conto, não sei se é fácil de conseguir ver, mas creio que se pegarmos para ler, o rosto da jovem atriz aparecerá facilmente em nossa mente. Uma pena que o diretor passou tanto tempo para realizar o seu longa-metragem seguinte, justamente o seu último.
+ TRÊS FILMES
FULANINHA
Delícia de filme do David Neves, grande cronista da vida no Rio de Janeiro. Aqui achei que o filme ia caminhar pela obsessão do personagem de Marzo pela ninfeta, que é realmente linda, mas FULANINHA acaba seguindo por outros caminhos e também enriquecendo sua fauna de personagens interessantes e simpáticos. A moça que faz a personagem-título, Mariana de Moraes, bem que podia ter feito mais sucesso. Um achado de linda. Ela tinha 17 anos na época do filme, mas sua personagem tem 14. Pela idade, não sei se cenas de nudez são proibidas hoje no ECA, ou apenas se houver algo mais apimentado. Se for proibido, é bem possível que este filme nunca ganhe uma cópia remasterizada. Ano: 1986.
RIO BABILÔNIA
Vi a famosa cópia sem cortes de RIO BABILÔNIA. Ao que parece passou nos cinemas com cortes e também quando exibida na TV paga. De ousadia temos membros masculinos eretos e em uma cena dá impressão de que houve penetração (logo na cena com a Denise Dumont!). O filme parece sofrer de uma falta de lugar para ir, mas há vários momentos muito bons e às vezes dá para rir das festas de suruba. Ainda assim, acho que a cena mais bonita plasticamente é a com a Christiane Torloni em cena de sexo suave com o Joel Barcelos. No mais, não deixa de ser curioso ver Jardel Filho no meio de tanta putaria. Mas é uma putaria que não chega a excitar mais, acredito eu. Não como nos melhores filmes da Boca do Lixo, por exemplo. Mas o cinema carioca tinha as suas vantagens, como encher o elenco de atores famosos e ter um trabalho de som muito melhor. Um luxo. Direção: Neville d'Almeida. Ano: 1982.
KARINA, OBJETO DE PRAZER
No mesmo ano da obra-prima TCHAU AMOR (1982), Jean Garrett fez esta outra parceria com a atriz Angelina Muniz. Aí é um drama muito mais carregado de erotismo, desses de dar gosto mesmo. A cena de Karina fazendo sexo com o sujeito que ela conhece no cassino é uma das melhores que eu já vi no cinema brasileiro. Aliás, o filme já começa com um caprichadíssimo striptease da protagonista. Mas pra não dizer que o filme é machista, a trama e a moral da história é justamente o contrário: Garrett fez um belo drama feminista. Ano: 1982.
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