quinta-feira, julho 28, 2005
A ADOLESCENTE (The Young One / La Joven)
Na semana passada faltei umas três vezes ao trabalho por motivo de doença. E cada dia era uma doença diferente. Numa dessas vezes que fiquei em casa, peguei o DVD de A ADOLESCENTE (1960), que havia ganhado do Carlão em junho, a fim de tornar o meu dia um pouco mais agradável. Buñuel é um santo remédio.
Ainda espero ver todos os filmes do cineasta um dia. Devargar eu chego lá. Por enquanto eu só vi metade dos seus 32 trabalhos. Felizmente a Versátil está lançando no mercado vários títulos do mestre do surrealismo no cinema. A ADOLESCENTE, por enquanto, ainda permanece inédito no Brasil e é tido como um título raro.
Pode-se dizer que A ADOLESCENTE seja um exemplo de filme marginal. É meio esquecido dentro da filmografia de Luis Buñuel e foi produzido e co-escrito por pessoas que estavam na lista negra de Hollywood na época do mccarthismo.
Comparando com filmes dele da fase mexicana, este guarda algumas semelhanças, apesar de seus temas recorrentes aparecerem de forma bem mais sutil. Um detalhe que eu percebi quando vi uma série de filmes de Buñuel numa mostra no ano passado é sua obsessão por pernas femininas. Em A ADOLESCENTE, isso é novamente explicitado.
O caráter sedutor da mulher, que vai ser levado às últimas conseqüências em ESSE OBSCURO OBJETO DO DESEJO (1977), seu filme-testamento, aparece também em A ADOLESCENTE. Só que, nesse filme, a mulher surge também como vítima, ainda que ignore o fato de estar sendo abusada.
Na história, uma jovem garotinha é abusada sexualmente por um homem que toma de conta dela, depois que morre o avô da menina. Por causa de sua inocência e pelo fato de ambos viverem isolados numa ilha - a história se passa numa ilha no litoral sul dos Estados Unidos -, a menina não tem noção de que está sendo abusada. Surge o personagem do reverendo, que descobre que ela foi abusada pelo padrasto e quer batizá-la nas águas do rio, a fim de purificá-la do pecado.
O outro foco principal da trama é a presença de um homem negro na ilha. Ele havia fugido de uma cidade, acusado de ter estuprado uma mulher. Na ilha, ele irá enfrentar o preconceito racial dos brancos, que o odeiam apenas pelo fato de ele ser negro.
Uma pena o filme não ter tido uma maior repercussão nos EUA. Ele meio que passou batido e é pouco citado entre os primeiros filmes que ousaram debater a temática do racismo em território americano.
Agradecimentos ao Carlão por ter me presenteado com essa bela raridade.
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