quinta-feira, agosto 09, 2007
DOMÍNIO DE BÁRBAROS (The Fugitive / El Fugitivo)
Tinha a intenção de, nas férias, assistir um monte de filmes de John Ford. Mas as coisas não correram como planejado e acabei vendo apenas três títulos do Homero americano. Vamos ver se consigo aumentar esse número de Fords vistos nesse mês de agosto. Comecemos então com DOMÍNIO DE BÁRBAROS (1947), filme que acabei vendo com legendas em espanhol fora de sincronia. Felizmente o inglês é bem fácil de pegar de ouvido pois a estória se passa no México - ou em outro país latino-americano, já que o nome do lugar não é citado - e fala-se inglês com sotaque. Até o personagem de Henry Fonda fala tudo bem claramente, como que se esforçando para que o elenco mexicano o entendesse.
DOMÍNIO DE BÁRBAROS é um filme bem estranho. É uma espécie de FAHRENHEIT 451 do Ford. A estória se passa num país pobre e dominado por uma ditadura militar que não tolera a religião. Ser padre, portanto, é crime. E Henry Fonda interpreta o padre perseguido no país pelos militares mas acolhido pelo povo que sente necessidade de ter de volta a sua fé. DOMÍNIO DE BÁRBAROS também pode ser visto como um filme anti-comunista, realizado nos anos em que a Guerra Fria se iniciava, mas a ênfase é dada mesmo no catolicismo, sendo que a personagem da mexicana Dolores del Rio é fotografada muitas vezes de uma maneira que lembra os quadros da Virgem Maria, com raios de luz a envolvendo e uma expressão de compaixão no rosto. Aliás, a fotografia, em tons expressionistas, é um dos aspectos mas interessantes do filme.
O também mexicano Pedro Armendáriz, que estaria no ano seguinte em O CÉU PODE ESPERAR (1948), outro filme "religioso" de Ford, é o chefe de polícia responsável pela caça aos padres. Engraçado que essa faceta católica de Ford, eu só vim a conhecer recentemente. E percebe-se que o aspecto do sacrifício aparece não só nos filmes de temática explicitamente católica, mas também nos filmes de guerra do diretor, como FOMOS OS SACRIFICADOS (1945), e até nos filmes de cavalaria, como RIO GRANDE (1950).
DOMÍNIO DE BÁRBAROS foi um fracasso de bilheteria, mas apesar disso é um dos filmes mais queridos do próprio diretor. É uma livre adaptação de um romance de Graham Greene, "O Poder e a Glória". No livro de Greene, o padre era alcóolatra e pai de uma criança. No filme, isso foi mudado, sendo que os únicos pecados do padre são o silêncio e a covardia, por deixar outros morrerem por ele. Mas mesmo esse aspecto não é tão forte no filme. Falta ao personagem uma proximidade maior com o espectador. Além do mais, a cena trágica do final não tem, por exemplo, o mesmo impacto da morte da protagonista de MARIA STUART, RAINHA DA ESCÓCIA (1936). Ainda assim, é um belo filme.
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