sábado, julho 20, 2024

MAXXXINE



O grande barato de Ti West é que ele é um diretor que começou fazendo filmes de terror B, por mais estilosos e sofisticados que alguns sejam, e, agora, mesmo com muito mais dinheiro investido em seu mais novo filme, MAXXXINE (2024), ele segue fazendo essas obras. Seu primeiro filme é o pouco visto (inclusive por mim) ATAQUE DOS MORCEGOS (2005), cujo nome já deixa mais ou menos claro do que se trata. Começou a chamar mais a atenção dentro dos fãs de horror com A CASA DO DIABO (2009), que acho muito legal, talvez seu melhor trabalho até hoje, com um visual que remete ao cinema do gênero da década de 1970.

Essa busca por emular uma época, ele tratou de explicitar em sua trilogia estrelada por Mia Goth, formada por X – A MARCA DA MORTE (2022), a prequel PEARL (2022) e MAXXXINE. O primeiro filme tem um visual mais rústico, de modo a remeter a produções baratas dos anos 1970, a década em que se passa a história, enquanto que PEARL traz um visual à Velha Hollywood. Na trama do primeiro filme, um grupo de jovens procura um lugar na zona rural do Texas para filmar um pornô e ganhar um dinheiro com isso. 

Assim como ocorre em tantos slashers, esse bando de jovens pecadores acabam morrendo um a um, sendo Maxine (Goth), a final girl, ou seja, aquela que sobrevive, mas também mata, indo embora no final e deixando aquele cenário de morte e destruição. Se a jovem sai de lá traumatizada, também sai de lá capaz de cometer atrocidades, como fica claro neste terceiro filme, que se passa em 1985, com a personagem já estabelecida e famosa dentro da carreira de porn star, mas sem ter perdido a esperança de se tornar estrela de Hollywood em filmes, por assim dizer, genuínos.

Sua grande chance aparece quando uma diretora, mesmo sabendo que ela vem da indústria de filmes adultos, resolve enfrentar o mercado e colocá-la como estrela de “A Puritana 2”, continuação (fictícia) de um filme de muito sucesso entre os fãs do gênero. A tal diretora, inclusive, vivida por Elizabeth Debicki (TENET), acredita que seu trabalho não é um terrorzinho B qualquer, mas uma obra de respeito. Maxine passa no teste e começa a pensar já em seu futuro como grande estrela de cinema de Hollywood, espelhando-se não em Marilyn Chambers, atriz pornô que fez um filme de David Cronenberg, o ótimo ENRAIVECIDA – NA FÚRIA DO SEXO, mas em gente como Brooke Shields, que também começou a carreira muito jovem fazendo terror, o maravilhoso slasher COMUNHÃO. Gosto muito, aliás, dessa primeira parte do filme, de todas essas citações a filmes, atrizes e diretores.

No final, MAXXXINE não me empolgou tanto quanto X – A MARCA DA MORTE, mas sei que a ideia de uma trilogia foi uma sacada de mestre por parte de West, que soube aproveitar muito bem o sucesso de um primeiro filme feito com baixo orçamento e o talento de uma atriz como Mia Goth. Aliás, eu diria que Goth está ainda melhor em PISCINA INFINITA, de Brandon Cronenberg. Quem ainda não viu, dê uma chance. Ela está realmente incrível.

O novo filme já passa claramente a impressão de que tem mais dinheiro envolvido (e realmente tem), por mais que procure manter o estilo de filme B de terror da década de 1980, até mesmo emulando certo amadorismo nas cenas de terror, suspense e gore, além de uma fotografia que remonta a fitas de VHS. O suspense não chega a ser bem desenvolvido e em vez disso há uma predileção por cenas tão violentas e gráficas que servem menos para chocar e mais para divertir, como é o caso da cena do assaltante (de certa forma chocante, mas parece uma cena deslocada dentro da narrativa) ou a cena do carro sendo esmagado, talvez duas das minhas favoritas.

Como se trata de um filme sobre uma jovem mulher que busca o estrelato em Hollywood, mesmo já tendo ficado famosa dentro do meio pornô, há muitos momentos que enfatizam essa obsessão da heroína. Nesse sentido, MAXXXINE encontra um forte paralelo com PEARL, que é o que mais lida com um desenvolvimento de personagem. O elenco de apoio também é luxuoso, destaque para Kevin Bacon, mas também para Giancarlo Esposito, Michelle Monaghan, Bobby Canavale e Lilly Collins.

Por mais que o filme de West tenha me decepcionado um pouco, vejo o filme como uma obra representativa da boa e criativa safra atual. Sem falar que se a intenção é mesmo emular obras com pouca capacidade de envolver emocionalmente, mas com um bocado de imagens memoráveis e com sabor exploitation, é sim uma obra que merece a devida atenção e que conseguiu muito do que pretendia. Além do mais, quem gosta de caçar referências, MAXXXINE é um prato cheio, inclusive na percepção do uso de trilha sonora oitentista e homenagem a um subgênero hoje muito mais respeitado, o giallo

+ TRÊS FILMES

UM LUGAR SILENCIOSO – DIA UM (A Quiet Place – Day One)

Imagino que este terceiro filme da franquia Um Lugar Silencioso, por mais que tenha tido a intenção de ser um prequel, já deixou claro que é preciso ideias muito boas para levar à frente uma história que se sustenta basicamente no jogo de não fazer nenhum barulho para não ser comido pelos monstros alienígenas. O novo diretor e roteirista, Michael Sarnoski, sabia disso e por isso tentou fazer um filme intimista, cujo maior mérito é quebrar as expectativas de quem viu os outros dois. O que temos em UM LUGAR SILENCIOSO – DIA UM (2024) é basicamente uma história de amizade de curta duração entre uma mulher com câncer e um homem inglês. Junto deles, um simpático gatinho, melhor coisa do filme. Também considero mérito a opção por mostrar o menos possível da destruição, até porque se percebe que o CGI dos efeitos não é dos melhores. O problema é que o filme também não me ganhou naquilo que mais poderia satisfazer, ou seja, na construção da relação dos dois ao longo da Nova York destruída em pânico. De todo modo, UM LUGAR SILENCIOSO – PARTE III está nos planos dos executivos, e provavelmente com a volta de John Krasinski na direção. A questão é: será que, depois deste prequel desanimador, as pessoas vão se sentir animadas para mais um?

VIOLÊNCIA E TERROR (Intruder)

Assistir a um slasher e ver o ano de produção e lançamento ajuda muito a lançar luz sobre o filme, ajuda a compreender o momento e até as opções estéticas do diretor dentro daquele contexto. Com o cansaço do subgênero ao longo da década de 1980, é de se imaginar que em 1989 já não havia mais tanta inventividade e esses filmes passariam a ser consumidos pelos fãs puramente como diversão, graças principalmente à familiaridade de seus clichês. Neste VIOLÊNCIA E TERROR (1989), de Scott Spiegel, o assassino é possivelmente um rapaz que acabou de sair da prisão e faz uma confusão ao se aproximar da caixa do supermercado, com quem teve um relacionamento no passado (infelizmente o trailer acaba entregando a identidade do assassino, assim como o próprio cartaz original). Esse tal estabelecimento estava fechando e a ideia do dono era fazer uma grande liquidação. Todos os funcionários são convidados a passar a noite trabalhando e mudando os preços para o dia seguinte, um pouco tristes porque estarão desempregados no dia seguinte. Até que começam as mortes. O interessante é que a primeira morte não é vista e a seguinte é muito sutil, o que me fez pensar que VIOLÊNCIA E TERROR seria um slasher sem muito grafismo. Mas eu estava errado e essas cenas mais gráficas vão surgindo de forma cada vez mais intensa - acho incrível a cena do sujeito que tem a cabeça partida ao meio numa serra de cortar osso de açougue. Se o filme é uma produção Bzona, a equipe de efeitos especiais é um luxo. Me incomodou um pouco a falta de habilidade do diretor nas cenas de ação corpo a corpo, no impacto físico mesmo, mas é algo que pode ser relevado em prol da diversão. Visto no box Slashers III.

ESCOLA NOTURNA (Night School)

Um slasher relativamente diferente, até lembrando mais um giallo. As cenas de assassinato são menos gráficas do que o costume, ainda que capriche um bocado no horror nas cenas de ataque do assassino, que sempre usa um capacete fechado e espelhado e uma jaqueta de couro. Enquanto isso, acompanhamos também as buscas do policial (Leonard Mann), cada vez mais indignado com o aumento do número de mulheres decapitadas. Trata-se de um filme bem cuidado nas interpretações (embora isso não seja uma obrigação para o subgênero) e há um capricho visual que contrasta com as imagens mais sujas. Apesar de ser até cultuado, imagino que, para a carreira do inglês Ken Hughes ESCOLA NOTURNA (1981) pode representar uma decadência, já que em sua carreira pregressa ele chegou a trabalhar com astros do primeiro escalão. No elenco deste, destaque para Rachel Ward. Filme visto no box Slashers VII.

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