domingo, setembro 02, 2012

13 CURTAS EXIBIDOS EM GRAMADO



Não vou falar de CASA AFOGADA, de Gilson Vargas, pois já falei sobre ele quando escrevi sobre os curtas gaúchos. E não vi A TRISTE HISTÓRIA DE KID PUNHETINHA, de Andradina Azevedo e Dida Andrade, pois foi o curta que eu perdi de ver, da mostra competitiva. De extra, há o curta de Davi de Oliveira Pinheiro, O BEIJO PERFEITO, que não vi no festival na Mostra Curtas Gaúchos, mas tive a chance de ver em casa. Vamos aos filmes. Jogo rápido. De antemão, já adianto que foi uma bela de uma seleção de curtas.

LINEAR

O breve curta de Amir Admoni tem como destaque visual a junção da animação com o live action com muito sucesso. Na trama, um bonequinho sai fazendo o trabalho de pintar as linhas no asfalto de uma grande avenida, em meio ao trânsito infernal e ao lixo jogado nas ruas. Filme bonito de ver e bom para refletir. 2012, 6'.

DICIONÁRIO 

Acho que eu estava um tanto disperso quando vi este curta kafkiano de Ricardo Weschenfelder. É um dos curtas que mais gostaria de rever para entender melhor. Mas pelo que me lembro há uma bela fotografia e um ar enigmático envolvendo palavras. 2012, 15'.

DIÁRIO DO NÃO VER 

Se não consegui me envolver com DICIONÁRIO, o mesmo não posso dizer de DIÁRIO DO NÃO VER, de Cristina Maure e Joana Oliveira, que emociona e prende a atenção, ao mostrar a crescente chegada da cegueira a uma mulher e seu difícil processo de adaptação. O filme é belo e intimista e destaca os sonhos que ela tem, enquanto seu mundo fica cada vez mais escuro. 2012, 21'.

META 

Provavelmente o mais engraçado dos curtas exibidos na mostra competitiva principal, META, de Rafael Baliu, lembra um pouco o trabalho de HERMES & RENATO, mas é mais criativo e passa longe de descambar para a grosseria. O filme brinca com a metalinguagem, ao mostrar um personagem que quer dirigir um filme em que ele e sua própria equipe técnica atuam. Tudo para conquistar a garota dos seus sonhos. 2012, 20'.

DI MELO, O IMORRÍVEL 

A seleção dos curtas só trouxe dois documentários e certamente DI MELO, O IMORRÍVEL, de Alan Oliveira e Rubens Pássaro, é o mais brilhante. O curta fala de um cantor que gravou um único disco em 1975 e sumiu. Di Melo conquista com sua presença, assim como também sua esposa. O filme ganhou o prêmio de melhor montagem. 2011, 24'.

MENINO DO CINCO

O grande vencedor da categoria de curtas-metragens, o baiano MENINO DO CINCO, de Marcelo Matos e Wallace Nogueira, é um impressionante filme que lembra o trabalho dos irmãos Dardenne, mas que tem identidade própria. Na trama, um cachorrinho de um menino pobre vai parar num condomínio de um menino rico, que deseja adotá-lo. Não dá para imaginar o quanto o filme cresce até chegar ao final impactante. MENINO DO CINCO ganhou os prêmios de melhor filme, Canal Brasil, júri popular, melhor ator (para os dois meninos), melhor roteiro e prêmio da crítica. 2012, 20'.

A MÃO QUE AFAGA 

O lynchiano trabalho de Gabriela Amaral Almeida é outro exemplo da vitalidade dos curtas brasileiros. A MÃO QUE AFAGA mostra a rotina de uma operadora de telemarketing e sua tentativa de fazer um aniversário para o filho de nove anos, contratando um homem vestido de urso. Grande filme sobre a solidão e que trabalha muito bem as sombras. O filme ganhou o prêmio especial do júri. 2011, 19'.

FUNERAL À CIGANA 

Caso de curta que começa muito bem, mas parece que aconteceu alguma coisa na produção para que ele termine de maneira brusca e com uma conclusão pouco satisfatória. Mostra um grupo de ciganos em busca de enterrar o patriarca morto no lugar que ele desejava. FUNERAL À CIGANA, de Fernando Honesko, ganhou o prêmio de melhor trilha musical. 2012, 15'48".

PIOVE, IL FILM DI PIO 

O segundo documentário da seleção é também muito bom. Retrata Pio Zamuner, cineasta esquecido que dirigiu os últimos 12 filmes de Mazzaropi. O trabalho de Thiago Mendonça mostra um homem que, apesar de aposentado, ainda tem a mania de controlar. É também um retrato um tanto melancólico e saudosista da Boca do Lixo. 2012, 14'56".

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O símbolo que pode ser chamado de "jogo da velha" é o título deste curta de André Farkas e Arthur Guttilla que é mais um exercício de composição de luzes e animação num cenário urbano. Chegou a me incomodar um pouco, por causa do excesso de luzes. 2011, 8'48".

O DUPLO

O meu preferido dentre todos da seleção (junto com MENINO DO CINCO), O DUPLO (foto), de Juliana Rojas, é uma beleza de filme de horror, que lida com o mito do doppelgänger, o duplo maligno que cada pessoa supostamente tem. O duplo no filme é o da professora Silvia, que tem sua vida atormentada a partir do momento em que ela vê uma pessoa igual a ela passeando pela escola. O filme tem momentos de arrepiar e outros de causar muito incômodo. Ganhou o prêmio de melhor atriz para Sabrina Greve e teve exibição no Festival de Cannes. 2012, 25'.

UM DIÁLOGO DE BALLET 

O filme de Filipe Matzembacher e Márcio Reolon que encerra a mostra competitiva de curtas do Festival de Gramado não me animou muito. Mas lembro de críticos que elogiaram o trabalho, que lida com sentimentos e pensamentos de um jovem e um homem mais velho diante do fato de serem homossexuais. 2012, 7'30".

O BEIJO PERFEITO

O curta, extremamente curto, de Davi de Oliveira Pinheiro, é daqueles que mal a gente pisca e já acabou. Por isso, foi até bom eu ter visto em casa, já que pude ver pelo menos três vezes para procurar entender o mistério. O pouco que há de imagens é muito bom. Renderia provavelmente um filme melhor se houvesse mais dinheiro envolvido. Do jeito que está, é um bom teaser. 2012, 1'34".

P.S.: Está no ar, finalmente, a nova edição da Revista Zingu!. A edição traz como destaque o Dossiê Júlio Calasso e o Especial Francisco Di Franco. Colaborei com um texto sobre FILME DEMÊNCIA, de Carlão Reichenbach, escrito alguns meses antes de sua morte. A revista é também de despedidas: despedida de Adilson Marcelino como editor chefe e da coluna "Reflexos em Película", de Filipe Chamy.