domingo, novembro 07, 2021
COMPANHEIROS, QUASE UMA HISTÓRIA DE AMOR (Tian Mi Mi)
É interessante como a “descoberta” de certos filmes parte de diferentes meios. Seja através da busca de mais filmes de determinado diretor (ou até atriz ou ator) de que gostamos, seja por indicações em listas de melhores filmes do ano (ou da década) ou realizada por algum crítico de cinema renomado. E há também aqueles filmes que despontam em destaque em listas feitas por críticos amigos que a gente respeita. No caso, COMPANHEIROS, QUASE UMA HISTÓRIA DE AMOR (1996), de Peter Chan, costumou aparecer com frequência em algumas listas e destaques do amigo Chico Fireman. E vale lembrar que esse filme integrou uma retrospectiva sobre o cinema de Hong Kong realizada em São Paulo, com curadoria de Filipe Furtado, e acabou ganhando certa popularidade.
E é fácil que um filme como este ganhe popularidade. É muito mais acessível para um público maior que os filmes de Wong Kar-wai ou Johnnie To, por exemplo. COMPANHEIROS... tem um viés mais clássico, do ponto de vista narrativo, mas não clássico no sentido de autocontido, de pouco romântico. Na verdade, há cenas com arroubos dramáticos lindíssimos, com uso de música e cenas de partir o coração. A fotografia também tem um tipo de luz especial, como se houvesse uma aura mágica em torno dos personagens. Inclusive, gosto muito de como, na primeira parte do enredo, em vários momentos vemos apenas os dois protagonistas, com uma quase ausência de fundo.
Temos aqui uma história que se passa em um período de tempo de cerca de dez anos, e em cuja primeira metade se constrói a relação de amor e amizade entre o rapaz (Leon Lai) e a moça (Maggie Cheung), ambos saídos da China continental para tentar a sorte em Hong Kong. Eles se tornam melhores amigos, mas seus objetivos de vida são diferentes. Enquanto ele, Xiaojun Li, chega a Hong Kong com o objetivo de ganhar dinheiro para poder, futuramente, se casar com a noiva que ficou na China, ela, Qiao Li, tem mais ambições, naquela espécie de oásis do consumismo.
O filme começa com a chegada de Xiaojun na estação, sofrendo muito para se comunicar, já que as pessoas de Hong Kong não entendem o seu mandarim e o tratam como uma espécie de caipira. Ele conhece então a bela e desenrolada Qiao, que o ajuda a entrar em um curso de inglês (o professor é vivido pro Christopher Doyle) e a ir se adaptando àquele novo mundo. Xiaojun se abriga na casa de uma tia, uma mulher que coordena um bordel e que tem saudades do astro americano William Holden, que teria conhecido na época em que ele esteve em HK para atuar em SUPLÍCIO DE UMA SAUDADE.
A trama do filme começa em 1986, um momento positivo para quem fazia suas economias em Hong Kong, como era o caso de Qiao, que ficava feliz ao tirar o seu extrato bancário e acreditar que estaria ficando rica. A festa acaba no ano seguinte, com a quebra da Bolsa de Valores e quando a moça precisa trabalhar ainda mais para conseguir se manter, aceitando um trabalho de massagista. Esse pano de fundo político e econômico é importante para nos situar naquele espaço e tempo, mas o aspecto principal segue sendo a relação entre os dois, que vai evoluindo para uma atração física e depois para uma paixão. Como Xiaojun não tem coragem de romper com a namorada, é natural que ocorram atritos e até separações, por mais que a paixão entre eles seja nítida e intensa.
Muito da força do filme está no quanto Peter Chan e sua roteirista Ivy Ho tratam com sensibilidade a evolução do relacionamento e da química do casal. Assim, nas quase duas horas de duração torcemos o tempo todo por eles. E quanto mais surgem obstáculos, mais a vontade de vê-los juntos novamente aumenta. Aliás, isso é uma regra básica de histórias de amor: é preciso haver obstáculos para que elas funcionem, seja para aquecer nossos corações, seja para parti-los. E Chan e Ho sabem fazer isso muito bem, aliando comédia e melodrama de modo encantador.
Agradecimentos a Paula pela companhia durante a sessão.
+ DOIS FILMES
UMA HISTÓRIA DE FAMÍLIA (Family Romance, LLC)
A aproximação de Werner Herzog com o documentário foi tão intensa nos últimos anos que fica difícil não associar a linguagem deste filme com a de um documentário. Seja pelo tipo de imagem digital usada, seja pelas escolhas onde posicionar a câmera ou o trabalho de edição, que às vezes lembra o de uma matéria jornalística. Na trama de UMA HISTÓRIA DE FAMÍLIA (2019), homem que trabalha em uma empresa de realização de sonhos, é pago para representar o pai de uma adolescente. Ao mesmo tempo, também vamos acompanhando outros casos que a firma vai aceitando, e nisso o filme vai nos mostrando um mundo de pura ilusão e mentira, onde tudo que é necessário para a alegria precisa ser comprado ou contratado. Em alguns momentos achei que o filme ia abraçar situações mais íntimas, por assim dizer, entre os personagens, mas, até por se passar no Japão, Herzog opta pelo distanciamento físico. É um filme de desilusão, em que até o ato de abraçar parece um problema.
DE VOLTA PARA CASA (Coming Home Again)
Wayne Wang adapta, junto com o próprio autor do texto original, o sul-coreano Chang-Rae Lee, a história muito íntima e sensível, de quando Lee acompanhou os últimos dias de vida de sua mãe, com câncer no estômago. A história é contada de maneira paradoxalmente fria (no interesse do cineasta em usar tons frios nos interiores e ter um cuidado em cada plano) e ao mesmo tempo emotiva, já que está lidando com a memória e também com uma presença que logo se transformará em ausência. Em DE VOLTA PARA CASA (2019), o protagonista resolve abandonar o emprego para se dedicar exclusivamente à mãe. Há alguns momentos bem dolorosos.
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