sexta-feira, setembro 15, 2023

OPPENHEIMER



Pelo visto, os filmes vistos no mês de julho passado ainda estão rendendo. É que acredito que seja necessário falar sobre alguns deles um pouco mais aqui para o blog. As pequenas pílulas que escrevo para o Facebook e Letterboxd funcionam mais como primeiras impressões e que eu, muito inteligentemente (“não contavam com minha astúcia”), aproveito como um P.S. do texto principal. E OPPENHEIMER (2023), de Christopher Nolan, não podia ficar de fora, pois, gostando-se ou não do filme ou do diretor, trata-se, sim, de uma das produções mais importantes do ano, principalmente no quanto repercutiu na já histórica estreia simultânea com BARBIE, de Greta Gerwig.

Pois bem. A estreia de OPPENHEIMER coincidiu com minha chegada a São Paulo durante as férias. E guardo com carinho as circunstâncias em que o vi, ao lado dos queridos Michel e Cris. Digo, não tão ao lado assim, pois não havia mais assento próximo a eles no ato da compra do ingresso, mas passei por todo o corre-corre de chegar em cima da hora à sessão, com Michel correndo contra o tempo como num suspense automobilístico a fim de pegar a Cris e chegarmos na hora no Shopping JK Iguatemi, espaço de vendas mais elitizado da megalópole e possível detentora da melhor projeção do Brasil (será?): a sala IMAX de lá, pertencente ao grupo Cinépolis. A disposição das cadeiras de lá é perfeita, mas acho que já escrevi sobre isso no texto sobre a viagem a Sampa. E foi muito legal ver tanta gente fazendo do cinema uma prioridade para suas vidas. 

Quanto ao filme, e principalmente quanto a Nolan, costumo brincar dizendo que divido os títulos do diretor entre aqueles que me fazem dormir e aqueles que conseguem me deixar acordado. Claro que há toda uma questão envolvendo minhas crises alérgicas, mas não deixa de ser curioso o número grande de produções que funcionaram como soporífero para mim. São elas: BATMAN BEGINS (2005), O GRANDE TRUQUE (2006), BATMAN – O CAVALEIRO DAS TREVAS (2008), A ORIGEM (2010) e DUNKIRK (2017). Os demais são filmes que me atraem ou me repelem – lembro de ter saído muito irritado da sessão de AMNÉSIA (2000), por exemplo.

Felizmente, OPPENHEIMER não me deu sono e por isso já dou um crédito ao filme. E nem sei dizer se é mérito da montagem, que tenta o tempo todo deixar o espectador interessado numa trama cheia de conversas (a maioria, entre homens engravatados) sobre física, política e ética. Nada mais justo para um filme que quer contar a história de um dos mentores da bomba atômica, J. Robert Oppenheimer (1904-1967), um homem que tem uma história interessante de vida, se pensarmos no horror que foram as terríveis bombas em Hiroshima e Nagazaki, e quando ele foi “cancelado” pelo macarthismo, depondo perante a Comissão de Atividades Antiamericanas. Um simples passeio pelo Wikipedia pelo verbete do cientista nos dá uma ideia da quantidade de detalhes e do grande número de pessoas envolvidas, o que não deixa de ser uma ótima desculpa para as três horas de duração do filme e pela montagem que no início causa um pouco de enjoo. Aliás, interessante como Nolan é obcecado por questões narrativas complexas, embora ele nem sempre seja bem-sucedido nisso. No fundo, ele é só mais um cineasta ligado à narrativa clássica mesmo. Não que isso seja um problema: longe disso. 

Uma das coisas que mais passei a apreciar em Nolan, porém, foi sua cruzada pela valorização da experiência do cinema na sala escura. E isso me ajudou até a gostar mais de seus trabalhos – fui na contramão de quase todo mundo e gostei de TENET (2020), talvez por vê-lo durante aquele período difícil que foi o primeiro ano da pandemia. De uns tempos para cá, ele ganhou a alcunha de grande guardião do IMAX e do uso da película em 70 mm, o que resulta em imagens que se diferenciam das que estamos acostumados a ver no cinema contemporâneo.

Sobre o filme em si, Cillian Murphy está ótimo no papel-título, ora passando um ar quase psicopata de anjo da destruição, ora carregando nos ombros a culpa pela destruição de duas cidades inteiras do Japão. Há uma cena em que um grupo de homens discute quais cidades destruir que me impressionou muito, me causou mal-estar. Um deles diz que simpatiza com a cidade tal, pois passou férias agradáveis com sua família um tempo atrás.

Senti falta de um maior aprofundamento nas questões afetivas do protagonista com as duas mulheres que passam por sua vida (vividas por Florence Pugh e Emily Blunt), mas já é de se esperar de alguém que age mais de maneira racional que emocional, como Nolan. Outra coisa muito esperada era o momento do lançamento das bombas em si, que o filme não mostra, o que considero pelo menos ético, mas há toda a repercussão nos jornais, com notícias que demoram a chegar. O que havia também era a expectativa pela cena da explosão da bomba no deserto americano, nos testes em Los Alamos. Outro ponto positivo do filme – talvez o maior – é o quanto ele explora bem o espírito da época, os sombrios anos 1940, tão carregados de medos ocasionados por guerra, bomba atômica, corrida armamentista, espionagem, caça às bruxas etc., que mataram, destruíram e traumatizaram gerações.

No quesito dinheiro, OPPENHEIMER ultrapassou GUARDIÕES DA GALÁXIA VOL. 3 e se tornou a terceira maior bilheteria de 2023. Os primeiros lugares seguem pertencendo a BARBIE e SUPER MAIOR BROS. Não creio que o filme de Nolan teria um resultado tão bom se não fosse o “efeito Barbenheimer”.

+ DOIS FILMES

OLDBOY (Oldeuboi)

Algumas coisas me incomodaram nesta revisão de OLDBOY (2003), de Park Chan-woo. Primeiro, usar um clássico de Vivaldi para ilustrar aquelas duas cenas de retiradas de dentes à força me pareceu meio de mau gosto. Também vi como desproporcional o gesto do protagonista no final, embora ache válido querer fazer uma espécie de "atualização" de um certo mito grego. Assim, aproximar o filme de uma tragédia grega é louvável. Sou, talvez, voto vencido quando digo que Park teve uma evolução ao longo dos anos: prefiro seus filmes dos anos 2010 que os da década anterior. Ele foi afinando seu estilo e trabalhando melhor a beleza plástica. Mas é inegável o quanto várias cenas tornaram o filme um clássico e um dos mais importantes do que podemos chamar de era de ouro do cinema sul-coreano. Como minha opinião sobre o filme não mudou muito com relação à primeira vez que o vi, o texto de 2005 ainda segue valendo.

CASEI-ME COM UM MONSTRO (I Married a Monster from Outer Space)

Óbvio herdeiro do maravilhoso VAMPIROS DE ALMAS, de Don Siegel, que também era uma produção B, mas com muito mais ambição. Este aqui é mais modesto até na ambientação: a trama se passa exclusivamente numa pequena cidade do interior, onde um grupo de extraterrestres se apossa do corpo de homens. CASEI-ME COM UM MONSTRO (1958), de Gene Fowler Jr., mostra o ponto de vista de uma das mulheres, que percebe que seu marido não é mais o mesmo e busca ajuda. O que me deixou mais surpreso no filme foi o quanto ele pode ter inspirado as ideias que a Marvel trouxe para a invasão dos skrulls, que guardam os corpos humanos num suporte de vida. Nem sei se outro filme ou outra ficção em literatura teve essa ideia antes, mas se foi esta sci-fi modesta, eu tiro o chapéu. Além do mais, gosto de como o filme chega perto de aprofundar uma relação próxima de apego da mulher com aquele homem modificado e aprendendo com os sentimentos dos seres humanos. Filme visto no box Clássicos Sci-Fi – Anos 50 Vol. 2.

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