domingo, abril 01, 2012
UM MÉTODO PERIGOSO (A Dangerous Method)
Talvez o roteiro de Christopher Hampton, especializado em filmes de época como LIGAÇÕES PERIGOSAS, DESEJO E REPARAÇÃO, entre tantos outros, tenha prejudicado um pouco UM MÉTODO PERIGOSO (2011), de David Cronenberg, que trata da relação de Gustav Jung com uma de suas pacientes e mais adiante com Sigmund Freud. Há também uma preocupação bem acentuada em procurar ser fiel aos fatos, em não desapontar aqueles que querem ver uma história biográfica dos pais da psicanálise. Isso pode ter engessado um pouco o filme, ainda que se possa ver nas entrelinhas elementos característicos do cinema de Cronenberg.
É possível estabelecer comparações, por exemplo, com MARCAS DA VIOLÊNCIA (2005). Em ambos os filmes vemos personagens que querem afastar de si o passado, apagá-lo de suas vidas. No anterior, isso acontece de maneira consciente; neste filme, de maneira inconsciente. Em ambos, elementos exteriores são catalizadores da mudança em suas vidas. E mudança é outro elemento recorrente na filmografia de Cronenberg, desde filmes como CALAFRIOS (1975), para citar um de seus primeiros trabalhos. O próprio fato de Jung querer modificar os seus pacientes e não apenas aceitá-los como são, como quer Freud, já é cronenberguiano.
Em UM MÉTODO PERIGOSO, temos o caso de Sabina Spielrein (Keira Knightley), que aparece no filme com crises de histeria. Utilizando o método da conversa de Freud, Jung encontra aos poucos os motivos que a levaram a chegar àquela situação. Depois de descoberto e aceito o problema de Sabina, Jung e a jovem ficam amigos e depois amantes. Seu histerismo vai logo embora depois que ela descobre e assume o prazer que sente em apanhar. E Jung, como bom sujeito que é, faz o favor de dar-lhe umas boas palmadas e chicotadas antes ou durante o ato sexual. Para a alegria da moça.
Michael Fassbender, ator alemão em ascenção, que apareceu em filmes como o terror inglês SEM SAÍDA, em BASTARDOS INGLÓRIOS, no épico CENTURIÃO, e em X-MEN – PRIMEIRA CLASSE, no qual faz o papel de Magneto, talvez só agora, com UM MÉTODO PERIGOSO e com SHAME, de Steve McQueen, tenha ganhado maior visibilidade. Viggo Mortensen, no papel de Freud, não entrega uma de suas melhores performances e tem até pouca participação no filme, mais centrado na figura de Jung (Fassbender). Vincent Cassel funciona como uma espécie de demônio interior de Jung, responsável por empurrar o psicoanalista a ter um caso com sua paciente masoquista.
Falta, no entanto, mais força ao filme, no sentido de nos deixar mais entusiasmados. É provavelmente o trabalho de Cronenberg mais decepcionante desde SPIDER – DESAFIE SUA MENTE (2002). Mas isso se deve ao fato de que o cineasta tem conquistado uma legião cada vez maior de cinéfilos. Sendo assim, vale esclarecer que o filme é repleto de bons momentos. De todo modo, não deixa de ser motivo de comemoração termos num só ano o lançamento no país de duas obras do diretor, sendo a próxima, COSMÓPOLIS (2012), agendada para o segundo semestre.
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