domingo, agosto 02, 2015

OS GUARDA-CHUVAS DO AMOR (Les Parapluies de Cherbourg)



E foi na tarde desta quarta-feira que eu tive o prazer imenso de assistir um dos melhores filmes da minha vida. Dizer isso, passados já vários anos de meu período de formação como cinéfilo, chega a ser surpreendente até pra mim, mas sei o quanto isso é verdadeiro a cada vez que volto a pensar nesta obra-prima de Jacques Demy, OS GUARDA-CHUVAS DO AMOR (1964), ganhador da Palma de Ouro em Cannes.

E pensar no quanto eu tive preconceito em pegar este filme para ver, só de saber que era inteiramente cantado. Que bobagem. Mas, por outro lado, ter adiado tanto esse meu encontro com o filme fez com que eu tivesse a oportunidade de vê-lo em uma cópia gloriosa em DCP 2K, numa versão remasterizada, com seu technicolor vivo e nítido.

Quanto ao fato de ser cantado o tempo inteiro, chega uma hora que isso se incorpora à narrativa, à história de amor entre Geneviève (Catherine Deneuve) e Guy (Nino Castelnuovo), que é como se fosse uma história falada. A música de Michel Legrand, a história envolvente e os aspectos visuais ajudam a compor, no conjunto, um amálgama de elementos que contribuem para um sentimento de arrebatamento emocional.

O romantismo de OS GUARDA-CHUVAS DO AMOR, porém, possui algo de realista também, levando em consideração o seu desenvolvimento e a conclusão, e isso torna a obra máxima de Demy ainda mais admirável. Não se trata apenas de trazer desilusão para os personagens, mas de mostrar também as possibilidades de se encontrar a felicidade (ou algo próximo disso) no cotidiano pouco floreado do dia a dia.

O filme é narrado em três atos. O primeiro é dedicado ao casal perfeito incorporado por Deneuve (mais linda do que nunca em seus 21 aninhos, mas inicialmente interpretando uma moça de 16) e o italiano Castelnuovo. Eles se amam muito e planejam se casar e ter filhos e dizem juras de amor um ao outro. Ele é apenas um mecânico de automóveis, ela trabalha com a mãe numa loja de guarda-chuvas, mas isso não tem muita importância diante do amor maior. Até que um dia Guy precisa lutar na Argélia, deixar o país por uns dois anos.

O segundo ato, dedicado à ausência de Guy, faz com que nos apeguemos ainda mais à Geneviève, à sua condição, às poucas cartas recebidas do amado, à questão do novo pretendente que representa uma estabilidade financeira futura, além da forma amável com que ele a aceita. Mesmo assim, difícil não torcermos pelo reencontro do casal inicial, embora isso acontecer se torne cada vez mais difícil. O terceiro ato é dedicado a Guy e a sua frustração em voltar para casa e ver tudo mudado e o amor de sua vida inacessível.

Alguns momentos são particularmente especiais, dentro de um conjunto que por si só já é todo especial. Muito disso se deve à música de Michel Legrand, em especial o tema "Non, je ne pourrai jamais vivre sans toi", cuja instrumentação orquestrada é recorrente ao longo do filme, causando muita emoção, especialmente quando transposta para a cena da despedida na estação, com aquele detalhe arrasador do travelling para trás, indicando a separação do casal. Posteriormente, a agridoce canção-tema de Guy e Madeleine (Ellen Farner) também é destaque e de uma beleza impressionante.

E, pra completar, o filme ainda tem aquele final para nos deixar extremamente devastados, com lágrimas nos olhos. OS GUARDA-CHUVAS DO AMOR é filme para se guardar no fundo do coração, com o maior carinho do mundo.

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