segunda-feira, junho 05, 2006
A GRANDE TESTEMUNHA (Au Hasard Balthazar)
Quem acompanha o blog já percebeu que os cineastas cujos filmes eu mais tenho falado recentemente são Jean-Luc Godard, Carl T. Dreyer e Robert Bresson. Dos três, o meu favorito por enquanto é Bresson, e acho uma pena ser ele, dos três, o que tem a filmografia menor - apenas treze longas. Algumas das premissas de seus filmes são por si mesmas interessantes. É o caso de A GRANDE TESTEMUNHA (1966), visto pelo ponto de vista de um jumento.
Bresson tem uma simpatia por mártires, como pode-se notar em filmes como DIÁRIO DE UM PADRE (1950) e O PROCESSO DE JOANA D'ARC (1962). O mártir dessa vez é um jumento, animal que carrega consigo uma história de participação no nascimento de Jesus e é também um símbolo de humildade e resistência, valores da era de peixes, da era cristã. Valores esses que estão sendo substituídos por outros nos dias de hoje.
Tive dificuldades de assimilar as intenções do diretor e de alguns personagens do filme. Há um tom geral de pessimismo em relação à raça humana. O único puro do filme é o Balthazar, o pobre jumento que passa por vários donos, a começar pela jovem Marie, que demonstra em algumas cenas amar o jumento mais do que a todos a seu redor. Depois que ela passa por um processo de sofrimento e sadomasoquismo nas mãos do malvado Gérard, a moça começa a se distanciar mais do animal. Gérard chega a tocar fogo no rabo de Balthazar para que ele saia do lugar.
O filme se passa ao longo de muitos anos, cobrindo do nascimento à morte de Balthazar. Aliás, não sei quantos anos dura em média um jumento. Na verdade, nem mesmo sei se Balthazar é um jumento. Qual a diferença entre burro, mula e jumento? Excetuando a cena do circo, soube que o animal não chegou a ser realmente treinado para o filme.
A GRANDE TESTEMUNHA é um filme que deve ser visto mais de uma vez para ser melhor assimilado. Os saltos no tempo, a mudança na vida dos personagens e a aparição de novos me deixou um pouco perdido. Se em UM CONDENADO À MORTE ESCAPOU (1956) ouvimos Mozart, em A GRANDE TESTEMUNHA na trilha sonora se tem Schubert.
Próximo Bresson da fila: MOUCHETTE, A VIRGEM POSSUÍDA (1967)
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