terça-feira, julho 08, 2008
O ESCAFANDRO E A BORBOLETA (Le Scaphandre et le Papillon / The Diving Bell and the Butterfly)
Assim como LONGE DELA, de Sarah Polley, O ESCAFANDRO E A BORBOLETA (2007), de Julian Schanabel, foi mais um filme que ganhou destaque entre os indicados ao Oscar desse ano e que ganhou estréia tardia no circuito comercial. Ainda por cima, em cópias digitais. Mas antes tarde do que nunca, embora a espera acabe por esfriar a vontade e a curiosidade de ver o filme. Ainda assim, trata-se de um trabalho que merece ser visto, independente das indicações ao prêmio da Academia. A própria história que deu origem ao filme é, por si só, suficientemente atraente para o público. O filme conta a história de Jean-Dominique Bauby (Mathieu Amalric), editor da revista Elle francesa, que aos 43 anos sofre um AVC. Quando ele acorda do coma, seu corpo está totalmente paralisado, exceto um olho, que pisca e vê tudo que está à sua frente. Assim que acorda, ele tenta mas não consegue se comunicar oralmente e fica frustrado. E será com seu olho esquerdo que ele escreverá um livro, apenas piscando os olhos, utilizando um sistema de letras do alfabeto numa ordem especial, iniciadas a partir das letras mais usadas na língua francesa. Piscar uma vez, quer dizer "sim", duas vezes, quer dizer "não". Trata-se de um trabalho que requer muita paciência por parte dos envolvidos e bastante exaustivo para o paciente.
A primeira parte do filme é todo contado do ponto de vista de Bauby e começa com ele acordando do coma e sendo recepcionado pelo grupo de enfermeiras e médicos. Durante boa parte do filme somos colocados na posição de Bauby, embora evidentemente não tenhamos idéia do que seja sofrer esse tipo de paralisia, tão terrível que não permite nem mesmo a pessoa gritar de raiva, dor ou desespero. É a chamada síndrome locked-in. Terrível ver os médicos costurando o outro olho de Bauby e ele implorando (para si mesmo) que eles não façam isso. E devido a um esforço hercúleo, Bauby vai aos poucos tentando se comunicar dessa maneira nada convencional.
Embora seja tudo muito sofrido, O ESCAFANDRO E A BORBOLETA evita cair no melodrama. Talvez a única cena que possa derramar algumas lágrimas da platéia seja a cena em que Bauby ouve pelo telefone o seu pai, também doente e incapacitado de sair de casa. Falando em lágrimas, bem inteligente o recurso de desfocar a lente sempre que o personagem chora. Ainda assim, suspeito que eu teria gostado mais do filme se Schnabel tivesse carregado um pouquinho mais nas tintas do melodrama. Mesmo não me agradando tanto quanto eu imaginava, o filme tem momentos de rara beleza, como a cena em que Emmanuelle Seigner, a mãe de seus filhos, o leva para a praia. Com um cineasta mais sentimental, essa cena seria de causar choros compulsivos na platéia, mas a opção do diretor foi de contenção das emoções. Em vez disso, há até momentos de descontração e risos no filme, como na cena em que as duas mulheres bonitas que tomarão conta dele no hospital surgem em sua frente e ele pensa na ironia de nem sequer poder tocá-las.
Quanto a Julian Schnabel, ele é um diretor de poucos filmes. Antes de O ESCAFANDRO E A BORBOLETA, o americano de espírito europeu dirigiu apenas dois filmes: BASQUIAT (1996), sobre a vida do artista plástico "descoberto" por Andy Warhol, e ANTES DO ANOITECER (2000), a história do escritor cubano Reinaldo Arenas, que sofreu o preconceito contra a sua opção sexual no regime de Fidel Castro. Nota-se nessa pequena carreira fílmica de Schnabel que ele tem uma preferência por filmes baseados em fatos reais. E a distância entre um filme e outro leva a pensar que Schnabel prefere se dedicar mais à vida do que à arte. Acontece que Schnabel se dedica mais à pintura, tendo já uma carreira respeitada nas galerias de arte em todo o mundo. Para o público não muito ligado ao circuito de arte, que é um público bem restrito e geralmente de elite, talvez o trabalho de pintura mais conhecido de Schnabel seja as pinturas que ele fez para o encarte do álbum BY THE WAY (2002), dos Red Hot Chili Peppers. E muito provavelmente foi a sua paixão pela pintura que o ligou ao cinema, fazendo justamente um filme sobre um pintor de destaque.
O ESCAFANDRO E A BORBOLETA recebeu uma batelada de prêmios e indicações: 4 indicações ao Oscar (melhor diretor, melhor fotografia, melhor edição e melhor roteiro adaptado); dois Globos de Ouro nas categorias de diretor e filme estrangeiro; BAFTA de melhor roteiro adaptado; 7 indicações ao César, inclusive filme, diretor e ator para Mathieu Amalric; melhor diretor no Festival de Cannes e indicações para o Independent Spirit Awards.
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