Assim como no ano passado, neste ano consegui ver todos os curtas-metragens indicados ao Oscar nas três, categorias: live action, documentário e animação. Gostei de todos os filmes de ficção live action, mas os demais praticamente não gostei, excetuando um ou outro. Comentários rápidos sobre cada um, abaixo.
Live action
ON MY MIND
Tenho conversado com meus alunos nas últimas aulas em que trago música sobre o poder de uma "simples" canção de cerca de três minutos de duração e de como algumas dessas se tornam tão cheias de sentimentos profundos e tão duradouros que parecem eternos. Neste curta dinamarquês, temos um homem que deseja cantar uma canção clássica do repertório de Elvis Presley para sua esposa em um bar vazio e com um karaokê (mais ou menos) disponível. ON MY MIND (2021), de Martin Strange-Hansen, é muito simples em sua proposta, e muito sensível em abordar o sentimento desse homem e de como emoções conflitantes e talvez até alguns remorsos podem povoar sua mente, ao lembrar da esposa e recitar a letra da canção que faz a alma voar.
PLEASE HOLD
A comparação com BLACK MIRROR é bem válida, pois temos aqui também a tecnologia agindo como agente do terror. E há uma relação direta com o nosso momento e a nossa relação com a "inteligência" artificial. Quantas vezes não odiamos aqueles robôs que atendem as chamadas e não entendem o que dizemos? No caso do drama do protagonista de PLEASE HOLD (2020), de KD Dávila, a coisa ainda é mais perturbadora, pois ele é preso por robôs e sequer sabe o motivo de sua prisão.
ALA KACHUU - TAKE AND RUN
Quando o curta não tem muita força na direção, é interessante que ele se justifique como obra política relevante. E talvez seja o caso de ALA KACHUU - TAKE AND RUN (2021), de Maria Brendle, embora não seja um filme mal dirigido. Mas a questão da mulher que é sequestrada para se casar contra a sua vontade em um povoado do Quirguistão é algo que merece ser gritado para todos os cantos do mundo, de modo que absurdos como esse deixem de acontecer. Na trama, Sezim é uma jovem que sonha em estudar na faculdade e sair de seu povoado. Para isso, faz uma prova para conseguir fazer seu curso com uma bolsa de estudos. Infelizmente, alguém a escolhe como noiva. A duração de 38 minutos passa a impressão de vermos a prévia de um longa e não um curta, e não digo isso como um demérito. Eu continuaria vendo o filme com bastante prazer caso a história continuasse a ser contada por mais uma hora e meia.
THE LONG GOODBYE
Em tempos de ascensão dos grupos de extrema direita, um filme como este se faz necessário. E como se já não fosse muito poderoso criar uma espécie de distopia em que os brancos passam a matar à queima-roupa pessoas de diferentes etnias, ainda temos a força do rap como aliado. Riz Ahmed, que, além de ótimo ator, ainda é um rapper, usa os minutos finais deste curta para mostrar sua indignação mais do que justificada. Os brancos invadem diferentes países e territórios na Ásia, na África e nas Américas para depois vir expulsar, diminuir e matar aquelas pessoas que, agora nascidas em países como Estados Unidos e Inglaterra, são consideradas estrangeiras e nada bem-vindas. THE LONG GOODBYE (2020), de Aneil Karia, foi o vencedor na categoria.
THE DRESS (Sukienka)
Um filme um tanto arriscado este THE DRESS (2020), de Tadeusz Lysiak, pois poderia trazer uma impressão de pena da protagonista por parte de alguns espectadores. Ela é uma jovem anã carente de afeto e que nunca foi para a cama com um homem (ou mulher) até então. Equilibrando-se nessa corda-bamba, o jovem diretor polonês conta, com segurança e cuidado, em sua meia hora de duração, um recorte da vida dessa moça - sua mudança de humor quando recebe o flerte de um jovem caminhoneiro, sua indignação e desgosto por não ser uma pessoa "normal", seguido do sentimento de busca de uma autoconfiança necessária para que ela possa ser minimamente bem-sucedida em seus anseios. E, nesse sentido, é fácil se identificar com ela, já que o filme nos aproxima mais de seus dramas e de suas dores.
Documentário
ONDE EU MORO (Lead Home)
Para uma seleção de documentários em curta-metragem pouco atraentes, até que eu achei bonito este ONDE EU MORO (2021), de Pedro Kos e Jon Shenk, que pode funcionar como uma reflexão sobre o abismo existente entre os ricos e os miseráveis dentro da sociedade americana. Ver isso acontecendo em três das cidades mais ricas da Califórnia é entender que o sistema capitalista errou, e errou feio. O filme nos apresenta a um grupo de pessoas que vivem nas ruas, por uma série de razões, mas a principal delas é, claro, a falta de dinheiro, a impossibilidade de conseguir o aluguel e de se alimentar ao mesmo tempo. Muito interessante o fato de o filme acompanhar também a vida afetiva de alguns deles, mostrar que ela existe, apesar das circunstâncias. Por mais que não seja um documentário brilhante, só de cutucar a ferida já vale.
WHEN WE WERE BULLIES
Alguns amigos e colegas de trabalho costumam dizer que essa atual preocupação com o bullying nas escolas é bobagem, que a gente viveu isso e que estamos vivos e bem. Será que estamos bem? Algumas memórias ficam apagadas, de fato, especialmente de quando fomos crianças. Só aquelas mais marcantes ficam presentes. E foi com essa sensibilidade que o diretor de WHEN WE WERE BULLIES (2021), Jay Rosenblatt, resolveu fazer um filme sobre um comportamento que ele lamenta ter cometido quando estava na quinta série, de ter agredido um colega de classe, juntamente com outros colegas seus. No filme, ele entra em contato com os colegas dessa turma e muitos esqueceram de quase tudo dessa época, mas a maioria lembra desse garoto que sofreu bullying. O modo como o diretor tece a trama é muito instigante e me deixou interessado em ver em que ponto seu filme chegaria. O uso de técnica de animação artesanal com as fotos das crianças e imagem de filmes antigos ajuda a juntar as peças. Considero um dos melhores filmes da categoria.
TRÊS CANÇÕES PARA BENAZIR (Three Songs for Benazir)
Seguindo a tendência de documentários em curta-metragem fracos da temporada do Oscar, este aqui, disponível na Netflix, apresenta, em um registro próximo da ficção, a história de um jovem homem casado que mora em um abrigo e não consegue se alistar no exército pois sua família acredita que é uma má ideia. E talvez eles tenham razão. TRÊS CANÇÕES PARA BENAZIR (2021), de Elizabeth Mirzaei e Gulistan Mirzaei, não funciona como história de amor (ora, se o sujeito ama tanto a esposa, pra que ele quer ir para a guerra?), nem como filme de protesto frente à situação sempre de desvantagem e desgraça do povo afegão (já foram alvo dos russos, dos talibãs e dos americanos). Há um quê de cinema iraniano, mas a dupla de cineastas precisa se esforçar muito para chegar pelo menos ao padrão médio do cinema feito no Irã.
THE QUEEN OF BASKETBALL
É impressão minha ou esses documentários em curta-metragem selecionados para o Oscar deste ano estão bem fracos? Até tive sentimentos mistos em relação a este aqui, sobre uma das primeiras jogadoras de basquete dos Estados Unidos a ter uma repercussão mundial. Como não ligo muito para o esporte, o que mais me pegou no filme foi a questão da passagem do tempo e das sequelas que as doenças causam no corpo ao longo dos anos, de como uma pessoa pode passar de um estágio de saúde forte (dentro do esporte) a uma situação de fragilidade. THE QUEEN OF BASKETBALL (2021), de Ben Proudfoot, também enfatiza a questão do machismo e da demora de se criar e patrocinar uma liga de basquete feminina nos Estados Unidos. Este filme foi o vencedor da categoria.
AUDIBLE
Antes de mais nada, pra que um curta de 39 minutos? Continua sendo curta? Provável que sim. Mas a minha reclamação talvez não tenha a ver com duração, mas como este filme se esforça para emocionar e a mim não conseguiu em nenhum momento. O que me trouxe de novo foi perceber um mundo diferente, o de jovens jogadores de futebol (americano) surdos. AUDIBLE (2021), de Matthew Ogens, foca em alguns poucos membros desse time e passa aquela lição de que não podemos desistir por perder um jogo, que podemos nos esforçar para vencer o próximo. Essa coisa do jogo, como metáfora da vida, até tem algum sentido, mas é bom sempre a gente lembrar que sempre que há um vencedor, há do outro lado um perdedor. É praticamente uma lógica do capitalismo. Mas talvez falar essas coisas só denunciem que não tenho um espírito competitivo muito forte. E talvez por isso não me ligue em jogos, esportes etc. O que não quer dizer que em bons filmes de esporte eu não possa torcer por alguém.
Animação
AFFAIRS OF THE ART
Não me entusiasmei muito com este AFFAIRS OF THE ART (2021), de Joanna Quinn, mas talvez tenha me faltado algo próximo à identificação com a protagonista, a mulher que desde criança adora desenhar e pintar e que segue fazendo isso obsessivamente, agora que é casada e tem um filho. A animação é bem interessante - parece pintura à guache ou coisa do tipo. Tanto que fiquei tão ligado na singularidade da animação que me perdi na rapidez da narrativa. Por causa disso é bem capaz que seja um filme que cresça com a revisão. O difícil é eu querer rever.
BOXBALLET
A história de uma relação quase improvável durante os últimos anos da União Soviética entre uma bailarina delicada de musicais clássicos e um boxeador grosseiro e de rosto arrebentado de tanto apanhar nas lutas. Não achei a animação envolvente e na verdade fiquei me perguntando qual seria o critério para a escolha desses filmes. De todo modo, BOXBALLET (2021), de Anton Dyakov, é um curta simpático e que celebra a união das diferenças, ou apesar das diferenças. Além do mais, do ponto de vista técnico, é uma animação com personalidade.
THE WINDSHIELD WIPER
Interessante e bonito este curta indicado a melhor animação. É uma obra bem adulta e reflexiva sobre o amor romântico. Um homem escuta conversas sobre relacionamentos que não funcionam em um café e talvez ele seja o alter-ego do diretor Alberto Mielgo. Ao final do filme, ficamos sabendo que as pequenas histórias apresentadas foram inspiradas em conversas ouvidas em cafés e restaurantes em diversas cidades do mundo. Essa coisa mais globalizada aparece também nos lugares. Há desde alguém que se suicida por causa da solidão ou do fracasso no amor, passando pelo casal que olha o mar calado (a moça seminua ajuda a tornar os aspectos mais carnais da relação bem importante), pelo mendigo que, no fundo do poço, confunde uma manequim com sua ex-esposa etc. Destaque para as belas pinturas que combinam com o clima de desencanto do filme. THE WINDSHIELD WIPER (2021) foi o vencedor na categoria.
BESTIA
Tive que rever imediatamente depois da primeira vez, por causa da minha dificuldade de acompanhar histórias sem falas (minha mente passa a se dispersar). Além do mais, BESTIA (2021), de Hugo Covarrubias, também possui muitos hiatos temporais, muito mistério (auxiliado pela trilha sonora) e há coisas muito importantes sobre o filme que só se fica sabendo através de artigos ou entrevistas, como o fato de ser uma obra sobre uma torturadora real da época da ditadura de Pinochet. Em vez de focar em aspectos mais políticos ou mesmo nas torturas de maneira mais explícita, o filme nos apresenta à mente perturbada da protagonista e também à sua rotina de vida com seu cachorro. Aliás, as coisas envolvendo o cachorro são talvez as mais chocantes do filme. Achando muito interessante essa seleção de curtas mais adultos do Oscar 2022.
A SABIÁ SABIAZINHA (Robin Robin)
Eis um filme muito bonitinho sobre um passarinho (na tradução brasileira chamam de sabiá, mas acho que em inglês é outro pássaro - acho) e esse passarinho fêmea, desde que nasceu, é criado por uma família de ratos. Ela cresce aprendendo a fazer coisas que os ratos fazem, como ser cuidadosa em roubar coisas das casas dos humanos, mas não aprende a voar, por exemplo. A SABIÁ SABIAZINHA (2021), de Dan Ojari e Michael Please, tem pelo menos dois momentos de suspense muito bons, que lembram thrillers de roubo. E há uma gata como vilã da história, vivida por Gillian Anderson. Aliás, uma coisa que sempre me deixa encucado, por que nas animações os gatos são sempre vilões? Ou quase sempre, sei lá. Curta presente na Netflix.
PLEASE HOLD
A comparação com BLACK MIRROR é bem válida, pois temos aqui também a tecnologia agindo como agente do terror. E há uma relação direta com o nosso momento e a nossa relação com a "inteligência" artificial. Quantas vezes não odiamos aqueles robôs que atendem as chamadas e não entendem o que dizemos? No caso do drama do protagonista de PLEASE HOLD (2020), de KD Dávila, a coisa ainda é mais perturbadora, pois ele é preso por robôs e sequer sabe o motivo de sua prisão.
ALA KACHUU - TAKE AND RUN
Quando o curta não tem muita força na direção, é interessante que ele se justifique como obra política relevante. E talvez seja o caso de ALA KACHUU - TAKE AND RUN (2021), de Maria Brendle, embora não seja um filme mal dirigido. Mas a questão da mulher que é sequestrada para se casar contra a sua vontade em um povoado do Quirguistão é algo que merece ser gritado para todos os cantos do mundo, de modo que absurdos como esse deixem de acontecer. Na trama, Sezim é uma jovem que sonha em estudar na faculdade e sair de seu povoado. Para isso, faz uma prova para conseguir fazer seu curso com uma bolsa de estudos. Infelizmente, alguém a escolhe como noiva. A duração de 38 minutos passa a impressão de vermos a prévia de um longa e não um curta, e não digo isso como um demérito. Eu continuaria vendo o filme com bastante prazer caso a história continuasse a ser contada por mais uma hora e meia.
THE LONG GOODBYE
Em tempos de ascensão dos grupos de extrema direita, um filme como este se faz necessário. E como se já não fosse muito poderoso criar uma espécie de distopia em que os brancos passam a matar à queima-roupa pessoas de diferentes etnias, ainda temos a força do rap como aliado. Riz Ahmed, que, além de ótimo ator, ainda é um rapper, usa os minutos finais deste curta para mostrar sua indignação mais do que justificada. Os brancos invadem diferentes países e territórios na Ásia, na África e nas Américas para depois vir expulsar, diminuir e matar aquelas pessoas que, agora nascidas em países como Estados Unidos e Inglaterra, são consideradas estrangeiras e nada bem-vindas. THE LONG GOODBYE (2020), de Aneil Karia, foi o vencedor na categoria.
THE DRESS (Sukienka)
Um filme um tanto arriscado este THE DRESS (2020), de Tadeusz Lysiak, pois poderia trazer uma impressão de pena da protagonista por parte de alguns espectadores. Ela é uma jovem anã carente de afeto e que nunca foi para a cama com um homem (ou mulher) até então. Equilibrando-se nessa corda-bamba, o jovem diretor polonês conta, com segurança e cuidado, em sua meia hora de duração, um recorte da vida dessa moça - sua mudança de humor quando recebe o flerte de um jovem caminhoneiro, sua indignação e desgosto por não ser uma pessoa "normal", seguido do sentimento de busca de uma autoconfiança necessária para que ela possa ser minimamente bem-sucedida em seus anseios. E, nesse sentido, é fácil se identificar com ela, já que o filme nos aproxima mais de seus dramas e de suas dores.
Documentário
ONDE EU MORO (Lead Home)
Para uma seleção de documentários em curta-metragem pouco atraentes, até que eu achei bonito este ONDE EU MORO (2021), de Pedro Kos e Jon Shenk, que pode funcionar como uma reflexão sobre o abismo existente entre os ricos e os miseráveis dentro da sociedade americana. Ver isso acontecendo em três das cidades mais ricas da Califórnia é entender que o sistema capitalista errou, e errou feio. O filme nos apresenta a um grupo de pessoas que vivem nas ruas, por uma série de razões, mas a principal delas é, claro, a falta de dinheiro, a impossibilidade de conseguir o aluguel e de se alimentar ao mesmo tempo. Muito interessante o fato de o filme acompanhar também a vida afetiva de alguns deles, mostrar que ela existe, apesar das circunstâncias. Por mais que não seja um documentário brilhante, só de cutucar a ferida já vale.
WHEN WE WERE BULLIES
Alguns amigos e colegas de trabalho costumam dizer que essa atual preocupação com o bullying nas escolas é bobagem, que a gente viveu isso e que estamos vivos e bem. Será que estamos bem? Algumas memórias ficam apagadas, de fato, especialmente de quando fomos crianças. Só aquelas mais marcantes ficam presentes. E foi com essa sensibilidade que o diretor de WHEN WE WERE BULLIES (2021), Jay Rosenblatt, resolveu fazer um filme sobre um comportamento que ele lamenta ter cometido quando estava na quinta série, de ter agredido um colega de classe, juntamente com outros colegas seus. No filme, ele entra em contato com os colegas dessa turma e muitos esqueceram de quase tudo dessa época, mas a maioria lembra desse garoto que sofreu bullying. O modo como o diretor tece a trama é muito instigante e me deixou interessado em ver em que ponto seu filme chegaria. O uso de técnica de animação artesanal com as fotos das crianças e imagem de filmes antigos ajuda a juntar as peças. Considero um dos melhores filmes da categoria.
TRÊS CANÇÕES PARA BENAZIR (Three Songs for Benazir)
Seguindo a tendência de documentários em curta-metragem fracos da temporada do Oscar, este aqui, disponível na Netflix, apresenta, em um registro próximo da ficção, a história de um jovem homem casado que mora em um abrigo e não consegue se alistar no exército pois sua família acredita que é uma má ideia. E talvez eles tenham razão. TRÊS CANÇÕES PARA BENAZIR (2021), de Elizabeth Mirzaei e Gulistan Mirzaei, não funciona como história de amor (ora, se o sujeito ama tanto a esposa, pra que ele quer ir para a guerra?), nem como filme de protesto frente à situação sempre de desvantagem e desgraça do povo afegão (já foram alvo dos russos, dos talibãs e dos americanos). Há um quê de cinema iraniano, mas a dupla de cineastas precisa se esforçar muito para chegar pelo menos ao padrão médio do cinema feito no Irã.
THE QUEEN OF BASKETBALL
É impressão minha ou esses documentários em curta-metragem selecionados para o Oscar deste ano estão bem fracos? Até tive sentimentos mistos em relação a este aqui, sobre uma das primeiras jogadoras de basquete dos Estados Unidos a ter uma repercussão mundial. Como não ligo muito para o esporte, o que mais me pegou no filme foi a questão da passagem do tempo e das sequelas que as doenças causam no corpo ao longo dos anos, de como uma pessoa pode passar de um estágio de saúde forte (dentro do esporte) a uma situação de fragilidade. THE QUEEN OF BASKETBALL (2021), de Ben Proudfoot, também enfatiza a questão do machismo e da demora de se criar e patrocinar uma liga de basquete feminina nos Estados Unidos. Este filme foi o vencedor da categoria.
AUDIBLE
Antes de mais nada, pra que um curta de 39 minutos? Continua sendo curta? Provável que sim. Mas a minha reclamação talvez não tenha a ver com duração, mas como este filme se esforça para emocionar e a mim não conseguiu em nenhum momento. O que me trouxe de novo foi perceber um mundo diferente, o de jovens jogadores de futebol (americano) surdos. AUDIBLE (2021), de Matthew Ogens, foca em alguns poucos membros desse time e passa aquela lição de que não podemos desistir por perder um jogo, que podemos nos esforçar para vencer o próximo. Essa coisa do jogo, como metáfora da vida, até tem algum sentido, mas é bom sempre a gente lembrar que sempre que há um vencedor, há do outro lado um perdedor. É praticamente uma lógica do capitalismo. Mas talvez falar essas coisas só denunciem que não tenho um espírito competitivo muito forte. E talvez por isso não me ligue em jogos, esportes etc. O que não quer dizer que em bons filmes de esporte eu não possa torcer por alguém.
Animação
AFFAIRS OF THE ART
Não me entusiasmei muito com este AFFAIRS OF THE ART (2021), de Joanna Quinn, mas talvez tenha me faltado algo próximo à identificação com a protagonista, a mulher que desde criança adora desenhar e pintar e que segue fazendo isso obsessivamente, agora que é casada e tem um filho. A animação é bem interessante - parece pintura à guache ou coisa do tipo. Tanto que fiquei tão ligado na singularidade da animação que me perdi na rapidez da narrativa. Por causa disso é bem capaz que seja um filme que cresça com a revisão. O difícil é eu querer rever.
BOXBALLET
A história de uma relação quase improvável durante os últimos anos da União Soviética entre uma bailarina delicada de musicais clássicos e um boxeador grosseiro e de rosto arrebentado de tanto apanhar nas lutas. Não achei a animação envolvente e na verdade fiquei me perguntando qual seria o critério para a escolha desses filmes. De todo modo, BOXBALLET (2021), de Anton Dyakov, é um curta simpático e que celebra a união das diferenças, ou apesar das diferenças. Além do mais, do ponto de vista técnico, é uma animação com personalidade.
THE WINDSHIELD WIPER
Interessante e bonito este curta indicado a melhor animação. É uma obra bem adulta e reflexiva sobre o amor romântico. Um homem escuta conversas sobre relacionamentos que não funcionam em um café e talvez ele seja o alter-ego do diretor Alberto Mielgo. Ao final do filme, ficamos sabendo que as pequenas histórias apresentadas foram inspiradas em conversas ouvidas em cafés e restaurantes em diversas cidades do mundo. Essa coisa mais globalizada aparece também nos lugares. Há desde alguém que se suicida por causa da solidão ou do fracasso no amor, passando pelo casal que olha o mar calado (a moça seminua ajuda a tornar os aspectos mais carnais da relação bem importante), pelo mendigo que, no fundo do poço, confunde uma manequim com sua ex-esposa etc. Destaque para as belas pinturas que combinam com o clima de desencanto do filme. THE WINDSHIELD WIPER (2021) foi o vencedor na categoria.
BESTIA
Tive que rever imediatamente depois da primeira vez, por causa da minha dificuldade de acompanhar histórias sem falas (minha mente passa a se dispersar). Além do mais, BESTIA (2021), de Hugo Covarrubias, também possui muitos hiatos temporais, muito mistério (auxiliado pela trilha sonora) e há coisas muito importantes sobre o filme que só se fica sabendo através de artigos ou entrevistas, como o fato de ser uma obra sobre uma torturadora real da época da ditadura de Pinochet. Em vez de focar em aspectos mais políticos ou mesmo nas torturas de maneira mais explícita, o filme nos apresenta à mente perturbada da protagonista e também à sua rotina de vida com seu cachorro. Aliás, as coisas envolvendo o cachorro são talvez as mais chocantes do filme. Achando muito interessante essa seleção de curtas mais adultos do Oscar 2022.
A SABIÁ SABIAZINHA (Robin Robin)
Eis um filme muito bonitinho sobre um passarinho (na tradução brasileira chamam de sabiá, mas acho que em inglês é outro pássaro - acho) e esse passarinho fêmea, desde que nasceu, é criado por uma família de ratos. Ela cresce aprendendo a fazer coisas que os ratos fazem, como ser cuidadosa em roubar coisas das casas dos humanos, mas não aprende a voar, por exemplo. A SABIÁ SABIAZINHA (2021), de Dan Ojari e Michael Please, tem pelo menos dois momentos de suspense muito bons, que lembram thrillers de roubo. E há uma gata como vilã da história, vivida por Gillian Anderson. Aliás, uma coisa que sempre me deixa encucado, por que nas animações os gatos são sempre vilões? Ou quase sempre, sei lá. Curta presente na Netflix.
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