sábado, abril 07, 2012

HELENO



O que muita gente tem criticado em HELENO (2012), o segundo longa-metragem de José Henrique Fonseca, é o fato de ser muito perfeito tecnicamente, a ponto de se tornar um tanto quanto genérico ou próximo dos padrões do cinema produzido nos Estados Unidos. Até o hábito de interpretar personagens que emagrecem assustadoramente foi incorporado por Rodrigo Santoro no filme. Acredito que isso é uma tendência do cinema nacional, inclusive, por mais que o brasileiro tenha um espírito festivo o suficiente para de vez em quando fazer umas comédias escrachadas.

Isso já começou desde a "retomada", quando os valores do cinema produzido até os anos 1980 foram considerados vergonhosos. Em HELENO, essa necessidade de se adaptar aos padrões internacionais tomou proporções gigantescas, a ponto até de cogitarem Santoro para o Oscar do próximo ano. Mesmo assim, não consigo deixar de pensar HELENO como um trabalho bem cuidado o suficiente para que mereça nossa consideração. O cuidado com a direção de arte, a direção de atores, o trabalho fantástico do Santoro no papel do artilheiro do Botafogo de cabeça esquentada, a bela fotografia em preto e branco de Walter Carvalho, as idas e vindas no tempo para costurar a história de maneira caprichada, tudo isso contribui para que o filme seja tão agradável quanto um drama americano caprichado.

Não sei se temos que, a todo tempo, ter que afirmarmos nossa identidade nacional no cinema. De uma forma ou de outra, os filmes falarão por si mesmos. No caso de HELENO, só o fato de ter o futebol como elemento de grande importância na trama, junto com a imagem das praias do Rio de Janeiro, já deixam o filme com cara de brasileiro. Mas o que mais conta mesmo é a trajetória trágica de Heleno de Freitas, considerado o primeiro craque do futebol brasileiro, mas que, por ter sífilis e não se tratar, viveu atormentado por crises terríveis de raiva, que prejudicou suas relações profissionais e amorosas. Sua transformação em uma criatura quase despida de alma num hospício é arrepiante. Rodrigo Santoro deve dividir sua carreira entre antes e depois de HELENO.

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