sábado, janeiro 14, 2017
LA LA LAND – CANTANDO ESTAÇÕES (La La Land)
Quem não se deixou levar pelo encanto ao ver o primeiro trailer de LA LA LAND – CANTANDO ESTAÇÕES (2016)? As imagens são de encher os olhos e a delicadeza com que vendem "City of Stars", cantada pelo próprio Ryan Gosling, parece um indicador de que estamos/estaremos diante de um novo clássico. E é possível que o novo filme de Damien Chazelle seja. O tempo dirá. O que temos, por enquanto, é um belo trabalho que homenageia os clássicos musicais produzidos por Hollywood entre os anos 1930 a 60.
E um dos méritos do filme é não apontar de maneira tão óbvia as referências a esses clássicos, embora, quem tenha visto filmes como CANTANDO NA CHUVA, A RODA DA FORTUNA e AMOR, SUBLIME AMOR vá reconhecer as homenagens. É também o terceiro filme de Chazelle, de uma carreira de apenas longas-metragens na direção (sendo o primeiro um tanto obscuro), que trazem o jazz como tema. Ou como um dos temas, na verdade.
Se WHIPLASH – EM BUSCA DA PERFEIÇÃO (2014) é sobre obsessão, em LA LA LAND a obsessão até move os personagens, tanto a aspirante a atriz vivida por Emma Stone, quanto o pianista/tecladista vivido por Ryan Gosling. Ambos estão em começo de carreira e têm sonhos de se tornarem importantes fazendo o que amam. Chegar ao primeiro time de Hollywood não é fácil, assim como também não é fácil conseguir viver e ser bem-sucedido com o jazz, um gênero musical cada vez mais fechado e admirado por poucos.
Mas não é a obsessão o tema dominante de LA LA LAND. O que vemos aqui é, principalmente, uma história de amor. Uma história de amor que peca um pouco por deixar com que o cinismo contamine um pouco a pureza do sentimento que poderia ser explorado de maneira mais apaixonada (ou sutil, mas amorosa). A história também não ajuda, já que há poucos momentos de tensão na relação do casal – o foco na carreira pesa um bocado. Além do mais, Ryan Gosling tem uma persona que não combina com a figura de um quase loser. Ele é muito cool, muito seguro de si. Quase como se ele tivesse saído de uma filmagem de DRIVE, de Nicolas Winding Refn.
Curiosamente, há uma cena que se passa no planetário do Observatório Griffith que acaba lembrando outra cena em um planetário também estrelado por Emma Stone: a do subestimado e belo MAGIA AO LUAR, de Woody Allen. Lembremos que o casal do filme de Allen, nesta cena, está em um impressionante momento de tensão de sua paixão ainda não assumida. Quanto a cena do planetário de LA LA LAND, é lá que acontece uma das cenas mais bonitas, visualmente falando, mas que passa uma sensação de que a intenção não chega ao resultado arrebatador que quer causar, com o casal levitando.
Se pensarmos na famosa cena do parque de A ROSA DA FORTUNA, de Vincente Minnelli, não é preciso que o casal, enquanto dança, levite, literalmente. A música e a leveza dos corpos de Fred Astaire e Cyd Charise passam esse sentimento e nos arrebata. Mas claro que não é nada bom ficar fazendo esse tipo de comparação com clássicos já estabelecidos. Um filme novo acabou de vir ao mundo e ainda está sendo avaliado e deve ser revisto com o devido carinho, principalmente se a carreira de Chazelle se encaminhar para outro filme tão bom quanto este e principalmente quanto WHIPLASH.
Curiosamente, LA LA LAND não é um filme com tantos números musicais. Eles são até escassos se pensarmos na duração de pouco mais de duas horas. Mas as canções poderiam ser mais grudentas e apaixonantes, embora possam melhorar numa revisão, como é natural acontecer com canções, em geral. Nesse sentido, não dá para reclamar, porém, das cenas de dança. Emma Stone dançando com suas duas colegas. A cena inicial dos carros parados. Stone e Gosling no parque. Essa cena, em especial, tem um movimento de câmera belíssimo. E o filme não apela para a montagem e close-ups como fez CHICAGO para atrapalhar. Assim é possível apreciar a dança dos amantes sob o fundo sempre belo.
Justamente pelo capricho visual, trata-se de um filme que pede para ser visto em uma sala que dispõe de uma ótima projeção, para que se possa apreciar devidamente a fotografia de cores vivas e a direção de arte e figurinos belamente anacrônicos, bem como um sistema de som que reverbere por toda a sala e faça com que as intenções de Chazelle cheguem ao espectador sem ruídos de comunicação.
LA LA LAND – CANTANDO ESTAÇÕES foi recordista de prêmios no Globo de Ouro, vencendo em todas as categorias em que foi indicado: filme, direção, roteiro, ator, atriz, trilha sonora e canção ("City of Stars").
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