quarta-feira, junho 11, 2014

MINHA ESPERANÇA É VOCÊ (A Child Is Waiting)























Segundo filme produzido em Hollywood de John Cassavetes, MINHA ESPERANÇA É VOCÊ (1963) foi uma obra que fez com que o realizador se afastasse da meca do cinema americano para voltar ao seguro território independente em Nova York, sua cidade, e onde estreou com SOMBRAS (1959).

Se em A CANÇÃO DA ESPERANÇA (1961) ainda se notava muita similaridade com o filme anterior de Cassavetes, seu terceiro longa-metragem é bem mais quadrado, com as características típicas dos melodramas americanos dos anos 1950 e com dois astros já consagrados marcando presença: Burt Lancaster e Judy Garland. Outro nome conhecido no elenco é a sra. Cassavetes, a jovem e bela Gena Rowlands, no papel da mãe do garotinho Reuben.

A primeira cena de MINHA ESPERANÇA É VOCÊ é de cortar o coração: dentro de um carro, o garotinho Reuben, assustado, é convidado a sair de lá para entrar em um carro de brinquedo pelo Dr. Matthew Clark (Lancaster). Mal entrou no brinquedinho, o automóvel do pai foge em disparada, deixando o pequeno garoto naquela instituição para crianças com dificuldades mentais.

O problema é que Reuben, como dizia o próprio Dr. Clark, beirava à normalidade. Só tinha um raciocínio um pouco lento. Muito diferente da grande maioria das crianças daquele lugar, a maioria composta verdadeiramente por crianças com deficiência. A linha principal da história, porém, se inicia com a chegada da personagem de Judy Garland, a triste Jean Hansen.

Ela fica particularmente tocada com o caso de Reuben, um garoto muito carente, solitário e revoltado com sua condição e que não recebia a visita dos pais há muito tempo. Inclusive, o rosto de assombro de Garland ao chegar naquela instituição é verdadeiro, segundo dizem. Ela deu trabalho durante a realização do filme, por problemas pessoais e também por não ficar à vontade com aquelas crianças diferentes. Lancaster foi que deu força para que ela continuasse e aproveitasse o seu rosto atemorizado na construção da personagem.

Garland, curiosamente, aparece quase sempre com o rosto muito branco, com muita maquiagem, e em cenas de close-up, a imagem fica um pouco mais desfocada, provavelmente para disfarçar seus traços da idade. Nota-se uma clara diferença quando vemos, por exemplo, Gena Rowlands, em imagem nítida. Aliás, o filme melhora com os flashbacks que mostram o passado dos pais de Reuben antes da decisão de abandoná-lo.

Além dos problemas de Cassavetes com Judy Garland, houve no final a briga com o produtor do filme, o poderoso Stanley Kramer, que demitiu o diretor durante o processo de edição, depois de tantas discussões no processo criativo. Sem ter direito ao corte final, Cassavetes passou 20 anos longe dos grandes estúdios. Mas isso seria muito melhor para ele. Há, definitivamente, males que vêm para o bem.

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