terça-feira, dezembro 31, 2024

TOP 20 2024 E O BALANÇO DO ANO




1. ERVAS SECAS, de Nuri Bilge Ceylan
2. TRENQUE LAUQUEN, de Laura Citarelli
3. STRANGE DARLING, de JT Mollner
4. AINDA ESTOU AQUI, de Walter Salles




5. GARRA DE FERRO, de Sean Durkin
6. O DIA QUE TE CONHECI, de André Novais Oliveira
7. JARDIM DOS DESEJOS, de Paul Schrader
8. MUSIC, de Angela Schanelec




9. O QUARTO AO LADO, de Pedro Almodóvar
10. SEGREDOS DE UM ESCÂNDALO, de Todd Haynes
11. ENTREVISTA COM O DEMÔNIO, de Cameron e Colin Cairnes
12. MAL VIVER, de João Canijo




13. MAIS PESADO É O CÉU, de Petrus Cariry
14. LOVE LIES BLEEDING – O AMOR SANGRA, de Rose Glass
15. POBRES CRIATURAS, de Yorgos Lanthimos
16. FERNANDA YOUNG – FOGE-ME AO CONTROLE, de Susana Lira




17. O SEQUESTRO DO PAPA, de Marco Bellocchio
18. SORRIA 2, de Parker Finn
19. JURADO Nº 2, de Clint Eastwood
20. HERE, de Bas Devos

Menções Honrosas

ZONA DE INTERESSE, de Jonathan Glazer
A PRIMEIRA PROFECIA, de Arkasha Stevenson
RIVAIS, de Luca Guadagnino
DUNA – PARTE 2, de Denis Villeneuve
OS OBSERVADORES, de Ishana Night Shyamalan
ALIEN: ROMULUS, de Fede Alvarez
QUEER, de Luca Guadagnino
TERRIFIER 3, de Damien Leone
GOLPE DE SORTE EM PARIS, de Woody Allen
AINDA TEMOS O AMANHÃ, de Paola Cortellesi

2024 foi um ano incrível. Acho bom começar o texto dessa maneira, pois em geral, se não me engano, a maioria dos textos de fim de ano neste espaço costumavam começar com este redator aqui reclamando de alguma coisa fora do campo dos filmes. Acredito que é importante deixar registrado quando estamos gratos pelo que a vida nos proporciona. No meu caso, sou muito grato pela presença da Giselle em minha vida, pelo nosso noivado, pela viagem excelente que fizemos a São Paulo, pelos filmes, shows (teve até Caetano e Bethânia!) e festas a que fomos, e até por estarmos juntos apenas para caminhar na beira-mar, por exemplo. Foi também um ano que fiz uma viagem maravilhosa para a Irlanda, um lugar cheio de belezas naturais exuberantes, pessoas gentis e uma experiência que trouxe lembranças que levarei para a vida, inclusive profissional, já que o principal motivo foi profissional.

Quanto aos filmes, a regra segue sendo a mesma desde 2020: títulos vistos por mim e do primeiro ao último dia do ano, não importando se foi ou não lançado no Brasil. Embora, deixo claro, eu tendo a esperar pelos filmes que eu sei que chegarão ao nosso circuito. Na viagem para a Irlanda, comprei ingresso para STRANGE DARLING sem saber nada a respeito do filme. E quando fiquei impressionado com a montagem, com a visceralidade, com as interpretações e com as surpresas, fiquei sem entender o motivo de esse filme não estar sendo tão esperado ou tão comentado assim. No Brasil, será lançado em março de 2025 e eu já vou querer ver de novo. Trata-se de mais um exemplar da excelente forma do cinema de horror atual.

E no cinema de horror, um de meus gêneros favoritos e um dos que mais me dá prazer, comparece no top 20 também ENTREVISTA COM O DEMÔNIO, uma das experiências mais divertidas (e também assombrosas) que tive. Foi ótimo poder ver no cinema numa sessão perto da meia-noite. Outra coisa linda de ver foi a surpreendente sequência de um filme mediano: SORRIA 2 traz um Parker Finn que parece outro, de tão inventiva que está sua direção. Ajuda também ter uma atriz maravilhosa como Naomi Scott. Aliás, é muito bom notar que os filmes de terror também têm ganhado com as interpretações, principalmente femininas. STRANGE DARLING também traz uma atriz impressionante, Willa Fitzgerald.

Outro filme que tangencia o horror e perto de seu final entra com força no body horror (e não é aquele com a Demi Moore!) é LOVE LIES BLEEDING – O AMOR SANGRA, que também conta com um par de atrizes extraordinárias. Nem preciso mais elogiar Kristen Stewart. Ela já virou uma das favoritas da casa faz tempo.

O que esses quatro filmes têm em comum, mesmo sendo tão distintos em suas propostas? Os quatro são obras de jovens cineastas, os quatro têm um interesse com o passado, na forma e na textura, seja usando o velho e bom filme em 35 mm, todo ou em parte, para sua realização, seja nos levando a décadas passadas (1970, 80, 2000) e se unindo à série de filmes do gênero que foram chamados de “terror analógico”. O único que se passa nos dias atuais é SORRIA 2, mas o abraçar o velho jump scare sem medo de parecer vulgar e ainda trazer sofisticação para as imagens, já pode fazer com que seja no futuro visto como um clássico. Outros filmes de horror do ano também têm essa pegada do horror analógico, que talvez signifique uma intenção de fuga da realidade presente, ou de buscar nos clássicos uma maior inspiração.

Às vezes (ou quase sempre) o terror é real. E é este terror real que o grande Marco Bellocchio apresenta em O SEQUESTRO DO PAPA, uma incrível história baseada em fatos de um garotinho que é levado à força de sua família judia para crescer dentro de um convento. Tudo porque o menino havia sido batizado por uma mulher católica, longe dos olhos dos pais. É o tipo de filme que deixa o espectador tão indignado quanto assombrado.

E falando em indignação, o cinema brasileiro mais uma vez busca os anos de chumbo como a grande representação de uma época aterrorizante e governada por covardes. AINDA ESTOU AQUI, de Walter Salles, é um filme que tem dado o que falar no mundo todo. E que bom que isso está acontecendo, já que apresenta uma história que merece ser mais conhecida. E Salles faz isso com muita propriedade, unindo o clássico com o moderno, o horror daquele regime autoritário com a alegria de uma música brasileira setentista. Além do mais, AINDA ESTOU AQUI representou um momento de sucesso também comercial para nosso cinema. Com projeção internacional e tudo. 

Em 2024 também tivemos filme novo de Petrus Cariry, um dos mais inventivos realizadores do Ceará, do Brasil e do mundo. Como um cineasta que tem um carinho especial pelo cinema de horror, esse gênero acaba invadindo suas histórias dramáticas. Em MAIS PESADO É O CÉU, temos uma família de pessoas que não têm nada na vida se unindo para sobreviver numa espécie de cidade fantasma, um espaço, aliás, recorrente no cinema do diretor.

Do outro lado do espectro, o cinema brasileiro também trouxe um filme que me fez sair da sessão com a sensação de estar levitando, de tão feliz, como naqueles antigos musicais hollywoodianos. Trata-se de O DIA QUE TE CONHECI, uma espécie de comédia romântica com pessoas bem normais, para os dias de hoje, e dirigido com a mão segura de André Novais Oliveira. O outro filme brasileiro que também me encantou imensamente foi um documentário sobre uma figura incrível e falecida precocemente, FERNANDA YOUNG – FOGE-ME AO CONTROLE, de Susanna Lira, que trata de uma mente inquieta, inteligente e apaixonante.

Falando em paixão, também tivemos histórias de amor neste top 20. HERE, de Bas Devos, é uma história de amor muito particular na forma como é contada. Um filme misterioso, verde, úmido e que parece um sonho. Outro também que tem essa característica onírica é o argentino TRENQUE LAUQUEN, de Laura Citarelli, que mantém uma espécie de tradição de um cinema contemporâneo do país que brinca com narrativas longas e cheias de camadas. São quatro horas e vinte minutos de dar gosto. Outro filme misterioso, mas que parte para uma seara mais bressoniana é MUSIC, da cineasta alemã Angela Schanelec, que conta uma tragédia inspirada nos gregos antigos, mas num formato pós-moderno e hermético.

Quem também faz um cinema inventivo, mas que se utiliza um pouco mais da narrativa clássica, embora distante do que nos acostumamos com o cinema feito nos Estados Unidos, é o turco Nuri Bilge Ceylan, que eu meio que escolhi como meu favorito do ano, desde que eu saí da sessão. ERVAS SECAS é um de seus trabalhos mais bonitos, mas também bastante amargos, com um quê de Dostoiévski.

Como de doce já basta a vida, algo que costumo dizer com frequência, filmes amargos costumam me agradar muito. Entra nesta categoria O QUARTO AO LADO, do grande Pedro Almodóvar, que conta a história de uma mulher que opta por escolher quando partir deste plano, devido a um câncer em estágio avançado. Outro filme amargo que conta, inclusive, com uma atriz em comum (Julianne Moore) é SEGREDOS DE UM ESCÂNDALO, de Todd Haynes, que trata da delicada relação de uma mulher bem mais velha que seu companheiro. (Na verdade, o problema não é exatamente esse.)

O veterano Paul Schrader também trouxe alegria aos cinéfilos com o terceiro da trilogia bressoniana dos “filmes de profissão”. JARDIM DOS DESEJOS foi o único dos três que eu tive o privilégio de assistir na telona. Que coisa linda. Outro diretor veterano, mas que até então desconhecia, foi apresentado a mim com MAL VIVER. O português João Canijo também fez VIVER MAL, um filme que casa com o anterior. Se em MAL VIVER, temos a história do ponto de vista dos donos do hotel, no outro, há o ponto de vista dos hóspedes. Uma pena que o segundo não chegou aos cinemas de Fortaleza. 

Também tivemos o mais novo (talvez o derradeiro) filme do gigante Clint Eastwood, mais uma vez lidando com a temática da culpa, com muita propriedade e muita humanidade. JURADO Nº 2 é aquele filme que todo mundo viu na telinha com vontade de ver na telona.

Na categoria histórias malucas, temos dois representantes muito diferentes. Um deles, GARRA DE FERRO, de Sean Durkin, chama a atenção por ser baseado numa história real. Trata-se da saga trágica de uma família de lutadores de wrestling. É preciso ver para acreditar. A outra história maluca é a comédia-sci-fi steampunk de Yorgos Lanthimos, POBRES CRIATURAS. Uma espécie de reinvenção da história do monstro de Frankenstein, misturando preto e branco com cores que explodem na tela. Uma coisa linda de ver.

Pois é. Não dá para dizer que 2024 não foi ótimo também para o cinema. No mais, pela primeira vez não haverá nem top 5 dos piores (evitei muita tranqueira) e nem top 5 de séries e minisséries, pois não consegui acompanhar quase nada. Não sei se é uma tendência ou se no próximo ano voltarei a dar mais atenção aos bons trabalhos feitos para a telinha.

Top 5 – Musas do Ano



Rebecca Ferguson comparece neste ano novamente, desta vez com DUNA – PARTE 2, o delicioso épico sci-fi de Denis Villeneuve. Nascida na Suécia, chega ao auge da beleza, do sucesso e da popularidade aos 40 anos. 



Emma Stone, a moça de olhos expressivos e marcantes, compareceu aos cinemas neste ano com dois filmes do mesmo realizador, o controverso cineasta grego Yorgos Lanthimos. A dobradinha POBRES CRIATURAS e TIPOS DE GENTILEZA não apenas chamou a atenção para o talento da atriz, como também para sua coragem de se entregar a papéis que poucas atrizes de nome já estabelecido ousariam. Foi a vencedora do Oscar de atriz deste ano. 



Talvez os Estados Unidos já estejam com uma nova namoradinha. E ela talvez seja Sydney Sweeney, que neste ano esteve em três filmes completamente diferentes, a comédia romântica TODOS MENOS VOCÊ, a aventura de super-heróis MADAME TEIA e o terror IMACULADA. Versatilidade, simpatia e um quê de quem nasceu para ser estrela. Sem falar que ela não tem problema em trabalhar um tipo de sex appeal mais acentuado, que faz lembrar Marilyn Monroe.



Quem vê JARDIM DOS DESEJOS certamente cria alguma conexão com a personagem de Quintessa Swindell, que representa uma espécie de redenção para o protagonista. É importante que a atriz tenha um bom empresário, para que consiga papéis em filmes de grandes realizadores, como foi o caso aqui com este de Schrader.



Da nova geração de atrizes, a porto-riquenha Adria Arjona tem chamado muito a atenção. Está em ASSASSINO POR ACIDENTE, a divertida comédia criminal de Richard Linklater, fazendo um misto de femme fatale com mocinha indefesa. Engraçado que eu havia me esquecido dela, mas bastou eu olhar no currículo e checar em meu texto, que na minissérie IRMA VEP, ela já havia me chamado a atenção, e num papel pequeno.

Clássicos (ou Quase) Vistos ou Revistos na Telona 

A GRANDE TESTEMUNHA, de Robert Bresson
A HORA DA ESTRELA, de Suzana Amaral
CORISCO & DADÁ, de Rosemberg Cariry
DONA FLOR E SEUS DOIS MARIDOS, de Bruno Barreto
DUNA, de Denis Villeneuve
ESTÔMAGO, de Marcos Jorge
ISTO É PELÉ, de Eduardo Escorel e Luiz Carlos Barreto
O SOL POR TESTEMUNHA, de René Clément
OS FANTASMAS SE DIVERTEM, de Tim Burton
STOP MAKING SENSE, de Jonathan Demme

Melhores Não-Lançamentos Vistos pela Primeira Vez na Telinha

A ESPOSA SOLITÁRIA, de Satyajit Ray
A FILHA DE SATÃ, de Sidney Hayers
A LONGA CAMINHADA, de Nicolas Roeg
A MARCA DA BRUTALIDADE, de Michael Ritchie
ANJO DO MAL, de Samuel Fuller
CASA DE BAMBU, de Samuel Fuller
DO LODO BROTOU UMA FLOR, de Robert Montgomery
ESCRAVAS DO MEDO, de Blake Edwards
FRANKENSTEIN CRIOU A MULHER, de Terence Fisher
MANDINGO – O FRUTO DA VINGANÇA, de Richard Fleischer
NA CAMA COM VITÓRIA, de Justine Triet
O CAMINHO DA TENTAÇÃO, de Andre De Toth
O HOMEM DE ALCATRAZ, de John Frankenheimer
O SAMURAI, de Jean-Pierre Melville
OS ASSASSINOS SÓ MATAM AOS SÁBADOS, de Duccio Tessari
QUATRO NOITES DE UM SONHADOR, de Robert Bresson
QUERO VIVER!, de Robert Wise
TESTEMUNHA DE ACUSAÇÃO, de Billy Wilder
TORMENTA SOB OS MARES, de Samuel Fuller
UMA LAGARTIXA NUM CORPO DE MULHER, de Lucio Fulci

Revisões na Telinha

A ORGIA DA MORTE, de Roger Corman
A PROMESSA, de Sean Penn
CHRISTINE, O CARRO ASSASSINO, de John Carpenter
NOSSO SONHO, de Eduardo Albergaria
O CHICOTE E O CORPO / DRÁCULA, O VAMPIRO DO SEXO, de Mario Bava
O MONSTRO DO CIRCO, de Tod Browning
O TERCEIRO HOMEM, de Carol Reed
PAIXÃO, de Brian De Palma
PARAÍSO PERDIDO, de Monique Gardenberg
PERSEGUIDOR IMPLACÁVEL, de Don Siegel
TENEBRE, de Dario Argento
UNIDOS PELO SANGUE, de Sean Penn

Feliz Ano Novo!

Que 2025 seja um daqueles anos que marquem positivamente a vida da gente, que consigamos uma melhora na economia de modo a podermos usufruir de viagens e momentos especiais, que nossa saúde se mantenha firme e melhor, que tenhamos paz de espírito e sabedoria para trabalhar e saber tomar as melhores decisões, e que mantenhamos o nosso entusiasmo pelo amor. E que tenhamos tempo para exercitar nossa paixão pelo cinema, razão de este blog existir por mais de 22 anos. 

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