quarta-feira, abril 23, 2014

HOJE EU QUERO VOLTAR SOZINHO























Daniel Ribeiro estreia em longa-metragem a partir de um premiado e muito querido curta, EU NÃO QUERO VOLTA SOZINHO (2010), que apresenta um triângulo amoroso entre dois rapazes e uma moça no ambiente da escola. Um desses rapazes, Leonardo (Guilherme Lobo), tem deficiência visual e a partir do momento em que começa a se relacionar com o novo amigo, Gabriel (Fabio Audi), passa a nutrir sentimentos de paixão por ele. A melhor amiga de Leonardo, Giovanna (Tess Amorim), enciumada, demora um pouco a aceitar a situação.

O longa-metragem, HOJE EU QUERO VOLTAR SOZINHO (2014), que recebeu dois prêmios no Festival de Berlim, o FIPRESCI e o Teddy Bear, destinado a filmes de temática gay, é uma versão estendida do curta e tem alcançado um bom público nas salas em que está sendo exibido, além de funcionar também como arma (ou escudo) contra a homofobia. Uma das cenas finais, que despertam entusiasmo e palmas da plateia, é o melhor exemplo disso.

Talvez o longa, ao esticar um pouco a história e apresentar novas situações, não seja tão redondo quanto o curta, mas mesmo assim é uma bela história sobre relacionamentos homoafetivos que também funciona como um filme sobre exclusão social e bullying. Mostrar o rapaz cego que "enxerga" o amor longe da visão até passa um ar de amor mais "espiritual" para o sentimento que os dois nutrem. Não que não haja desejo sexual, não é isso. Tanto que o filme mostra esse desejo.

O filme sofre também de um roteiro um tanto esquemático e um tipo de dramaturgia que acaba lembrando um pouco a série global MALHAÇÃO (talvez por se passar no Sudeste e com jovens de classe média), embora não haja uma simplificação excessiva no uso dos planos, que é mesmo da linguagem cinematográfica. Mas o mais importante é que sua simplicidade narrativa torna-o acessível às plateias mais jovens e é uma forma muito eficaz de incentivar a cultura da paz, da amizade e da tolerância.

A canção "Janta", de Marcelo Camelo, que aparece em um momento particularmente bonito do curta, surge no longa, numa festa, de maneira bem discreta e pouco perceptível para quem não a conhece, quase como uma homenagem.

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