segunda-feira, abril 04, 2011
BLACK RAIN – A CORAGEM DE UMA RAÇA (Kuroi Ame)
Senti-me um pouco carniceiro com o fato de querer ver BLACK RAIN – A CORAGEM DE UMA RAÇA (1989) justo no momento em que o Japão está passando por uma crise que faz lembrar os tempos da Segunda Guerra Mundial, quando o povo japonês teve que conviver com a destruição e as terríveis sequelas de duas bombas atômicas. O terremoto que resultou no pior tsunami da história do país foi noticiado à exaustão pela mídia, mas agora que as coisas se acalmaram um pouco, o interesse parece haver diminuído, ainda que algo tão alarmante quanto o vazamento de radiação continue sendo extremamente preocupante.
BLACK RAIN, de Shohei Imamura, é esclarecedor ao mostrar alguns detalhes do dia em que a bomba atômica atingiu Hiroshima, destruindo a cidade inteira e causando um estrago ainda mais aterrorizante naqueles que estavam em seus arredores. Os efeitos de maquiagem já na época da produção pareciam um pouco de filme B dos anos 50, mas o que conta é a intenção e a intensidade e seriedade com que Imamura retrata aquela triste situação – a fotografia em preto e branco ajuda a dar um ar mais documental ao filme. Talvez seja um pouco desanimador para quem espera mais momentos de destruição e menos sequências passadas cinco anos depois, quando o filme ganha uma narrativa mais lenta.
A tal chuva negra do título se refere à chuva que sucedeu ao impacto da bomba e que atingiu algumas pessoas. Tanto aqueles que foram irradiados pela luz radioativa quanto os que foram banhados por essa chuva têm a morte como destino breve. Passados cinco anos, o filme concentra a atenção na jovem Yasuko e seu casal de tios. Eles estavam juntos no dia da explosão e passaram por uma cidade que mais parecia o inferno na Terra. A garota se aproxima da idade de casar, mas precisa de atestados médicos que afirmem que ela está com saúde e que não foi atingida pela bomba. Seus tios a tratam melhor do que seus pais, com amor e afeto e isso é algo que Imamura faz questão de mostrar.
Quer dizer, não se trata de um filme exploitation, até porque os japoneses contemporâneos de Imamura tratam com muita seriedade o acontecido. Há uma crítica feroz à guerra. O Sr. Shizuma, ao ouvir, sobre a Guerra da Coreia e da suposição de os Estados Unidos poderem novamente lançar outra bomba, vê com tristeza o quanto a humanidade parece estar regredindo. Ao mesmo tempo, vê sua esposa e sua sobrinha – além de amigos queridos – apresentaram os sintomas mortais gerados pela radioatividade. BLACK RAIN é um filme lento e triste que reflete sobre o absurdo da guerra e, mais particularmente, do ato brutal de se matar milhares de pessoas inocentes.
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