quinta-feira, abril 12, 2012
TIO BOONMEE, QUE PODE RECORDAR SUAS VIDAS PASSADAS (Loong Boonmee Raleuk Chat / Uncle Boonmee who Can Recall His Past Lives)
Foi preciso um festival de cinema transcendental para que o aclamado TIO BOONMEE, QUE PODE RECORDAR SUAS VIDAS PASSADAS (2010), do cineasta tailandês Apichatpong Weerasethakul, finalmente chegasse em terras alencarinas. Apesar de mais da metade do público da sessão ter saído antes do final, foi uma experiência única poder ver este filme no cinema. Em especial pela excepcional utilização do som, que me fez lembrar os filmes de David Lynch. Aliás, não é só no som que o filme faz lembrar Lynch, mas também no fantástico e no surreal das situações apresentadas. O que talvez diferencie Weerasethakul de Lynch seja o senso de humor e o clima de terror, que me parecem ausentes ou diferenciados.
De um cineasta que já colocou os créditos iniciais passados 45 minutos de filme em ETERNAMENTE SUA (2002) já se espera algo no mínimo desconcertante. E se o filme inteiro já o é, o que dizer de seus instantes finais, que deixam o espectador sem chão? Uma agradável sensação, aliás, proporcionada por poucos e ousados cineastas. No filme, há um clima um tanto claustrofóbico de tanto verde; povos estranhos e peludos ao redor da cabana do moribundo Tio Boonmee, que sofre de insuficiência renal; e o fantasma de uma mulher que surge depois de passados quase vinte anos de sua morte.
Pelo pouco que li das críticas de seus outros dois filmes mais famosos – MAL DOS TRÓPICOS (2004) e SÍNDROMES E UM SÉCULO (2006) -, seria interessante ter um pouco mais de intimidade com o trabalho do cineasta para perceber certos aspectos, certos temas recorrentes. E isso poderia ajudar a interpretar a sequência final, que trabalha com o duplo. A natureza, ao que parece, também é algo muito presente em sua obra. Em TIO BOONMEE, o personagem-título, abandona sua casa para passar seus últimos dias em uma cabana. E depois da cabana, ele resolve se embrenhar no mato, dividindo terreno com os seres da floresta de olhos vermelhos.
Uma das dificuldades de se analisar um trabalho como TIO BOONMEE é a distância da cultura tailandesa com a nossa cultura ocidental, muito mais íntima das produções americanas. Então, além do problema de certo hermetismo da própria forma do filme, há também um desconhecimento maior do folclore que cerca as criaturas que aparecem, como os já citados macacos-fantasmas ou o peixe que transa com a mulher em um rio. Há também a questão religiosa a ser pesquisada com mais afinco, tanto dentro da sociedade tailandesa, como das próprias crenças esotéricas do cineasta. Há também os simbolismos, que devem ser levados em consideração para entendimento pelo menos parcial da obra. É, enfim, um filme a ser revisto, avaliado, estudado e refletido por dias a fio.
P.S.: Saíram duas matérias que escrevi para o blog do Diário do Nordeste. Uma sobre o novo filme estrelado por Mel Gibson, PLANO DE FUGA, e outra, que acredito que seja melhor: a segunda parte da matéria sobre livros de cinema, destacando, desta vez, o cinema brasileiro.
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